Celebrando 15 anos, Periferia em Movimento resgata memórias de um jornalismo de quebrada

Confira vídeo com principais marcos do período e fotos de cobertura do evento, que teve a presença de uma centena de pessoas do campo social e da comunicação

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Há exatos 15 anos, no dia 9 de dezembro de 2009, nascia oficialmente a Periferia em Movimento.

Naquela noite, então estudantes Aline Rodrigues, Thiago Borges e Sueli Reis Carneiro apresentavam uma pesquisa sobre a imagem das periferias paulistanas na mídia do centro, hegemônica e tradicional. Acompanhado do documentário “Grajaú na Construção da Paz”, o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Santo Amaro deu origem à Periferia em Movimento.

Desde então, o grupo se reinventa na realização de um jornalismo sobre, para e a partir das periferias.

Esse importante marco histórico foi celebrado na última quinta-feira (5/12), no evento “Memórias de um Jornalismo de Quebrada”.

A comemoração dos 15 anos da Periferia em Movimento reuniu a equipe composta por 11 pessoas de diferentes saberes e atribuições que atuam nas frentes de produção de conteúdo, articulação e educação midiática.

A festa também contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre familiares, amizades e parcerias do campo do jornalismo e da comunicação, de movimentos sociais, coletivos, organizações e mandatos parlamentares.

Clique nas fotos de Amanda Rodrigues e confira os destaques:

Em várias frentes

Articulação, produção de conteúdo e educação midiática. A atuação jornalística da Periferia em Movimento se desdobra nessas três áreas, que são complementares.

Laís Diogo, coordenadora de articulação territorial, explicou que a inspiração está no papel que o movimento hip hop cumpre desde os anos 1990 ao evidenciar o que milhões de pessoas vivem nas quebradas.

“O jornalismo hegemônico, por muito tempo e ainda hoje, conta histórias distorcidas. E a partir da articulação, a gente tem a possibilidade de ser e estar nas histórias das pessoas. A partir do momento em que as pessoas se identificam, se sentem parte desse processo, também constróem a Periferia em Movimento”, observou Laís.

Para Thiago Borges, jornalista co-fundador da iniciativa, a existência de iniciativas que produzem comunicação fora do centro ajuda a romper estereótipos e garantir representatividade.

“Graças ao nosso trabalho e de muita gente que veio antes e depois de nós, é possível ver alguma mudança no imaginário sobre as periferias. Mas, como jornalistas, precisamos seguir vigilantes porque a gente sabe que coletivamente a favela não venceu”, apontou Thiago, atual gestor de conteúdos da Periferia em Movimento.

Essas produções desaguam na educação midiática, em que atuamos para estabelecer diálogo com a audiência e ampliação do olhar sobre si, o lugar onde mora e seu acesso a direitos, como explica Aline Rodrigues.

“Por isso, tudo o que fazemos tem a presença da educação midiática, seja em uma oficina de repórter, em um debate em evento jornalístico ou na produção, publicação e distribuição de uma reportagem. É sobre trocar saberes e aprendizados o tempo todo”, explicou Aline Rodrigues, co-fundadora e gestora de redes e narrativas.

Reencontros

Muitas pessoas importantes na trajetória da Periferia em Movimento compareceram à celebração.

Estiveram presentes representantes de iniciativas e organizações da comunicação, como  Ajor – Associação de Jornalismo Digital, Agência Mural, Coalizão de Mídias Periféricas e Faveladas, Desenrola e Não Me Enrola, Território da Notícia, entre outras.

Representando a comunicação periférica, o jornalista Ronaldo Matos destacou a insistência da Periferia em Movimento em pensar e produzir um jornalismo a partir das vielas, escadões e beira da represa para falar com públicos diversos em contraposição ao jornalismo do centro, norteamericano e europeu.

Também participaram representantes de coletivos, movimentos, organizações e fundações, tais como Ação Educativa, Bloco do Beco, Cria Coragem, Deversos Coletivo, Espaço Cazuá, Geledés Instituto da Mulher Negra, Grupo Teatral Identidade Oculta, Imargem, Instituto Peregum, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Socioambiental, Movimento Cultural das Periferias, Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, entre outras.

A vereadora eleita Keit Lima (PSOL) e assessoras do vereador eleito Dheison Silva (PT) participaram do evento, assim como a vereadora Elaine Mineiro e o co-vereador Alex Barcellos, além de integrantes do gabinete do mandato coletivo Quilombo Periférico (PSOL).

“Eu estava vendo o teatro e lembro do quanto nosso povo tem a história oral como forma de preservar nossa memória, e que isso tenha nos formado pra gente chegar até aqui. Mas a gente é de uma geração que teve um caminho construído por nossos ancestrais e que hoje tem a possibilidade de registrar essas histórias”, destacou Elaine Mineiro.

