SP: Enquanto Prefeitura age para terceirizar Casas de Cultura, unidade de Parelheiros segue fechada

SP: Enquanto Prefeitura age para terceirizar Casas de Cultura, unidade de Parelheiros segue fechada

Entregue em 2019 após uma década de luta de artistas locais, Casa de Cultura da região ficou 2 anos fechada na pandemia e, desde dezembro, passa por reforma. Atividades acontecem em espaços emprestados. Agentes culturais veem medida como “sucateamento proposital”

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Por Elisabeth Botelho. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano

“É o fim de uma caminhada que a gente tem trilhado”. Essa frase foi dita em 2019 por Ciléia Biaggioli, pedagoga, artista integrante do Teatro Rocokóz e do Fórum de Cultura de Parelheiros. Naquele ano, o grupo de agentes culturais da região comemorou a inauguração da Casa de Cultura local após uma década de reivindicação.

A luta, entretanto, é para a vida toda.

Neste ano de 2023, a casa da própria Ciléia é utilizada para a realização de oficinas e atividades que deveriam acontecer na Casa de Cultura de Parelheiros. Isso porque o equipamento da Prefeitura de São Paulo está fechado para reforma desde dezembro do ano passado – e assim deve permanecer pelo menos até setembro, conforme a Periferia em Movimento apurou.

Somando com o período de restrições impostas pela pandemia de covid-19, o equipamento público ficou mais tempo de portas fechadas do que abertas: foram apenas 19 meses de funcionamento no espaço.

Para o movimento SOS Casas de Cultura, trata-se de uma medida proposital da gestão do prefeito Ricardo Nunes (MDB) para justificar a terceirização das 20 unidades existentes em periferias da cidade de São Paulo.

 “O que se observa é que as Casas de Cultura da cidade foram e continuam sendo intencionalmente abandonadas e sucateadas pela Prefeitura, como parte de um processo de justificativa para a entrega desses equipamentos para serem geridas por empresas privadas”, diz o agente cultural Gustavo Ramalho, integrante do movimento.

Desde o início de 2022, a transferência da gestão das Casas de Cultura para organizações sociais está em pauta na Secretaria Municipal de Cultura (SMC). A falta de verba para arcar com a programação é um dos argumentos utilizados para a terceirização, que já acontece em áreas como saúde, assistência social e na educação infantil. A Periferia em Movimento já noticiou aqui.

“A leitura que faço é: ‘vamos reformar e entregar ela nas mãos das iniciativas privadas, no caso as organizações sociais’”, analisa o agente cultural Aurélio Prates.

Ele compara a situação com a proposta de construção da Casa de Cultura de Cidade Ademar e Pedreira (zona Sul), que levaria 15 meses para ser concluída, com a reforma da unidade de Parelheiros que deve chegar a quase 1 ano.

Arte que brota

A uma distância de 40 quilômetros do centro, Parelheiros está entre os territórios que mais precisam lutar para ter acesso à educação, cultura e saúde. Com a cultura, não é diferente.

Para garantir esse direito, agentes do território criaram em 2016 o Fórum de Cultura de Parelheiros, com o intuito de promover a arte, trocar vivências e potencializar a identidade territorial. Foi nesse espaço que artistas descobriram que, desde 2009, havia um prédio que deveria ser a Casa de Cultura mas que era utilizado para outras finalidades.

A Periferia em Movimento já contou aqui como essa história resultou na criação da Casa de Cultura. Porém, o edifício foi entregue há 4 anos de forma inadequada para as atividades culturais e com uma série de problemas estruturais.

“O telhado não foi arrumado, nada foi arrumado, de real, de estrutura, de um prédio que estava há 10 anos [parado]. Ele foi maquiado para poder inaugurar”, conta Ciléia.

Fechado desde dezembro para esses ajustes, a obra deveria acabar agora em maio. Porém, a reforma concluiu apenas o palco externo. Segundo a assessoria de imprensa da SMC, a empresa responsável pela obra decretou falência, o que gerou atraso em outros ajustes, como  a estruturação da parte elétrica, reforma no forro do teto e pintura do espaço.

Enquanto isso, a programação que inclui espetáculos, apresentações e oficinas ocorre em outros ambientes, como ruas, praças, espaços culturais autônomos, escolas e no CEU Parelheiros.

Para Ciléia, é importante que a movimentação continue acontecendo. “A arte de Parelheiros brota nas rachaduras das calçadas”, completa.

Afinal, a arte é ancestral, gera identificação e cria imaginários. Existe e é articulada muito antes de órgãos públicos identificarem que é válido levantar  as paredes de um centro cultural num território.

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