As ruas precisam ser tribuna do povo, dizem ativistas das periferias que se candidataram em 2022

As ruas precisam ser tribuna do povo, dizem ativistas das periferias que se candidataram em 2022

Com Lula na Presidência e Tarcísio no Governo de SP, integrantes de movimentos sociais preveem novo período de lutas nas ruas

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Tempo de leitura: 5 minutos

Por Thiago Borges. Foto: Paula Sant’Ana

Com o resultado final das eleições neste domingo (30/10), a palavra de ordem é permanecer em constante mobilização. Pelo menos é o que atestam Jesus dos Santos e Isis Mustafá, que lideraram duas das várias candidaturas periféricas lançadas este ano para a disputa no Poder Legislativo – ambos perderam, entretanto.

“A gente precisa continuar organizando a luta em defesa de nossos direitos, enquanto classe”, aponta a estudante universitária Isis, que neste ano se candidatou a deputada federal pelo Unidade Popular pelo Socialismo (UP).

Ato do partido UP no centro (Foto: Paula Sant’Ana)

Apesar de não ter sido eleita, ela recebeu 21 mil votos – marca surpreendente para uma candidatura pelo partido mais novo do sistema eleitoral, sem exposição da TV e poucos recursos. Para ela, os resultados obtidos no pleito demonstram que há espaço para uma alternativa à esquerda e intimamente ligada com as periferias.

Após o resultado do primeiro turno, a militância do partido foi para a rua fazer campanha para Lula e Haddad, ambos do PT, em São Paulo. “A gente acredita que só é possível enfrentar o poder econômico do bolsonarismo com a campanha de rua”, diz ela, que garante a permanência da UP nos espaços públicos e em melhores condições de lutar do que sob o governo Bolsonaro. “Ele representa esse projeto de fechamento de regime, e com sua vitória a gente lutaria em piores condições”, completa.

Enquanto Lula venceu a votação para a Presidência da República com 50,9% dos votos válidos, Haddad foi derrotado por Tarcísio de Freitas (Republicanos) no pleito pelo Governo paulista. O representante bolsonarista na disputa estadual teve 55,2%.

Para o agente cultural Jesus dos Santos, essa relação institucional vai ser de divergências ainda mais extremadas do que no período em que Bolsonaro e João Doria (ex-PSDB) governaram simultaneamente.

“O governador tem, além de um poder discricionário, uma série de coisas que têm que ser feitas ou que poderão vir a ser feitas e que em nada dependem do governo federal”, aponta Jesus, que prevê ainda uma catástrofe na gestão estadual. “Será o aumento da violência policial haja vista os comentários, os programas eleitorais”, reforça.

A composição do poder legislativo também é um ponto a ser considerado, na avaliação de Jesus. Por conta disso, o morador do Jardim Brasil (na zona Norte) se candidatou a deputado estadual com a chapa coletiva Mandato Popular (PC do B), mas obteve 2,3 mil votos e ficou fora da Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp).

Com 94 cadeiras, a Alesp viu partidos da base de Tarcísio, como Republicanos e PL, aumentaram suas bancadas para 27 parlamentares.  Boa parte é originária das forças policiais ou com alcance nas redes sociais. Mas as candidaturas mais votadas foram de esquerda, como Eduardo Suplicy (PT), com 807 mil votos; Carlos Gianazzi (PSOL), com 276 mil;  a Bancada Feminista (PSOL), com 259 mil. O PT viu sua bancada na Alesp aumentar de 10 para 18 representantes. E mais 11 representantes foram eleitos por partidos de esquerda (PSOL, PC do B, PSB, PDT e Rede).

Tarcísio aposta na base aliada da Alesp para tomar medidas como a retirada das câmeras dos uniformes de policiais militares, que derrubaram a letalidade no Estado em 85%. Também propõe a criminalização dos pancadões e diz que vai pressionar o Congresso Nacional para reduzir a maioridade penal para 16 anos, entre outras medidas punitivistas.

Em âmbito federal, apesar da derrota de Bolsonaro, o campo bolsonarista segue forte. Os partidos da coligação do governante de extrema direita (PL, PP e Republicanos) fizeram 187 das 535 cadeiras, enquanto a base de Lula vai ocupar 119 vagas na Câmara. Já no Senado, que teve um terço de seu quadro renovado, o domínio bolsonarista será de ao menos 24 lugares enquanto Lula terá 10 integrantes dos partidos de sua coligação.

“Lula encontrará uma série de dificuldades para avançar com pautas que são fundamentais, como a reforma trabalhista e o avanço na taxação de grandes fortunas”, observa Jesus. E encerra: “Será de fundamental importância que o povo esteja nas ruas e que as ruas sejam a tribuna do povo”.

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