Cria Histórias: Podcast resgata história de infâncias e adolescências para combater violências cotidianas

Cria Histórias: Podcast resgata história de infâncias e adolescências para combater violências cotidianas

Primeiro episódio da série aborda a Roda dos Expostos das Santas Casas de Misericórdia; e o legado de Madrinha Eunice, matriarca do samba paulistano que acolheu mais de 60 crianças. Ouça!

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Tempo de leitura: 5 minutos

Você já parou pra pensar na história das infâncias brasileiras? Em muitos momentos, essa é uma história de terror.

Assim, o podcast Cria Histórias inicia a série de quatro episódios em que busca responder e levantar novas questões sobre como e por que o abuso sexual continua sendo banal em comum no Brasil.

O primeiro episódio estreou nesta terça-feira (20/5), com o tema “Quem cria?”. O objetivo é lançar à luz reflexões sobre responsabilidade coletiva na criação de crianças e jovens, além da concepção de vida comunitária.

Ouça abaixo e confira todos os episódios e materiais de apoio aqui.

O podcast é produzido pela Cria Coragem,  iniciativa do Instituto Çarê que constrói novas narrativas sobre as infâncias, com foco na prevenção e erradicação ativa da violência sexual contra crianças e adolescentes.

Em cada edição, a pessoa espectadora é convidada a conhecer fatos marcantes pouco conhecidos e de diferentes épocas, que ajudam a entender como lidamos com crianças e adolescentes enquanto sociedade.

O lançamento acontece na esteira do Dia Nacional de Combate ao Abuso e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, lembrado no último domingo (18/5). Ao longo do mês, o tema é trabalhado nas ações de educação e assistência social que compõem a campanha “Faça Bonito”.

A comunidade cria

Apresentada por Luiza Akimoto, a narrativa resgata duas histórias da mesma época e do mesmo território: da Roda dos Expostos, dispositivo utilizado pelas Santas Casas de Misericórdia para receber as crianças ditas “enjeitadas” no começo do século 20; e da Madrinha Eunice, uma das matriarcas do samba paulistano, responsável junto à muitas outras pela criação de mais de 60 crianças em seu quintal na rua da Glória, centro da cidade de São Paulo.

Nascida no seio da Igreja Católica para acolher crianças e batizá-las, a Roda dos Expostos chega ao Brasil no século 18. Trata-se de uma estrutura cilíndrica instalada na porta das Santas Casas em que a pessoa que abandonava a criança deixava-a nesse espaço, tocava um sino e a mesma era recebida pela organização.

“O sobrenome que era dado a quem era abandonado era ‘Exposto’. Ou seja, você carregava pro resto da vida o estigma”, explica a entrevistada Danielle Franco da Rocha, que é historiadora, presidente do Instituto Bixiga, pesquisadora e liderança do curso História Social das Infâncias no Brasil.

A Roda dos Expostos foi desativada apenas em 1950. Foram quase 5 mil crianças órfãs institucionalizadas entre 1825 e 1960, muitas “enjeitadas” por pessoas com dificuldades financeiras ou por serem concebidas fora das normatividade da família tradicional – algo ainda existente hoje.

“A Igreja Católica ditou por muito tempo e isso ainda é um fantasma na educação da criança. E isso ainda tá nas escolas, nos livros, dita como você senta, como você se comporta. Isso ainda está muito presente” – Cláudia Alexandre, jornalista, escritora, apresentadora de TV, professora, pesquisadora e doutora em ciência da religião pela PUC-SP.

Somente em 1988, com a Constituição Federal que vigora até hoje, é que as crianças deixam de ser tuteladas e são reconhecidas como sujeitos de direito – seja à convivência familiar, à alimentação, à saúde, à educação.

Em outra perspectiva, a retomada da história de Madrinha Eunice coloca em perspectiva o cuidado comunitário com as crianças desde o tempo de escravização e de marginalização de pessoas negras livres.

Crescida no quintal como sua mãe, Rose Marcondes foi criada pela avó Eunice e hoje mantém seu legado – as orações dos terços, os orixás, a palha sobre a porta, a comida farta e o samba com a agremiação Lavapés.

O próximo episódio do podcast Cria Histórias estreia no dia 3 de junho e tem como tema “Por que trabalha?”. Confira no site da iniciativa

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