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A terça-feira (28/9) terminou com 64 mortes registradas na operação policial considerada a mais letal da história do Estado do Rio de Janeiro. Na manhã desta quarta (29/9), a soma aumentou: familiares e ativistas resgataram mais de 60 corpos em favelas dos Complexos da Penha e do Alemão, na zona Norte da capital fluminense.
De acordo com o jornal Voz das Comunidades, até esta manhã eram pelo menos 128 pessoas mortas, a maioria delas de pessoas moradoras desses territórios.
Ao todo, 2,5 mil policiais civis e militares foram mobilizados em ações para capturar lideranças criminosas e conter a expansão territorial do Comando Vermelho. Mas a operação causou medo na população, interrompeu serviços, fechou escolas e vias da cidade, e deixou um rastro de sangue.
Diversas organizações de direitos humanos e movimentos sociais criticam a medida, classificada como “bem-sucedida” pelo governador Cláudio Castro (PL), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Em nota, a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas aponta a operação letal como “terrorismo de Estado”.
“Cláudio Castro transformou a segurança pública em um show de horror, empilhando corpos pretos e pobres em nome de uma falsa sensação de ordem”, diz o texto da Coalizão, que é composta por 10 iniciativas jornalísticas de 6 estados brasileiros, incluindo a Periferia em Movimento em São Paulo.
“Exigimos o fim da política de extermínio travestida de segurança pública e a responsabilização imediata do Estado brasileiro por mais essa barbárie. Enquanto houver corpo favelado no chão, não haverá democracia”, continua o texto. Leia aqui.
Já a Coalizão Negra por Direitos aponta que a lógica da “guerra às drogas” é, na verdade, uma guerra ao povo negro dentro de periferias e favelas.
“O que o governador celebra é o avanço da necropolítica, um projeto de Estado que transforma a morte negra em política pública”, diz o da Coalizão, que é formada por centenas de organizações do movimento negro. Leia aqui.
A Coalizão Negra cobra ainda investigação, perícia independente e responsabilização de agentes, além de atuação urgente do Governo Federal e Ministério Público.
A articulação também assina, junto ao Instituto Marielle Franco e outras entidades, uma denúncia encaminhada à Organização das Nações Unidas (ONU) e à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH). A denúncia alerta para o descumprimento das medidas determinadas pela Corte Interamericana – entre elas, a criação de políticas públicas para redução da letalidade policial e o controle externo da atividade das forças de segurança.
“O Brasil não pode seguir naturalizando o extermínio da sua própria população”, aponta aqui o Instituto Marielle Franco.
“Segurança não se faz com sangue”
Em nota assinada por 29 organizações e movimentos sociais, incluindo Associação Amparar de São Paulo e o Instituto Papo Reto do Complexo do Alemão, os grupos denunciam o acontecimento como “uma matança produzida pelo Estado brasileiro”.
“Ao longo dos quase 40 anos de vigência da Constituição Federal, o que se viu nas favelas fluminenses foi a consolidação de uma política de segurança baseada no uso da força e da morte, travestida de ‘guerra’ ou ‘resistência à criminalidade’. Trata-se de uma atuação seletiva, dirigida contra populações negras e empobrecidas, que tem no sangue seu instrumento de controle e dominação”, diz a nota.
As organizações apontam que iniciativas como essa não garantem a segurança e instalam pânico nas famílias e o terror como expressão do poder estatal.
“Ao premiar o confronto e a morte, o governo estimula a mentalidade de guerra e transforma as comunidades em campos de batalha, onde moradores são tratados como ‘inimigos internos’”, diz o texto. Leia na íntegra aqui.


