Por Paula Sant’Ana (reportagem e fotos). Cobertura fotográfica de Pedro Ariel Salvador e Vitori Jumapili. Edição de texto: Thiago Borges. Artes: Rafael Cristiano
Já parou para pensar na rotina de pessoas que se candidataram nessas eleições? Depois de todo o corre para tornar a situação oficial, chegam os atos de campanha. É panfletagem pra cá, posts em redes sociais pra lá. Em um pleito em que o Congresso Nacional deve ter os menores índices de renovação, candidaturas periféricas se esforçam ainda mais para colocar suas propostas em pauta, com poucos recursos financeiros e tentar garantir os votos necessários para a eleição no próximo domingo (2/10).
Confira o que acompanhamos!
Douglas Belchior (PT)
Fundador da rede de cursinhos populares Uneafro Brasil, o professor de história do Extremo Leste da Grande São Paulo disputa a sua quarta eleição para uma cadeira no poder legislativo. A expectativa é grande. Em 2018, o candidato por muito pouco não foi eleito deputado federal.
Durante a pré-campanha eleitoral, a base social articulada foi bastante acionada para pautar os direitos humanos e a luta contra o racismo. Assim, a candidatura de Douglas vem se construindo de forma orgânica, com apoio de várias lideranças do movimento negro brasileiro, como Sueli Carneiro, a artistas como Emicida.
A candidatura é uma das apostas do Partido dos Trabalhadores (PT) neste pleito e recebeu mais de R$ 2,3 milhões em recursos – quase um terço por meio de doações de pessoas físicas e o restante do fundo eleitoral.
No último sábado (24/9), após subir ao palco de Lula no comício em Itaquera (zona Leste de São Paulo), Douglas se reuniu com pessoas que apoiam sua candidatura para falar das últimas ações de campanha. O encontro reuniu lideranças locais da ZL, de Guarulhos, Poá e da Baixada Santista.
“É um território muito importante da nossa caminhada histórica. O movimento negro que ajuda a construir a Uneafro sempre teve raízes na zona leste de São Paulo”, disse ele, reforçando o foco para conquistar votos na reta final. “É um momento que precisamos ampliar os esforços, aparecer mais e dar mais volume a uma campanha que já tem sido longa. Chega nesse momento, a galera já está apresentando um cansaço”.
Isis Mustafá (UP)
Jovem negra, periférica e estudante na Universidade Federal do ABC (UFABC), Isis Mustafá é a única candidata a deputada federal da Unidade Popular pelo Socialismo (UP) por São Paulo. O partido mais novo do Brasil também é o que soma o maior número de candidaturas de pessoas negras.
E entre as dificuldades vividas, a agremiação denuncia principalmente a falta de visibilidade na grande mídia. No último sábado (24/9), Isis esteve com colegas de partido na calçada do Teatro Municipal, no centro de São Paulo, para apontar a ausência do candidato Léo Péricles nos debates presidenciais na TV.
“O Teatro Municipal é um marco da expressão do racismo e do elitismo no Brasil. Durante muitos anos, os negros não puderam entrar no Teatro Municipal. Então, fazer um ato ali na frente é simbólico pra que a gente possa registrar que o povo negro vai tomar os lugares que lhe foram negados durante tempo, inclusive os espaços de poder”, diz ela.
Junto a pessoas filiadas ao partido, Isis entregou panfletos e falou ao microfone para trazer mais reconhecimento para o partido recém-organizado. A candidatura recebeu apenas R$ 34 mil em recursos financeiros, sendo que 72% são oriundos do fundo eleitoral. Por isso, a campanha travou uma disputa com trabalho de formiguinha, com ações porta a porta e visitas na casa de famílias nas periferias, entendendo que o trabalho não começa e muito menos termina com as eleições.
Paulo Ataíde (PMN)
Natural do bairro da Liberdade, em Salvador, Paulo Ataíde cresceu em meio à arte – e a música o trouxe para São Paulo. Na periferia da capital paulista, ele conheceu a Igreja Apostólica Brasil-África e, com a junção de sua história e a conversão, neste ano ingressou na política institucional.
Candidato a deputado federal pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN), Paulo faz campanha para Tarcísio Freitas (Republicanos) ao governo do estado. Seu partido não está em nenhuma coligação nacional. A candidatura recebeu R$ 30 mil do fundo eleitoral para se viabilizar.
Autodeclarado conservador, Paulo defende a cultura e o terceiro setor; o direito à educação para crianças, em especial para aquelas com transtorno de espectro autista.
No dia 15 de setembro, acompanhamos o candidato em panfletagem em uma feira livre do Parque Ipê, região do Campo Limpo (zona Sul de São Paulo). Caminhando pela rua e conversando com a vizinhança, o candidato conversava com feirantes e clientes, que aceitavam os papéis e até pediam fotos – principalmente quando Paulo explicava ser morador da região.
“Sou filho do bairro, moro aqui no Parque Regina, sou filho da periferia e sempre andei por essas ruas aqui, fazendo projetos sociais. E aí, eu escolhi a feira porque tem a ver com um projeto meu, inclusive. Fiquei sabendo que querem mudar o horário da feira. Isso prejudica culturalmente o costume dos vendedores e comerciantes”.
Paula Sant'Ana, Pedro Salvador, Vitori Jumapili, Thiago Borges, Rafael Cristiano