A vereadora salientou a importância do jornalismo e da comunicação de quebrada para manter as memórias, pautar as demandas das periferias e fiscalizar governantes em questões que a mídia do centro não dá a mesma relevância.

A peça citada por ela é “Mulher de retratos”, apresentada pela Cia Enchendo Laje & Soltando Pipa. O espetáculo conta a história de Nalva Maria, uma das mulheres matriarcas na construção do Grajaú (Extremo Sul de São Paulo), onde a Periferia em Movimento se origina.

Falecida no final de agosto de 2024, aos 76 anos, Nalva Maria era fotógrafa e liderança comunitária, e deu sua contribuição no registro da história periférica bem antes de existirmos enquanto mídia. Ela também atuou com a gente na produção do podcast “E agora, PEM?”, um tutorial de como acessar direitos.

O evento de 15 anos aconteceu na Loja Floresta no Centro, do Instituto Socioambiental (ISA), no centro de São Paulo, e teve discotecagem da DJ Onika (integrante da coletiva Travas da Sul) e buffet servido pela Cozinha com Afeto.

Linha do tempo

Fundada em 2009 a partir do questionamento de três estudantes de jornalismo sobre a cobertura midiática das periferias, a Periferia em Movimento se consolida como uma produtora independente que amplifica as vozes das quebradas, rompendo com narrativas tradicionais e promovendo o protagonismo periférico.

Ao longo de sua trajetória, a PEM produziu mais de mil reportagens e inúmeras séries, produtos e conteúdos editoriais especiais que abordam temas como Luta por moradia (“Aonde Mora o Afeto?” e “Meu Endereço é a Luta”, por exemplo), Cultura e ancestralidade (“Matriarcas”, “Mulheres de Fé” e “Kalipety: Território seguro, alimento e vida”), Trabalho (“Diário do Corre”) e acesso a direitos em geral (“E agora, PEM?”).

Ao longo desse período, a Periferia em Movimento desenvolveu a metodologia Repórter da Quebrada, que utiliza ferramentas do jornalismo para investigar o cotidiano das periferias e empoderar populações. O projeto já contou com a participação de mais de 5 mil pessoas, a maioria jovens de escolas públicas, formando novas gerações de comunicadores engajados em suas comunidades.

Composta por uma equipe diversa em gênero, raça e vivências, a PEM garante que as narrativas produzidas reflitam a pluralidade das periferias, com impacto social gerado a partir denúncias de racismo em escolas, mobilização de candidaturas em debates eleitorais e influência em pesquisas acadêmicas.

Relembre os principais marcos de nossa história no vídeo abaixo:

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Há exatos 15 anos, no dia 9 de dezembro de 2009, nascia oficialmente a Periferia em Movimento.

Naquela noite, então estudantes Aline Rodrigues, Thiago Borges e Sueli Reis Carneiro apresentavam uma pesquisa sobre a imagem das periferias paulistanas na mídia do centro, hegemônica e tradicional. Acompanhado do documentário “Grajaú na Construção da Paz”, o trabalho de conclusão do curso de Jornalismo na Universidade Santo Amaro deu origem à Periferia em Movimento.

Desde então, o grupo se reinventa na realização de um jornalismo sobre, para e a partir das periferias.

Esse importante marco histórico foi celebrado na última quinta-feira (5/12), no evento “Memórias de um Jornalismo de Quebrada”.

A comemoração dos 15 anos da Periferia em Movimento reuniu a equipe composta por 11 pessoas de diferentes saberes e atribuições que atuam nas frentes de produção de conteúdo, articulação e educação midiática.

A festa também contou com a presença de cerca de 100 pessoas, entre familiares, amizades e parcerias do campo do jornalismo e da comunicação, de movimentos sociais, coletivos, organizações e mandatos parlamentares.

Clique nas fotos de Amanda Rodrigues e confira os destaques:

Em várias frentes

Articulação, produção de conteúdo e educação midiática. A atuação jornalística da Periferia em Movimento se desdobra nessas três áreas, que são complementares.

Laís Diogo, coordenadora de articulação territorial, explicou que a inspiração está no papel que o movimento hip hop cumpre desde os anos 1990 ao evidenciar o que milhões de pessoas vivem nas quebradas.

“O jornalismo hegemônico, por muito tempo e ainda hoje, conta histórias distorcidas. E a partir da articulação, a gente tem a possibilidade de ser e estar nas histórias das pessoas. A partir do momento em que as pessoas se identificam, se sentem parte desse processo, também constróem a Periferia em Movimento”, observou Laís.

Para Thiago Borges, jornalista co-fundador da iniciativa, a existência de iniciativas que produzem comunicação fora do centro ajuda a romper estereótipos e garantir representatividade.

“Graças ao nosso trabalho e de muita gente que veio antes e depois de nós, é possível ver alguma mudança no imaginário sobre as periferias. Mas, como jornalistas, precisamos seguir vigilantes porque a gente sabe que coletivamente a favela não venceu”, apontou Thiago, atual gestor de conteúdos da Periferia em Movimento.

