Cultura e educação iluminam possibilidades de futuro nas quebradas

Cultura e educação iluminam possibilidades de futuro nas quebradas

A educação nos forma para a vida. E a cultura nos dá uma identidade. Se a realidade insiste em nos esmagar enquanto seres humanos, é pelo conhecimento e pela arte que nos tornamos sujeitas, sujeites e sujeitos de direito

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Tempo de leitura: 5 minutos

Em 2024, a Periferia em Movimento retratou como a cultura e a educação são forças transformadoras nas periferias de São Paulo.

Documentamos a realidade de escolas como a EMEF Padre José Pegoraro, no Grajaú, que vão além do ensino tradicional e se tornam espaços de apoio e desenvolvimento integral para estudantes.

Também falamos dos projetos do Bloco do Beco, associação cultural do Jardim São Luís, que promove uma “escolinha” comunitária de reforço e transforma escadões em galerias de arte a céu aberto destacando pessoas importantes do território.

“A alfabetização, quando bem feita, abre portas para um mundo de novas possibilidades e contribui diretamente para a autonomia das pessoas, permitindo que elas se tornem agentes de mudança em suas próprias vidas e em suas comunidades”, avaliou Rosalia Chrizanto, coordenadora do projeto de alfabetização do Bloco do Beco.

“Essas ‘escolinhas’ têm um papel essencial na formação cidadã das crianças, oferecendo acesso à leitura e ao conhecimento. Elas ajudam a reduzir a desigualdade educacional e são um espaço seguro e acolhedor para o desenvolvimento da autoestima e do senso de pertencimento”, destacou Ana Carolina Oliveira Paixão, psicopedagoga no Bloco do Beco.

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Riqueza cultural

Cobrir a cultura em diferentes dimensões é algo que está sempre em pauta na nossa redação. Desde sua gênese, a Periferia em Movimento acompanha, notícia e documenta as manifestações culturais, populares, periféricas a partir das quebradas de São Paulo.

São diversas as formas de expressão artística: o funk, o samba, o rap, o graffiti e a cultura nerd. Essas manifestações, muitas vezes criminalizadas e marginalizadas, são formas de resistência, afirmação identitária e empoderamento.

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Em 2024, mostramos como um desmonte praticado pela atual gestão do prefeito Ricardo Nunes na Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo tem colocado agentes culturais das periferias no maior perrengue.

E se a luta é árdua na quebrada, imagina no cárcere? Coletivos e movimentos têm pautado o direito à cultura atrás das grades, que fica em segundo plano, apesar da possibilidade de ressocialização.

A cultura é o que nos faz seres humanos, como espécie, e ao mesmo tempo nos torna tão únicos.

Mostramos que cultura também é criação de memória. Do Jardim Ângela a Perus, grupos periféricos criam seus próprios centros de memória para preservar a história local e fincar o pé, mostrando que somos São Paulo.

“A gente não via a história deles ser narrada”, apontou Renata Eleutério, fundadora do CPDOC Guaianás, que destaca a importância de se contar a história da classe trabalhadora e das lutas sociais das periferias.

Essa memória também é construída nas ruas e é o que dá cor à cidade cinza. Como elemento do movimento Hip Hop e manifestação artística de origem periférica, o graffiti faz parte da identidade visual da região metropolitana de São Paulo.

Longe das regiões centrais e toda a notoriedade que garantem, mostramos que artistas driblam disputas no meio e colorem suas quebradas, valorizando a prática como uma expressão, possibilidade de criar espaços seguros e de conexão com a ancestralidade.

E sabemos que nossos passos vêm de longe, são ancestrais. Mesmo quando há tentativas de apagamento, há uma chama que ressurge. Assim, é a Festa do Rosário dos Homens Pretos em Penha de França, uma tradição criada por pessoas escravizadas para sobreviver à colonização e que nas últimas duas décadas foi resgatada na zona Leste de São Paulo.

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No último período, também acompanhamos rojetos inovadores, como o Funkeiros Cults ou o Arraiá das Drags, combatem preconceitos e demonstram que a periferia produz e consome cultura de forma crítica e reflexiva. Enquanto isso, barbearias se consolidam como espaços de identidade.

“A barbearia está ali para reunir um público no dia a dia que precisa tomar um ar, e vender autoestima, que é o mais importante”, observou Drigo, barbeiro na Cidade Tiradentes (Extremo Leste de São Paulo).

Abordamos ainda como a juventude periférica tem liderado a retomada indígena em espaços urbanos.

“Quando a gente reconhece a quebrada como um lugar originário, a gente vê que tem nossa própria forma de se comunicar. Isso não acontece em nenhum outro lugar porque é a forma que a gente se construiu aqui. Cada território vai ter sua forma de se comunicar, de trocar, e aqui não é diferente”, trouxe Juà, do coletivo Acervo Pindoretá.

Amplificar as vozes das periferias, mostrando as lutas, as conquistas e a potência criativa da população local é essencial para a construção de um futuro mais justo e igualitário.

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