Mais de 1 mil reportagens sobre luta por direitos e 1,5 mil publicações sobre ações socioculturais. Mais de 5 mil participantes em 2,5 mil horas de encontros de educação midiática. Cerca de 2 milhões de pessoas impactadas por ano.
Em 2024, a Periferia em Movimento celebrou o marco de 15 anos de atuação com um legado de impacto na comunicação. Fundada em 2009 a partir do questionamento de três estudantes de jornalismo sobre a cobertura midiática das periferias, a iniciativa se consolidou como uma produtora independente nas quebradas, rompendo com narrativas tradicionais e promovendo o protagonismo periférico.
Celebrando 15 anos, Periferia em Movimento resgata memórias de um jornalismo de quebrada
Com a produção de conteúdo jornalístico e a elaboração da metodologia Repórter da Quebrada, que utiliza ferramentas do jornalismo para investigar o cotidiano das periferias, este também foi um ano para pensar além diante dos novos desafios da vida nas cidades.
Por isso, em 2024 a Periferia em Movimento iniciou o projeto “Gerações Periféricas Conectadas”.
A proposta permeou toda a produção de conteúdo com escuta de pessoas periféricas de diferentes idades na elaboração de pautas e na participação das reportagens, além de oficinas formativas temáticas.
E nas Rodas de Saberes, reunimos profissionais e ativistas da comunicação e de diferentes frentes de luta para garantia de direitos para debater temas emergentes.
Entre eles, abordamos como a extrema-direita se apropria da violência, do funk e outras culturas periféricas e gera desinformação em tempo de eleições.
“A juventude está desacreditada, então a extrema-direita se aproxima e ocupa um espaço [mesmo sem propostas]”, observou a pedagoga e pesquisadora Renata Prado.
“Lutar por justiça social é difícil, mas nós somos uma potência (…) Podemos estar cada vez mais unificados, apesar de muita dificuldade”, disse no mesmo encontro o Mano Lyee, ativista, escritor e educador.
Extrema-direita surfa em falta de perspectivas para tentar atrair juventude por meio do funk
Também discutimos a urgência apresentada pela crise climática e seus impactos no nosso dia a dia, inclusive na saúde mental.
“Eu fico vendo padrões, não consigo desassociar essas coisas. A gente tem vários agravantes onde a juventude tem esse distanciamento da natureza, onde a natureza se tornou suja”, ressaltou Iya Adriana de Nanã, sacerdotisa de candomblé e ativista de direitos humanos.
“Me pergunto como as pessoas estão conseguindo enfrentar o olhar das crianças, porque é o que mais me dói: saber que coletivamente falhamos como sociedade”, questionou a educadora Karina Rodrigues.
“O convite é que a gente consiga parar de se espremer, pra gente não olhar pras latas e pras caixas […] Que a gente consiga encontrar essa leveza do existir em meio às batalhas porque as batalhas não vão se findar”, ponderou o assistente social Daniel Tadeu.
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Conexões
Diante da transformação digital e comunicação acelerada, como fica a construção do imaginário nos territórios físicos?
“Apesar da transformação digital, a galera continua se ferrando para fazer dinheiro. O capitalismo coloca mais uma ferramenta para explorar nossa capacidade intelectual, mas a gente não consegue sair dessa lógica”, analisou Marcia Marci, articuladora sociocultural e idealizadora da Travas da Sul.
Além das Telas: Conexões humanas e digitais como formas de transformação
Em um encontro em que abordamos estratégias de comunicação para furar bolhas e romper algoritmos, Gil BF trouxe as experiências do hip hop. Fundador do portal Bocada Forte, ele atua na comunicação desde os anos 1990 e demonstra a evolução da comunicação, do analógico para o digital, e como o movimento hip hop se adaptou a essas mudanças para continuar disseminando suas mensagens.
“O capital faz de tudo pra destruir o coletivo (…) Por isso, a gente precisa estar presente nos lugares, fortalecer esses espaços para fazer a informação chegar”, disse Gil.
No mesmo debate, a fotógrafa Nalva Maria apontou como a fotografia tem sido uma ferramenta de denúncia e registro da realidade das periferias ao longo das décadas.
“Minha amiga caiu da balsa na represa Billings, a uma profundidade de 8 metros. Ela foi salva e eu fotografei”, relembra Nalva Maria, que pegou fichas de orelhão e ligou para um amigo do jornal Gazeta de Santo Amaro. A denúncia ganhou capa e gerou cobranças à Emae, empresa responsável pela administração da balsa. “Eu fiquei um tempo sem ir no Bororé [bairro do outro lado da represa], porque fui ameaçada. Mas a balsa melhorou”.
Poucas semanas após essa roda de saberes, Nalva Maria faleceu aos 76 anos em decorrência de complicações de uma cirurgia. A Periferia em Movimento teve a oportunidade de trabalhar com ela no podcast “E agora, PEM?”, que teve a segunda temporada no último ano.
Somos legado de sua trajetória e queremos transportar esse legado para quem está chegando.
Redação PEM, Thiago Borges, Rafael CristianoSomos o legado de Nalva Maria: A fotógrafa da quebrada que abriu caminhos para a comunicação