Festival Mulheres no Funk destaca protagonismo feminino e valoriza cultura que é criminalizada

Festival Mulheres no Funk destaca protagonismo feminino e valoriza cultura que é criminalizada

Evento realizado na Cidade Tiradentes, berço do funk em São Paulo, pauta interesses de mulheres funkeiras e combate estigmatização da cultura

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Por André Santos (texto e fotos). Edição: Thiago Borges

Oficinas de produção musical, rodas de conversa, exibição de curtas e documentários, exposição fotográfica, desfile de moda, batalha de passinho… e tudo isso ao som das músicas de artistas locais renomados, como DJ Menezes, MC Nego Blue e MC Cebezinho.

Esse foi o tom do primeiro Festival Mulheres no Funk, que aconteceu nos dias 29 e 30 de abril no Centro de Formação Cultural da Cidade Tiradentes (Extremo Leste de São Paulo), considerado berço do ritmo na capital paulista.

Produzido pela FNMF – Frente Nacional de Mulheres do Funk, o evento inédito contou com programação 100% gratuita, com atividades e atrações voltadas à valorização de uma cultura que ainda sofre muito com a estigmatização.

“Além de ser organizado por mulheres, eu particularmente, nunca vi um festival só de funk, e foi isso que a gente trouxe. Todos os MCs, os DJs, todas as atividades… foi tudo voltado pro funk. Então foi importantíssimo pra nós mulheres, pra quebrada e pra cultura do funk também”, diz Larissa Manoel, a MC Lalão do TDS – Taboão da Serra, 26 anos, uma das articuladoras do movimento e atração do festival.

Articulação nacional

Fomentado através do VAI, uma política pública da Prefeitura de São Paulo, o festival foi o primeiro organizado pela FNMF, nascida em 2017 e articulada a partir da atuação da pesquisadora Renata Prado. O coletivo conta com abrangência nacional, com representantes de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Pernambuco.

“O festival é inédito, mas a produção de bailes funk por mulheres não é nova. Isso é algo que é comum em várias quebradas e favelas do Brasil inteiro”, explica Maíra Neiva, advogada popular, produtora cultural, professora universitária e articuladora da FNMF. De acordo com Maíra, que é de Belo Horizonte, essa articulação se deu a partir da necessidade de combater a inviabilização feminina dentro da cultura do funk e para que as mulheres assumam o papel de porta-vozes de suas próprias demandas e narrativas.

Mc Lalão do TDS segue a mesma linha. Ela diz que o festival é um importante marco para as mulheres que estão introduzidas nesse universo, uma vez que esse espaço cultural ainda é muito fechado para os homens.

“No funk, quem reina é o homem. Então, [o fato de] mulheres articularem um evento desse na quebrada é provar que a gente tem a capacidade de fazer todas as fitas que forem possíveis quando a gente se une”, comenta.

Valorização da cultura

Outro ponto de destaque do festival foi a proposta de apresentar diferentes manifestações artísticas e criativas para além do eixo musical. A exposição fotográfica “Sobrevivendo no Inferno”, o desfile de moda com artigos de crochê e a batalha de passinho, por exemplo, trazem elementos e referências presentes no cotidiano de diversas quebradas.

Além de promover o trabalho das artistas responsáveis, a inclusão dessa programação teve o intuito de apresentar novas possibilidades e despertar o sentimento de pertencimento ao público presente, sobretudo nas crianças.

“Eles já têm a mídia e o Estado criminalizando a cultura deles. Isso afeta a autoestima, né? Principalmente quando essa criança já é marcada pela violência, pela segregação, pelo estigma racial. Então, a ideia é trazer um significado extremamente positivo para a cultura funk, né? E uma integração para essas crianças entenderem que a cultura delas é bonita, assim como elas”, afirma Maíra.

MC Lalão do TDS comenta que o funk é, possivelmente, o ritmo mais presente e influente nas quebradas do Brasil e também o de maior repercussão mundial, que ainda assim não recebe a devida atenção e valorização e carece de espaços na cobertura midiática.

Além disso, conta que o festival nasce também com o intenção de ser um espaço seguro para o público, uma vez que a cultura dos bailes é criminalizada na rua e os jovens frequentadores tornam-se alvo de violências.

“O que vale pra nós é isso, as crianças pequenininhas tudo curtindo, dançando, aproveitando a vida, vivendo o que o funk tem de melhor, tá ligado? Porque nós também não é bobo, nós tá ligado que no meio da nossa cultura e alguns espaços infelizmente existem coisas que é foda, né, mano? Então, a gente traz isso em outra perspectiva, num espaço que é seguro, que não precisa a polícia invadir pra fazer nada com nós tá ligado? Porque é o que geralmente acontece no baile”, conta Lalão.

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