Repórter da Quebrada: Amadurecemos um método de fazer jornalismo nas margens e atravessamos pontes

Repórter da Quebrada: Amadurecemos um método de fazer jornalismo nas margens e atravessamos pontes

Em 2022, revisitamos o modo de fazer de jornalismo e compartilhamos com o mundo - das periferias e quilombos às universidades

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Em 2022, a Periferia em Movimento aperfeiçou a metodologia “Repórter da Quebrada”, que há 13 anos vem sendo pensada, desenvolvida e colocada em prática com experiências da produção jornalística marginal a partir das quebradas paulistanas. Ao todo, mais de 650 pessoas se envolveram ou foram diretamente impactadas pelos processos de aprendizagem realizados pela iniciativa.

E neste ano, demos sequência ao primeiro programa de residência, que teve duração de 14 meses. Um grupo de jovens repórteres passou por formação e acompanhamento de profissionais especialistas na produção de diversas reportagens. Confira aqui.

O processo em si é constituído por várias práticas da Periferia em Movimento. Entre eles, está a Morada das Histórias. Trata-se de um ciclo de encontros de aprendizagem pensado pela equipe e aberto à comunidade.

Em fevereiro, debatemos moradia e política habitacional e as relações com aspectos subjetivos e objetivos na vida das pessoas. Contamos com as participações de Diogo Menezes, fundador do Grupo Palha e Mege – Design Sustentável e co-fundador da Rede Permaperifa; Isadora Guerreiro, professora na FAU-USP e pesquisadora do LabCidade – Espaço Público e Direito à Cidade; e Ricardo Negro, jovem da periferia de São Paulo, pintor e como se auto-intitula “arteiro”, iniciou a carreira artística no ano de 2004 com graffiti. O resultado foi a produção da série de reportagens Aonde mora o afeto?.

Em março, discutimos como pessoas que moram nas quebradas tentam recriar padrões ditados pela indústria da beleza ou se afirmar de suas próprias identidades, muitas vezes impulsionadas por iniciativas em voga nas próprias periferias. Falamos com Carol Ferreira, atriz, brincante, influenciadora digital e integrante do Coletivo As Furiosas; Jackie Siqueira: maquiadora profissional especialista em pele negra com experiência em atendimentos sociais, eventos, produções audiovisuais e treinamentos; Milena Nascimento, fundadora e diretora criativa da marca de moda marginal MILE LAB; Sara Lidiane, trancista, co-fundadora do Espaço Boombox, empreendedora e artista plástica nas horas vagas; e Neguinho de Favela, stylist do funk e influenciador digital. A partir desse encontro, produzimos a série Beleza pra que te quero?.

E no encontro de maio, tivemos a participação do articulador e co-vereador Alex Barcellos, da psicóloga Cibele Bitencourt e da atriz e arte-educadora Janaína Soares a fim de discutir o tema a partir da perspectiva de pessoas brancas que vivem nas quebradas. A partir da discussão, produzimos a reportagem Cara gente branca periférica.

Revisitando os fazeres

Para melhorar a própria forma de produzir jornalismo, seguimos com os encontros de Comunicação com Cuidado. Em fevereiro, discutimos a xenofobia e os processos de discriminação a migrantes, imigrantes e pessoas refugiadas, com participação de Padre Paolo Parise, coordenador da Missão da Paz, que recebe refugiados no centro de SP; e Lenne Ferreira, jornalista, fundadora do coletivo Afoitas e co-fundadora da Aqualtune Produções. O evento foi transmitido ao vivo pelo youtube e resultou em uma publicação de uma reportagem.

Também promovemos 2 encontros fechados para falar sobre o uso da LAI (Lei de Acesso à Informação) no jornalismo de quebrada, com a participação de Paulo Talarico, editor da Agência Mural de Jornalismo das Periferias; e a respeito da garantia de direitos de crianças e adolescentes na produção jornalística, com a participação Juliana Doretto, jornalista, professora universitária, pesquisadora e co-fundadora da Recria (Rede de Pesquisa em Comunicação, Infâncias e Adolescências); e Mayara Penina, especialista em educação infantil e co-fundadora do Nós, Mulheres da Periferia.

Por fim, a equipe da Periferia em Movimento produziu as 5 vídeoaulas Soltando Dicas. Nelas, falamos sobre fake news, produção em design, áudio, redes, foto e vídeo, que foram publicadas no site e nas mídias sociais, além de serem trabalhadas com iniciativas do território.

Iniciamos também uma pesquisa com o público por meio de encontros de educação midiática para mensurar o impacto e aperfeiçoar nossas abordagens, com parcerias estratégias em territórios do Grajaú, Sapopemba e Jaraguá.

Também realizamos mais um Escambo Periférico, dessa vez para o Quilombo de Ivaporunduva, uma comunidade do século 17 na região de Eldorado (SP) onde vivem cerca de 500 pessoas. Passamos 4 dias nesse território em que conhecemos melhor as origens, história, formação política, cultural e meios de subsistência que alimentaram nossas práticas jornalísticas a partir das trocas diretas com ao menos 8 pessoas que vivem na região. Produzimos uma reportagem a várias mãos e olhares, que pode ser acessada aqui.

Registros em livro

A coroação de todo esse processo acontece em setembro, com o lançamento do livro “Repórter da Quebrada – Experimentações marginais nas práticas jornalísticas”, que contou com a organização de Aline Rodrigues. Com distribuição prioritária para quem atua na educação formal ou não formal, a publicação apresenta como a metodologia de educação midiática se materializa nos territórios periféricos e favelados e na sociedade como um todo por meio dos conteúdos jornalísticos produzidos e na ação de fontes consultadas, de pessoas e de iniciativas parceiras.

Nos três primeiros capítulos o livro traz depoimentos de 17 pessoas sobre observação apreciativa dos territórios, articulação para representatividade real nas narrativas e a incidência no campo da comunicação. E no quarto e último capítulo, há um guia prático de oficina para experimentar a metodologia.

Além da entrega em territórios da periferia paulistana, o livro tem viajado a pessoas do Distrito Federal a Jaboatão dos Guararapes (PE); da Lomba do Pinheiro, em Porto Alegre, ao Complexo do Alemão, no Rio; de Itaquaquecetuba (SP) a Governador Valadares (MG). São estudantes, jornalistas, pessoas da pesquisa, da psicologia ou que trabalham com saúde interessadas no material, que pode ser baixado gratuitamente aqui.

Articulação dos Extremos ao Centro

A Periferia em Movimento também atravessou pontes para pautar o jornalismo de quebrada em outros espaços.

Dessa forma, seguimos como parte da comissão organizadora e júri do Prêmio Vladimir Herzog – um dos principais reconhecimentos do jornalismo em direitos humanos do País. Também compusemos o Congresso Abraji, um dos mais importantes encontros do jornalismo brasileiro, dessa vez para mostrar como distribuímos notícias pelo whatsapp.

Participamos de mesas de debate no PraxisJor – III Seminário Internacional Pensar e Fazer Jornalismo, na Semana de Comunicação da FAM – Faculdade das Américas e na Extensão Diversidades e Inclusão em Direitos Humanos – USP.

Também atuamos na articulação da campanha Voto Verde, na elaboração do material “Rotas de Saída”, um guia prático para falar sobre corrupção durante as eleições; e no debate Mídias periféricas e o panorama da periferia na pandemia, como parte das jornadas pelo direito à cidade do Bloco do Beco. E estamos em articulação com coletivos brasileiros para discutir Comunicação e bem-viveres no âmbito da América Latina, além de construir rede com iniciativas de mídia periféricas, quilombolas e indígenas em todo o País.

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