Essas produções desaguam na educação midiática, em que atuamos para estabelecer diálogo com a audiência e ampliação do olhar sobre si, o lugar onde mora e seu acesso a direitos, como explica Aline Rodrigues.

“Por isso, tudo o que fazemos tem a presença da educação midiática, seja em uma oficina de repórter, em um debate em evento jornalístico ou na produção, publicação e distribuição de uma reportagem. É sobre trocar saberes e aprendizados o tempo todo”, explicou Aline Rodrigues, co-fundadora e gestora de redes e narrativas.

Reencontros

Muitas pessoas importantes na trajetória da Periferia em Movimento compareceram à celebração.

Estiveram presentes representantes de iniciativas e organizações da comunicação, como  Ajor – Associação de Jornalismo Digital, Agência Mural, Coalizão de Mídias Periféricas e Faveladas, Desenrola e Não Me Enrola, Território da Notícia, entre outras.

Representando a comunicação periférica, o jornalista Ronaldo Matos destacou a insistência da Periferia em Movimento em pensar e produzir um jornalismo a partir das vielas, escadões e beira da represa para falar com públicos diversos em contraposição ao jornalismo do centro, norteamericano e europeu.

Também participaram representantes de coletivos, movimentos, organizações e fundações, tais como Ação Educativa, Bloco do Beco, Cria Coragem, Deversos Coletivo, Espaço Cazuá, Geledés Instituto da Mulher Negra, Grupo Teatral Identidade Oculta, Imargem, Instituto Peregum, Instituto Vladimir Herzog, Instituto Socioambiental, Movimento Cultural das Periferias, Rede de Proteção e Resistência ao Genocídio, entre outras.

A vereadora eleita Keit Lima (PSOL) e assessoras do vereador eleito Dheison Silva (PT) participaram do evento, assim como a vereadora Elaine Mineiro e o co-vereador Alex Barcellos, além de integrantes do gabinete do mandato coletivo Quilombo Periférico (PSOL).

“Eu estava vendo o teatro e lembro do quanto nosso povo tem a história oral como forma de preservar nossa memória, e que isso tenha nos formado pra gente chegar até aqui. Mas a gente é de uma geração que teve um caminho construído por nossos ancestrais e que hoje tem a possibilidade de registrar essas histórias”, destacou Elaine Mineiro.

A vereadora salientou a importância do jornalismo e da comunicação de quebrada para manter as memórias, pautar as demandas das periferias e fiscalizar governantes em questões que a mídia do centro não dá a mesma relevância.

A peça citada por ela é “Mulher de retratos”, apresentada pela Cia Enchendo Laje & Soltando Pipa. O espetáculo conta a história de Nalva Maria, uma das mulheres matriarcas na construção do Grajaú (Extremo Sul de São Paulo), onde a Periferia em Movimento se origina.

Falecida no final de agosto de 2024, aos 76 anos, Nalva Maria era fotógrafa e liderança comunitária, e deu sua contribuição no registro da história periférica bem antes de existirmos enquanto mídia. Ela também atuou com a gente na produção do podcast “E agora, PEM?”, um tutorial de como acessar direitos.

O evento de 15 anos aconteceu na Loja Floresta no Centro, do Instituto Socioambiental (ISA), no centro de São Paulo, e teve discotecagem da DJ Onika (integrante da coletiva Travas da Sul) e buffet servido pela Cozinha com Afeto.

Linha do tempo

Fundada em 2009 a partir do questionamento de três estudantes de jornalismo sobre a cobertura midiática das periferias, a Periferia em Movimento se consolida como uma produtora independente que amplifica as vozes das quebradas, rompendo com narrativas tradicionais e promovendo o protagonismo periférico.

Ao longo de sua trajetória, a PEM produziu mais de mil reportagens e inúmeras séries, produtos e conteúdos editoriais especiais que abordam temas como Luta por moradia (“Aonde Mora o Afeto?” e “Meu Endereço é a Luta”, por exemplo), Cultura e ancestralidade (“Matriarcas”, “Mulheres de Fé” e “Kalipety: Território seguro, alimento e vida”), Trabalho (“Diário do Corre”) e acesso a direitos em geral (“E agora, PEM?”).

Ao longo desse período, a Periferia em Movimento desenvolveu a metodologia Repórter da Quebrada, que utiliza ferramentas do jornalismo para investigar o cotidiano das periferias e empoderar populações. O projeto já contou com a participação de mais de 5 mil pessoas, a maioria jovens de escolas públicas, formando novas gerações de comunicadores engajados em suas comunidades.

Composta por uma equipe diversa em gênero, raça e vivências, a PEM garante que as narrativas produzidas reflitam a pluralidade das periferias, com impacto social gerado a partir denúncias de racismo em escolas, mobilização de candidaturas em debates eleitorais e influência em pesquisas acadêmicas.

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