Fome, crise e sofrimento: Nas eleições, precisamos falar dos “demônios” reais que atormentam periferias

Fome, crise e sofrimento: Nas eleições, precisamos falar dos “demônios” reais que atormentam periferias

Neste editorial, Periferia em Movimento dá o tom de como será nossa cobertura jornalística das eleições de 2022 que começa neste dia 16 de agosto

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Imagem em destaque: Eleições municipais em 2020 (crédito Douglas Fontes)

Na linha 6099-10, que liga a divisa de Parelheiros com o município de Embu-Guaçu (SP) ao Terminal Grajaú (Extremo Sul da cidade de São Paulo), uma jovem moça pede dinheiro ou qualquer alimento que alguém possa ter consigo. “Eu ainda não comi hoje”, diz. Passa das 14h e ela ainda não comeu!

Na mesma região, bem perto da sede da Periferia em Movimento, todos os dias uma organização social distribui marmitas. A entrega acontece ao meio-dia e é feita por onde de chegada. A cada dia, a fila começa a se formar mais cedo. Não tem comida pra todo mundo.

Na rua acima, avenida dona Belmira Marin, o restaurante Bom Prato poderia fornecer alimentação de qualidade a preço baixo (R$ 1 pelo almoço), mas segue fechado pelo Governo do Estado de São Paulo.

Em todo o País, são mais de 33 milhões de pessoas passando fome. E mais da metade da população brasileira em insegurança alimentar, sem ter a certeza de que vai ter o que colocar no prato no dia seguinte. Enquanto o governo federal toma medidas eleitoreiras para baixar o preço da gasolina, o litro do leite já tá mais caro que o combustível que abastece os carros. Diante da carestia no supermercado, o aumento momentâneo do Auxílio Brasil é insuficiente para atender à multidão que precisa.

A crise é econômica e social: milhares de pessoas sem condições de bancarem um aluguel hoje vivem em situação de rua, inclusive crianças e adolescentes – e em bairros periféricos. Jovens que voltaram para as aulas presenciais após 2 anos de isolamento estão emocionalmente frágeis e com poucas perspectivas de futuro, que profissionais da educação tentam manter visíveis no horizonte.

Famílias inteiras, despedaçadas pela covid-19, ainda não têm suporte estatal para lidar com a orfandade. Essa pandemia, que deixou um rastro de dor e sofrimento, também deixa um SUS enfraquecido com falta de dipirona para doenças comuns e profissionais de saúde com habilidade para lidar com sintomas de uma nova enfermidade: a desinformação, que ajudou o coronavírus a circular e agora colabora nas campanhas de vacinação históricas, como a que impede a proliferação de sarampo e poliomielite, por exemplo.

Essas mensagens falsas colaboram para um clima de desconfiança generalizada e alimentam a violência. E violência esta que em muitos casos é promovida pelo próprio poder público. Entregadores de aplicativo são alvos de medidas  eleitoreiras, com comandos policiais em busca de ladrões motorizados. Incursões em favelas e outras áreas pobres abrem espaço para a montagem de palanques em cima de sangue e corpos.

Dos púlpitos às redes, lideranças religiosas fundamentalistas se valem do racismo para pregar contra o que chamam de “demônios” e de uma guerra do “bem contra o mal” que se manifestaria em grupos minoritários, que só estão defendendo o próprio direito de existir. Muitas dessas lideranças se aproveitam da miséria da população para ampliar o rebanho de fiéis em troca de cestas básicas e itens de subsistência.

A questão é que o demônio é real, muito concreto, na vida de famílias periféricas: a fome, a crise e o sofrimento generalizado atormentam, tiram o sono e a paz de quem vive nas margens da sociedade.

Na campanha eleitoral de 2022, que começa oficialmente nesta terça-feira (22/8), não queremos falar das alianças, dos conchavos, das estratégias de líderes dos partidos. Precisamos falar dos assuntos que se apresentam no dia a dia do povo, que sabe que a votação não é a salvação mas pode ser um passo importante para sair dessa situação.

Por isso, nos próximos 40 dias, a Periferia em Movimento vai acompanhar o período eleitoral a partir dessa análise, sempre considerando perspectivas de raça, gênero, sexualidade, classe e território.

Vamos tirar dúvidas sobre o processo eleitoral com o zapcast Eleições sem Neurose. Vamos abordar os desafios, potencialidades e limitações das candidaturas periféricas para o Legislativo. E analisar programas de governo de candidaturas para Governo do Estado de São Paulo e Presidência da República a partir das pautas dos movimentos sociais.

Acompanhe, comente, compartilhe e apoie! Esta cobertura é totalmente independente, sem patrocínio. Você pode colaborar com um PIX para a chave 42.115.575/0001-08 (CNPJ da Associação Periferia em Movimento).

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