Hortas comunitárias, cozinhas solidárias, restaurantes populares e distribuição de cestas básicas. Essas estão entre as principais propostas de enfrentamento à fome que aparecem nos planos de governo das 10 candidaturas à Prefeitura de São Paulo nas eleições que acontecem em 6 de outubro.
Mas há diferenças nítidas: enquanto partidos de esquerda, como PSTU e UP, relacionam a situação ao capitalismo, o neoliberal Partido Novo sequer cita o problema.
O enfrentamento à fome é urgente. Na última semana, o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional do município divulgou um estudo feito em parceria com as universidades federais de São Paulo (Unifesp) e do ABC (UFABC) que revela: cerca de 1,4 milhão de pessoas vivem em insegurança alimentar grave na cidade.
Isso equivale a 12,5% da população, ou 1 a cada 8 habitantes da capital paulista, que vivenciam uma ruptura no consumo de alimentos e ingestão mínima de calorias. E cerca de dois terços (65,5%) deixaram de comprar comida para pagar alguma conta.
Ao todo, 50,5% da população paulistana – cerca de 5,8 milhões – vivem com algum grau de insegurança alimentar, que vai desde a fome até a incerteza se vai conseguir se alimentar no próximo dia. A situação é mais comum nas periferias da cidade, especialmente em distritos da zona Leste.
Por isso, a Periferia em Movimento analisou os planos de governo de quem concorre à Prefeitura paulistana e resgata as principais propostas relacionadas ao combate à fome, à pobreza e para geração de trabalho e renda. Aqui, você confere os planos na íntegra.
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Contra a fome
Criador do projeto de lei que institui a política de cozinhas solidárias, o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) pretende criar unidades do tipo em São Paulo. Durante a pandemia, essas cozinhas foram montadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), do qual Boulos foi coordenador.
O candidato apoiado por Lula (PT) fala em abrir restaurantes populares e ampliar os sacolões em distritos com incidência da fome.
Datena (PSDB) reconhece o problema da fome, fala em fortalecer a rede de proteção social na cidade, mas não traz propostas específicas contra a segurança alimentar. Por outro lado, pretende ampliar a experiência dos Armazéns Solidários nas periferias.
O programa consiste em lojas populares com produtos a preço mais barato para famílias do Cadastro Único (CadÚnico). Criado por Ricardo Nunes (MDB), o atual prefeito pretende dar continuidade à iniciativa, assim como a rede de restaurantes Bom Prato (que é administrada pelo governo estadual), a distribuição de 160 mil cestas básicas por mês e a rede Cozinha Escola, lançada recentemente por sua gestão.
Tabata Amaral (PSB) também fala em fortalecer a rede de Armazéns Solidários e os sacolões municipais, além de criar novos Bancos de Alimentos.
Além disso, a deputada federal defende alimentação de qualidade nas escolas e quer incentivar a agricultura urbana e periurbana, e a criação de um cinturão verde para favorecer a agricultura familiar por meio do programa Da Horta à Mesa.
Ricardo Senese (UP) vai nessa linha, com compra de alimentos da agricultura familiar e do Movimento Sem Terra (MST), a expansão de hortas comunitárias e criação de feiras permanentes.
Assim como a UP, o PSTU de Altino Prazeres e o PCO de João Pimenta relacionam a fome à própria estrutura do capitalismo, que precisa ser combatido para garantir alimentação a todo mundo.
Do outro lado do espectro político, o influenciador de extrema-direita Pablo Marçal (PRTB) também reconhece a insegurança alimentar, mas não apresenta propostas específicas. Já a neoliberal Marina Helena (Novo) sequer cita a fome em seu plano de governo e muito menos propõe medidas para o enfrentamento.
Combate à miséria
Outro grave problema a ser enfrentado pela Prefeitura de São Paulo é a miséria.
Em seu plano de governo, Datena (PSDB) não detalha como mas quer promover justiça social, igualdade e inclusão para 760 mil pessoas vivendo em extrema pobreza na cidade, entre elas 60 mil em situação de rua.
Segundo o Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com a População em Situação de Rua, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o número é ainda maior: seriam 80 mil pessoas nessa condição em São Paulo, uma marca da gestão de Ricardo Nunes (MDB), que tenta se reeleger.
O atual prefeito cita a ampliação de programas como o Reencontro, que oferece moradia transitória, auxílio-aluguel e inclusão em programas o Operação Trabalho (POT) para quem vive nas ruas.
Seu principal oponente no campo bolsonarista, o influenciador Pablo Marçal (PRTB), trata o assunto como uma questão de mentalidade e cita a “Jornada da Prosperidade”. Nesse caso, ele pretende focar no desenvolvimento da autonomia individual com apoio psicológico e do empreendedorismo para vencer a pobreza.
Já Boulos (PSOL) pretende reformar o antigo Renda Mínima e integrá-lo à futura implementação da Renda Básica de Cidadania, prevista em lei federal. O plano de governo também prevê ampliar os Centros de Referência de Assistência Social (CRAS) para atender os 96 distritos de São Paulo.
Os CRAS são responsáveis, por exemplo, por gerenciar o Cadastro Único e acompanhar quem recebe o Bolsa Família, entre outros benefícios. Datena (PSDB) também pretende ampliar as unidades.
Já Altino (PSTU) defende a redistribuição de renda retirada de pessoas bilionárias e isenção de impostos à classe trabalhadora. Uma forma de fazer isso seria integrar a população na discussão da Lei Orçamentária Anual (LOA) e revogar a Lei de Responsabilidade Fiscal, que limita a forma como os recursos devem ser gastos.
Candidata do Novo, Marina Helena quer combater a miséria com parceria com ONGs e empresas privadas, “com base em eficiência e resultados”, atacando as causas da situação. Sem detalhar como, também fala em incluir a população em situação de rua no mercado de trabalho em parceria com setor privado.
Emprego e renda
Datena (PSDB) quer criar o Territórios de Emprego, estimulando a geração de emprego próximo às áreas de concentração de moradia. O candidato não detalha como seria a medida.
Na mesma pegada, Boulos (PSOL) visa impulsionar a geração de empregos fora das regiões tradicionais da cidade, simplificando licenciamentos e alvarás para pequenas e médias empresas. Ele também planeja implementar um plano de desenvolvimento local com benefícios fiscais e estímulo ao crédito.
Tabata quer investir em cursos de curta duração para capacitar 100 mil pessoas em áreas de alta demanda no mercado de trabalho e ampliar o crédito para pequenos e microempreendimentos. A deputada defende reformular o POT para alcançar um público maior, com foco na inclusão produtiva de populações vulneráveis.
O POT é uma aposta de Nunes para gerar emprego, com a ampliação para 18 mil vagas na cidade. Ricardo Nunes destaca ainda que as ações da Prefeitura sob sua gestão geraram 130 mil vagas de trabalho formal na cidade em 2023.
A UP de Ricardo Senese também defende criar frentes emergenciais de trabalho e realizar concursos públicos para gerar empregos dignos, com participação de mutirões comunitários.
Altino (PSTU) defende reduzir a jornada de trabalho a 30 horas semanais e dobrar o salário mínimo na cidade de São Paulo.
João Pimenta (PCO) defende o direito de camelôs e ambulantes trabalharem sem repressão e propõe o calote ao pagamento da dívida interna, que estaria drenando recursos de programas sociais para enriquecer banqueiros.
O candidato Bebeto Haddad (DC) não apresentou um plano de governo em seu registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Thiago Borges