São Paulo, 470 anos: Na cidade-ferida, a cura só pode vir das bordas

São Paulo, 470 anos: Na cidade-ferida, a cura só pode vir das bordas

Um salve da Periferia em Movimento sobre o que deve nortear nossa cobertura a partir das quebradas paulistanas em um ano marcado por eleições municipais

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Hoje, 25 de janeiro, a cidade de São Paulo comemora 470 anos de “fundação” – desde que o jesuíta José de Anchieta resolveu encostar numa aldeia já existente por aqui para catequizar indígenas. De lá pra cá, uma história de escravidão, violência bandeirante, apagamento e marginalização de quem construiu e constrói essa cidade.

É dia de festa, mas da ponte pra cá temos o que comemorar?

Estamos em ano de eleições municipais e, novamente, as periferias são o tema da festa. Será que poderemos escolher a música?

2024 mal começou e já bate aquela sensação de “mais do mesmo”, de “isso de novo” e “lá vamos nós”. A  gente não tinha nem pulado a sétima onda do ano novo e as articulações da política graúda já dominavam a cena. Coisa que já vimos por aí.

Lula selou a volta de Marta Suplicy ao PT para colocá-la como vice na chapa encabeçada por Guilherme Boulos (PSOL), que é líder nas pesquisas de intenção de voto na disputa da Prefeitura de São Paulo mas tem perdido espaço justamente nas periferias.

Ex-prefeita com programas revolucionários para as quebradas, como o Bilhete Único e os CEUs, Marta até então fazia parte da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB), que corre atrás do apoio de Bolsonaro (PL) e seu legado genocida na tentativa de se reeleger em uma peleja que tem nomes como próprio “bolsonarista raiz” Ricardo Salles (PL) e a ex-Vila Missionária Tabata Amaral (PSB).

Reivindicando o título de “primeiro prefeito periférico” por ter crescido no Parque Santo Antônio, Ricardo Nunes tenta ficar mais conhecido de olho nesses votos. Em qualquer esquina mais ou menos movimentada, faixas supostamente colocadas pela população local agradecem às “melhorias” conquistadas por parlamentares da velha direita que fazem parte da base governista e ao próprio titular do poder executivo.

Na vida real, a gente tem que lidar com sucateamento e piora de serviços públicos, como a saúde e a educação; a onda privatista que embeleza mas não melhora o transporte público, encarece até velórios e enterros e ameaça o funcionamento de casas de cultura.

Enquanto a população em situação de rua aumenta, o prefeito se alia com o governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos) para reprimir com violência o fluxo da chamada Cracolândia no centro, promovendo confusão de problemas e soluções de questões que estão relacionadas à saúde e à moradia. Ninguém parece querer resolver nada, mas o padre Julio Lancellotti é ameaçado até com CPI na Câmara Municipal.

Os eventos climáticos extremos ficam ainda mais frequentes, como as ondas de frio e de calor ou as chuvas que inundam a cidade não só no verão. Se a energia cai por conta da ventania, não temos nem como confiar quando deve voltar.

Em cima da moto fazendo entrega de comida, atrás do volante trabalhando pra Uber ou utilizando o Whatsapp como ferramenta de trabalho, a gente lida com essa angústia de “perder tudo que tem” e não ter dinheiro para repor – afinal, a grana falta pra chegar ao fim do mês.

O aluguel mais caro vai empurrando a gente ainda mais para as bordas, onde a cidade parece mais distante – e a realização dos sonhos também.

É preciso se atualizar com as novidades tecnológicas para continuar trabalhando, afinal a inteligência artificial pode nos substituir, mas como? Uma coisa é certa: as mensagens duvidosas não param de chegar no celular. O golpe tá aí e a gente cai até sem querer.

Tá todo mundo com dor nessa cidade-ferida. Uma pesquisa recente diz que 64% deixariam São Paulo, se pudessem.

Como a maioria não pode tomar essa decisão, a gente segue resistindo e existindo nas brechas que existem: no convívio familiar e comunitário, na solidariedade, nas manifestações culturais, nos aprendizados sem muros, no encontro de soluções para pequenos problemas do cotidiano.

A ferida cicatriza das bordas ao centro. Na busca de uma suposta cura, temos muitas sugestões. Neste ano de eleições, quem está na disposição de ouvir?

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