Racismo ambiental: São Paulo tem 200 mil moradias em áreas de risco, a maioria nas periferias

Racismo ambiental: São Paulo tem 200 mil moradias em áreas de risco, a maioria nas periferias

Reportagem da Agência Pública com base em dados da Defesa Civil mostra que número de territórios suscetíveis a deslizamentos ou solapamentos mais que dobrou em 20 anos

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Com informações deMatheus Santino e Rafael Custódio, na Agência Pública. Foto de José Cícero

O município de São Paulo tem quase 200 mil moradias localizadas em áreas com risco de deslizamento de terra. É o que aponta o levantamento feito pela Agência Pública (clique para ler na íntegra) de jornalismo a partir de dados do GeoSampa — portal mantido pela Prefeitura paulistana.

A apuração encontrou 185.634 moradias em regiões classificadas como de risco, com informações referentes a visitas da Defesa Civil feitas até dezembro de 2023.

A reportagem indica que as construções estão distribuídas em 489 áreas mapeadas de 29 das 32 subprefeituras do município. Apenas as subprefeituras da Sé, Vila Mariana e Pinheiros não foram apontadas. Em 20 anos, a quantidade de territórios suscetíveis a deslizamentos e solapamentos mais que dobrou. Em dezembro de 2003, foram catalogadas 214 áreas.

A Subprefeitura do M’Boi Mirim (zona Sul) é a que concentra o maior número de áreas suscetíveis aos deslizamentos e solapamentos: são 60 zonas catalogadas. É lá que fica o Parque Chácara Bananal, no Jardim Ângela, onde há pelo menos 223 casas construídas em trechos com alto risco geológico. O local é apontado como território de altíssimo perigo desde 2009.

Para que a área se torne mais segura, o relatório da Defesa Civil de outubro de 2019 apontou que eram necessárias obras de drenagem de águas pluviais e esgoto, melhorias nos acessos às casas, muros para a contenção das encostas, além de monitoramento constante do local e dos imóveis que apresentam trincas.

A Pública questionou a Secretaria Municipal das Subprefeituras se as famílias que moram no Parque Chácara Bananal serão realocadas e quais obras de melhoria para garantir segurança aos moradores foram realizadas, mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

Racismo ambiental

O entrevistado Pedro Camarinha, pesquisador do Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) e especialista em desastres, explica que são os processos induzidos pela ação humana que potencializam os fatores naturais nas áreas urbanas com maior risco. Ele explica que essas situações ocorrem, majoritariamente, em bairros periféricos e com pouca infraestrutura.

Para o pesquisador, em casos de remoção, ela deve ser pensada de forma digna para as famílias. “Se houver a possibilidade da remoção dessas pessoas, que aconteça com dignidade. Quando eu falo em dignidade, é de não retirar a pessoa de um bairro aqui, colocar do outro lado da cidade, muitas  vezes sem infraestrutura básica, sem um hospital próximo, com acesso restrito à transporte público, o que seria trocar um problema por outro”, disse.

Para Júlio Cézar, assistente social e co-vereador do Quilombo Periférico, mandata coletiva eleita na Câmara Municipal de São Paulo, o cenário de desastres e falta de monitoramento por parte do poder público ilustram o racismo ambiental.

“Curiosamente, quais são os territórios atingidos na cidade de São Paulo e em todo o país? São territórios majoritariamente negros. O conceito de racismo ambiental vai falar do racismo a partir do meio ambiente, da exploração dos territórios quilombolas e indígenas. Mas, no cenário urbano, o racismo ambiental vai, na sua concretude, acontecer na ausência de zeladoria urbana, coleta de lixo, na naturalização dos deslizamentos nas áreas de ocupação”, afirma.

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