Keit Lima: Moradora da Brasilândia defende “favela no orçamento” para combater apartheid social

Keit Lima: Moradora da Brasilândia defende “favela no orçamento” para combater apartheid social

Vereadora eleita pelo PSOL chega à Câmara Municipal e prevê uso de pautas morais como “cortina de fumaça” para aprovar projetos que retiram direitos da população mais pobre

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A entrevista com Keit Lima era para ter acontecido duas semanas antes. Mas no dia marcado, ela estava há horas sem energia elétrica e precisava economizar a bateria do celular. O perrengue não dá trégua. Na véspera do dia em que finalmente falamos, a rua em que ela mora na Brasilândia (zona Norte de São Paulo) ficou alagada.

“A Prefeitura não tem os mesmos dados sobre as enchentes nas periferias. E quando nos excluem dos dados, nos excluem da política pública. Nisso, quais casas vão encher? Quem vai ser mordido por rato e ter doenças que já eram consideradas erradicadas?”, questiona.

Para Keit, problemas como esse (que tendem a se tornar mais frequentes e intensos com a crise climática) só podem ser resolvidos ao incluir a favela no orçamento. E acredita que só alguém que vive essa realidade é realmente capaz de mudar a situação.

“Quando o direito chega nas favelas, é bom pra toda cidade, porque uma cidade justa é boa pra todo mundo” – Keit Lima

Em sua terceira tentativa em uma disputa parlamentar, a vereadora eleita conquistou 27,7 mil votos em outubro. Aos 33 anos, vai ocupar uma das 55 cadeiras da Câmara Municipal de São Paulo a partir de 2025.

Ex-assessora parlamentar na Mandata Ativista na Assembleia Legislativa, com passagens pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e militante desde os 13 anos no movimento negro, ela pretende apresentar projetos em todas as áreas disputando as prioridades na distribuição de recursos pela cidade.

“A gente cria projetos incríveis nos movimentos sociais, mas os projetos não vão para frente porque não têm orçamento (…) Não dá para um orçamento ser ferramenta de apartheid dentro da nossa cidade”, observa.

“Cortina de fumaça”

Parte da oposição ao prefeito Ricardo Nunes (MDB), reeleito com apoio de bolsonaristas, Keit sabe que os próximos períodos serão desafiadores.

Com uma base composta por integrantes da política tradicional, o chamado “centrão”, além de representantes da extrema-direita, ela prevê que Nunes deve intensificar os projetos de terceirização e desmonte de direitos.

“A gente vai ter uma Câmara e uma Prefeitura que vão usar de cortina de fumaça as pautas de moral e costumes para passar retrocessos. ‘Mete uma polêmica e passa terceirização, tira direitos que já deveriam ser garantidos’. Vai ser uma grande performance”, acredita.

Por isso, ela defende que os mandatos devem ter um caráter pedagógico, e explicar à população o funcionamento da Câmara e quais projetos estão em discussão.

Isso passa pela comunicação e pela articulação. Em uma campanha bem sucedida, Keit usou de memes a vídeos criativos para conquistar votos.

Agora, além de manter a estratégia digital, ela propõe uma coordenação ampliada de seu mandato com a participação de movimentos sociais.

“A gente já faz política a partir do chão que pisa. Agora, estamos indo pro Legislativo como ferramenta para diminuir desigualdades. É um mandato que vai ta dentro das favelas e a comunicação é parte fundamental. Porque, se minha avó não entende o que estamos falando, o problema tá com a gente”.

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