Calor extremo, queimadas, ar sufocante. Chuvas torrenciais, ventanias assustadoras, frio nunca antes visto. Em 2024, ninguém pode ignorar a crise climática. Os eventos extremos se intensificaram, com diversos impactos na vida da população.
As periferias são as mais vulneráveis a enchentes, ondas de calor e tempestades, que nos levaram a um novo apagão. A falta de infraestrutura adequada agrava os impactos, resultando em perdas materiais, problemas de saúde e sofrimento emocional.
Apagão na quebrada: População perde a paciência e protesta contra falta de luz, que chega ao 4º dia
Por outro lado, a localização de lixões em áreas periféricas, a falta de saneamento básico e a exposição à poluição do ar evidenciam o racismo ambiental que permeia a sociedade.
“Negar o racismo ambiental é negar que o Estado brasileiro é racista”, afirmou logo no começo do ano a ambientalista Mariana Belmont, do Geledés – Instituto da Mulher Negra.
A desregulação do clima afeta a produção de alimentos, especialmente a agricultura familiar e orgânica.
“O clima chega a queimar as plantas. De uns 3 meses pra trás é só perda, só no vermelho”, relatou o agricultor Juarez Andrade Sales, da região de Parelheiros, no Extremo Sul de São Paulo.
Crise climática afeta produção de alimentos orgânicos na zona rural de São Paulo
A preocupação com a crise climática e a sensação de impotência diante dos seus efeitos contribuem para o aumento da ansiedade, depressão e outros problemas de saúde mental.
Esse foi um ponto de destaque no começo do ano, com o grupo Psicanálise Periférica. Mas não foi o único: para quem vive nas periferias, os desafios se acumulam.
Vida digital (e precária)
Apesar do avanço da tecnologia, o acesso à internet ainda continua um privilégio. A falta de conectividade dificulta o acesso à educação, ao trabalho e à informação.
“A tecnologia, para mim, ainda é um grande arranjo de desigualdade”, destacou a socióloga Anabela Gonçalves, da zona Sul de São Paulo.
A digitalização da vida impulsiona a “uberização” do trabalho, com a proliferação de plataformas digitais que oferecem trabalhos precários, sem direitos trabalhistas e com baixos rendimentos.
“Apesar da transformação digital, a galera continua se ferrando para fazer dinheiro”, observou Marcia Marci, agente cultural da coletiva Travas da Sul.
Por outro lado, a internet e as novas tecnologias abrem caminho para o empreendedorismo e a geração de renda. “Lá em 2006, 2007, eu não teria espaço, e na internet a gente tem”, disse o influenciador periférico Brian Braia, que tem um canal de finanças.
Pauta muito abordada nas eleições municipais, o empreendedorismo é visto como essa chance de criar o próprio negócio e garantir alguma qualidade de vida.
Afinal, a falta de oportunidades de trabalho formal leva muitas pessoas nas periferias a recorrerem à informalidade e ao subemprego, uma vez que a disparidade gritante no acesso ao trabalho formal, com menos vagas e salários mais baixos. “Nada angustia mais a quebrada do que o desemprego, né?”, destaca Anabela Gonçalves.
Nós mostramos na série Trampo é Trampo que as oportunidades de trabalho da ponte pra cá ainda são restritas, com a informalidade sendo mais comum em um cenário em que ganhou força a discussão pelo fim das jornadas de trabalho 6×1.
Enquanto isso, o serviço público desempenha um papel crucial na geração de empregos e renda nas periferias, embora a terceirização dos serviços seja uma preocupação.
Redação PEM, Thiago Borges, Rafael Cristiano