Trabalho de base e pressão externa.
Parece clichê, mas essas são as principais estratégias da vereadora Luana Alves (PSOL) em seu segundo mandato na Câmara Municipal de São Paulo.
“O que pode balançar [parlamentares] é pressão de fora (…). Os vereadores ficam desesperados quando a gente faz a divulgação pública das votações internas. Um card que é espalhado [nas redes sociais] pode fazer o vereador [da situação] mudar de posição”, explica Luana.
Aos 31, anos, com mais de 83 mil votos em 2024, ela é a primeira vereadora negra reeleita no Legislativo paulistano.
Se há quatro anos, era uma novata que fazia história nesse espaço junto a outras vereadoras negras, como Erika Hilton e Elaine do Quilombo Periférico, agora ela carrega o histórico de ter cassado um vereador por racismo pela primeira vez no País e enfrentar uma gestão municipal que deu uma guinada à direita.
A experiência permite dizer que os próximos quatro anos não serão fáceis.
Junto a mais 17 parlamentares do PT, PSOL, PSB e Rede, Luana vai fazer parte da minoria de oposição na Câmara paulistana, que tem 55 cadeiras ao todo.
O predomínio do prefeito Ricardo Nunes (MDB) e suas alianças deve facilitar a aprovação de projetos de lei que favorecem seu grupo político.
“Vamos ter que aumentar e multiplicar a capacidade de enfrentamento. A cidade de São Paulo é muito dura pra quem mora em várias periferias” – Luana Alves, vereadora reeleita.
Luana avalia que muito da reeleição de Nunes se deve ao aparelhamento da máquina pública, cooptando organizações esportivas, culturais e da assistência social.
Além de se alinhar ao bolsonarismo, Nunes teria usado a Prefeitura para favorecer grupos políticos aliados nas periferias e angariar votos.
Ela cita, por exemplo, que não conseguiu sequer destinar uma emenda parlamentar para a reforma de uma praça no Jardim Colombo – região em que ela mora, na zona Oeste de São Paulo. A Prefeitura não aprovou seu projeto, mas liberou a verba para um projeto similar apresentado depois por um vereador aliado do subprefeito do Butantã.
A responsabilidade da esquerda
Se por um lado, Nunes apelou a diferentes meios para vencer as eleições, por outro a esquerda tem sua parcela de responsabilidade na derrota.
Militante do PSOL há 12 anos, Luana avalia que a tentativa de moderar a candidatura de Guilherme Boulos (PSOL) afastou os votos indignados que ele atraiu em 2020.
A própria Luana diz ter ouvido relatos de pessoas que votariam nela por concordar com propostas como a redução de danos no uso de droga, mas que também votaram no influenciador ultradireitista Pablo Marçal (PRTB) para prefeito.
“A questão é onde a indignação tá sendo canalizada. Em outros períodos da história, ela seria canalizada principalmente por movimentos de luta contra o sistema, mas hoje existe essa disputa com a extrema-direita para captar essa indignação. E isso tem um nome: fascismo, que é juntar ideias reacionárias com movimento de massa” – Luana Alves.
Luana observa que a resposta está na economia.
Ela nota, por exemplo, uma dificuldade em reter jovens nos cursinhos populares da Rede Emancipa, da qual faz parte. Muitas pessoas optam por deixar o ensino médio e trabalhar com entregas por aplicativo, que garantem um retorno mais rápido, mesmo sem direitos trabalhistas.
Com a precarização das condições de trabalho e aumento das desigualdades sociais, o poder de compra diminui, assim como as perspectivas de futuro das pessoas mais pobres. Não por acaso, a ideia de empreendedorismo é tão atraente.
Nesse sentido, ela observa que o próximo mandato será marcado pelo combate à terceirização de serviços públicos, especialmente na saúde e na educação.
“Vamos ter papel no enfrentamento da precarização, da qualidade do serviço e da privatização”, diz ela.
Além disso, a questão ambiental deve atravessar o período, inclusive com a previsão de crise hídrica. Por isso, o trabalho de base deve ser fundamental.
“Precisamos do fortalecimento de movimentos sociais, sindicatos, coletivos e grupos para fora das bolhas ideológicas (…) É importante espalhar o que está acontecendo e cada vez mais ajustar nossa política e se fazer entendido pela população”, completa.
Thiago Borges