Candidatas trans, indígenas e periféricas defendem direitos de maioria da população

Candidatas trans, indígenas e periféricas defendem direitos de maioria da população

Consideradas “identitárias” por grupos que dominam a política, concorrentes apresentam propostas de transformação social a partir de quem sempre ficou de fora do poder

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Tempo de leitura: 6 minutos

Por Paula Sant’Ana. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano

A “primeira pessoa trans” eleita na cidade. A “primeira indígena” na Câmara. A “primeira mulher negra e periférica” a ocupar essa cadeira. Nas eleições recentes, ouvimos frases como essas como marcos históricos – afinal, grupos que têm menos direitos garantidos finalmente ganharam alguma representação nos espaços de poder.

O caminho é longo para que essa representação seja equivalente à população brasileira, então muitas candidaturas levantam as bandeiras atreladas aos movimentos que representam grupos de mulheres, pessoas negras, indígenas, periféricas, LGBTQIAP+.

Muito além de pautas consideradas específicas, essas candidaturas apresentam propostas que dizem respeito à maioria da população. A reportagem da Periferia em Movimento conversou com três candidatas sobre isso: Neon Cunha, Chirley Pankará e Silvana Garcia.

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Neon Cunha: Educação, saúde e empregabilidade

Neon Cunha (divulgação)

Neon Cunha (divulgação)

Pensando no que nos aproxima e diferencia, Neon Cunha, 54, pontua a importância de entender o sistema do qual fazemos parte.

“A gente se conecta na pobreza, na miséria, na desigualdade social. Quando a gente pensa em pautas identitárias, e faço as intersecções, não consigo desmembrar uma coisa da outra a não ser na leitura do privilégio. Direito é direito, privilégio é privilégio” – Neon Cunha, candidata a vereadora em São Paulo pelo PSOL.

Mulher negra, ameríndia e transgênera (nesse grau de importância), Neon é designer e servidora pública. Ela entende que ser uma mulher negra é uma das bases de sua condição política.

Educação de qualidade desde a primeira infância, saúde integral e empregabilidade são algumas das principais pautas para a comunicadora. Segundo levantamento do Todos Pela Educação, cerca de 178 mil crianças não frequentam a pré-escola por dificuldade de acesso. O número corresponde a cerca de 42% das crianças nesta faixa etária. Estima-se que a taxa de desemprego é de 7,9%, com taxas maiores para mulheres, pessoas pretas e pardas e aquelas com ensino médio incompleto.

Chirley Pankará: Pelo meio ambiente

“Não aceito estar em um lugar que me engesse, que não me deixe participar de políticas públicas. Tenho relação com os indígenas que estão em situação de contexto urbano e tenho essa relação com os indígenas das aldeias” – Chirley Pankará, 50 anos, candidata a vereadora em São Paulo pelo PSOL.

Chirley Pankará (foto: divulgação)

Chirley Pankará (foto: divulgação)

Integrante da luta indígena no Brasil, a educadora Chirley Pankará destaca que tem levantado principalmente pautas ligadas ao meio ambiente, pensando na proteção da biodiversidade, e da cultura, justiça social e educação inclusiva. Ela entende que esses setores englobam não só grupos minorizados de direitos.

“Quando falo de meio ambiente, não posso dizer que os povos indígenas respiram esse ar sozinhos. O ar não é dos indígenas, só. Quando falo de questões de mudanças climáticas, estou falando pra uma nação”, destaca a candidata.

A capital paulista foi a metrópole com o pior ar do mundo durante cinco dias seguidos – entre 9 e 13 de setembro. A situação melhorou um pouco nos dias seguintes, mas segue alarmante, trazendo inclusive uma série de protestos na cidade.

Por fim, a mestra em Educação pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-SP) e doutoranda em Antropologia Social pela Universidade de São Paulo (USP), demonstra a importância de falar “um pouco sobre tudo”, por estar interconectado.

“Pego eixos que dá pra dar uma circulada em outros, sem fechar minha pauta. Não discuto isso porque a relação indígena é circular, não linear”, completa.

Silvana Garcia: Contra os despejos

“O governo do PSTU tem lado. Não adotamos o discurso de que governaremos ‘para todos’ pela simples razão de que isso é impossível. Eleição após eleição os candidatos dos ricos se revezam no poder fazendo acenos ao povo trabalhador, mas atendendo aos interesses dos bilionários capitalistas” – Silvana Garcia, 60 anos, candidata a vice-prefeita na chapa com o metroviário Altino Prazeres (PSTU).

Silvana Garcia (foto: divulgação)

Silvana Garcia (foto: divulgação)

Natural de Belém do Pará e moradora da capital paulista desde 2010, Silvana é diretora da Associação de Moradores da Ocupação Jardim União, uma ocupação por moradia criada em 2013 que virou bairro no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo).

Integrante do movimento Luta Popular e diretora da CSP Conlutas, ela é técnica em segurança do trabalho e destaca saúde, educação, transporte e habitação como principais temáticas da campanha à Prefeitura de São Paulo.

A defesa de um Sistema Único de Saúde (SUS) 100% público, estatal e de qualidade, mais investimento em educação, passe livre todos os dias e despejo zero são algumas das propostas da chapa de esquerda na disputa para comandar a maior cidade do País.

“Precisamos de coisas que são básicas, e que o sistema capitalista nega principalmente a esses setores no interior da classe trabalhadora, que é emprego, moradia, acesso à educação, saúde, cultura, lazer, etc”, complementa a candidata.

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