Reeleito em SP, Nunes vence Boulos com menos votos do que a soma de brancos, nulos e abstenções

Reeleito em SP, Nunes vence Boulos com menos votos do que a soma de brancos, nulos e abstenções

Vitorioso em 54 das 57 zonas eleitorais, prefeito bolsonarista perdeu para deputado apoiado por Lula apenas no Piraporinha e Valo Velho (na zona Sul), e na Bela Vista (Centro). Especialista aponta descrença do eleitorado e fragilidade da democracia

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Tempo de leitura: 6 minutos

Não deu para Guilherme Boulos (PSOL), de novo. Em sua segunda disputa à Prefeitura de São Paulo, o deputado federal oriundo do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) foi novamente derrotado por uma candidatura da direita: dessa vez, para o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB), que venceu a disputa com 3,3 milhões de votos (59,36% dos votos válidos) contra 2,3 milhões do oponente de esquerda (40,64%).

O resultado repete um padrão observado na eleição de 2020, em meio à pandemia de covid-19, quando Boulos perdeu a disputa para Bruno Covas (PSDB) praticamente com o mesmo percentual de votos.

Mas outro número chama a atenção: o de quem não votou em ninguém ou sequer foi à seção eleitoral.

A cidade de São Paulo tem mais de 9,4 milhões de pessoas aptas a votar. Desse total, 2,9 milhões não foram votar (31,5% do eleitorado). E mais de 664 mil pessoas (11% dos votos totais) votaram em branco ou nulo. Ao todo, foram 5,7 milhões de votos válidos, quase 400 mil a menos que no primeiro turno.

“Existe uma profunda descrença com o sistema eleitoral e que expressa a fragilidade da nossa democracia”, aponta Tiaraju Pablo D’Andrea, que coordena o Centro de Estudos Periféricos (CEP) na Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) da zona Leste.

Tiaraju Pablo D’Andrea

Para o professor e pesquisador, outros fatores contribuem para essa fragilidade: desde os ataques de Pablo Marçal (PRTB) sem respostas contundentes das autoridades, a acusação sem provas feita pelo governador Tarcísio (Republicanos) no dia da eleição até a falta de ênfase no escândalos de Nunes, como a máfia das creches, as obras sem licitação ou a infiltração do crime organizado na Prefeitura.

“E tem o uso de emendas parlamentares, que vêm de deputados federais e vai se capilarizando em várias quebradas. Isso é a reatualização da república velha brasileira, do coronelismo, e demonstra que a democracia avançou pouco porque algumas fórmulas continuam se reproduzindo ao longo do tempo”, continua Tiaraju.

O que os números apontam?

Boulos ganhou apenas no Piraporinha (51,68%) e Valo Velho (51,6%), além da Bela Vista (55,24%), que fica no Centro da cidade.

Já Nunes venceu em 54 das 57 zonas eleitorais, mas com percentuais diferentes. As maiores votações aconteceram em bairros ricos e de classe média alta, como Indianópolis (69,78%), onde registrou sua maior votação. Também foi muito bem votado na Mooca (68,15%), Santo Amaro (67,82%), Santana (67,03%), Jardim Paulista (65%).

Se Boulos venceu em 14 periferias paulistanas no primeiro turno, ele aumentou a votação nesta rodada. Mas na maioria delas ficou atrás de Nunes, que repetiu o bom desempenho no Pedreira (62,54%), Cidade Ademar (60,48%) ou Lauzane Paulista (64,9%).

“Se conflagrou em São Paulo um anel suburbano em volta do Centro que é conservador, e que Nunes teve mais votos. Depois, nas periferias em transição, tem uma variação com Nunes na frente, mas varia em diferença. Na Cidade Tiradentes, por exemplo, Nunes ganhou por 1%, o que é muito pouco. No Campo Limpo (51,3% para Nunes) e Capão Redondo (51,6%), também foi pouca diferença” – Tiaraju

Em outras quebradas, as diferenças também variam. Nunes venceu no Extremo Sul, como o Grajaú (54,73%), onde teve margem apertada no primeiro turno; em Parelheiros, ficou com 56,44%.

Também recuperou terreno em Perus (56,72% dos votos) e na Brasilândia (58,55%).

Na zona Leste, obteve votação expressiva no Cangaíba (62,29%). Também ganhou em São Miguel Paulista (59,55%); Itaim Paulista (58,23%); Itaquera (58,22%); Jardim Helena (57,74%); Cohab José Bonifácio (55,45%); Guaianases (55,19%); São Mateus (53,33%).

Para Tiaraju, os números não podem desanimar o campo progressista, já que o resultado geral repete 2020. É preciso olhar além do mapa.

“Não dá pra dizer que periferia ficou mais à direita, só mudaram alguns distritos”, diz ele, que também nota uma migração em massa de quem votou em Marçal no primeiro turno para o candidato oficial do bolsonarismo.

“Isso mostra que tem uma direita e uma centro-direita que fecham junto, e a esquerda bate no teto de 40% dos votos válidos, o que é importante reter neste momento”, completa Tiaraju.

Mapa de votação elaborado pelo Portal G1 mostra resultado por zona eleitoral. Em verde, os bairros em que Ricardo Nunes teve maioria dos votos (reprodução)

Mapa de votação elaborado pelo Portal G1 mostra resultado por zona eleitoral. Em verde, os bairros em que Ricardo Nunes teve maioria dos votos (reprodução)

 

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