Inovação ancestral com olhar para o futuro: Coalizão reúne mídias periféricas, faveladas, quilombolas e indígenas

Inovação ancestral com olhar para o futuro: Coalizão reúne mídias periféricas, faveladas, quilombolas e indígenas

Formada por 11 organizações que fazem conteúdo e atuam com educação midiática, articulação prevê incidência política local e nacional, troca de saberes e produções coletivas. Entenda!

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Foto em destaque: escambo da Periferia em Movimento no Quilombo Ivaporunduva (crédito Pedro Salvador)

Jornalistas e comunicadorus que atuam há mais de 10 anos em diferentes territórios do Brasil que historicamente são negligenciados no acesso a direitos lançam nesta quarta-feira (10/5) a Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas.

A proposta de atuação coletiva é uma iniciativa de 11 organizações: Periferia em Movimento, Desenrola e Não Me Enrola e A Terceira Margem da Rua (de São Paulo); Frente de Mobilização da Maré e Fala Roça (do Rio de Janeiro); Rede Tumulto (Pernambuco); Mojubá Mídias e Conexões (Bahia); TV Comunidades e TV Quilombo (Maranhão); Coletivo Jovem Tapajônico (Pará); e do Coletivo de Comunicação da CONAQ (presente em todo o Brasil).

Em um momento de grandes discussões sobre o futuro do jornalismo e o aumento de fake news nas plataformas digitais, as mídias que integram a Coalizão apontam a necessidade de se debater um desafio anterior: o combate ao racismo digital, que afeta prioritariamente a população negra e indígena.

Encontro da Coalizão realizado entre março e abril de 2023, na periferia de São Paulo

Juntas, essas organizações reúnem soluções tecnológicas ancestrais para produzir e distribuir informação de interesse público para a população quilombola, indígena, periférica e favelada, em contextos sociais em que a internet é precária ou inexistente. Dessa forma, mitigam o impacto da desinformação, polarização política e discursos de ódio por meio dos conteúdos jornalísticos e da educação midiática, prática comum a todas as iniciativas que compõem a Coalizão.

“O nosso jornalismo tem como princípio a ética, porque falar do outro do nosso território é falar de nós mesmos. A notícia para nós não é mais importante que a segurança de uma pessoa entrevistada por nós. Além disso, nosso jornalismo precisa deixar de ser visto como jornalismo ativista ou militante, pois acreditamos que nós somos o jornalismo do futuro. É esse jornalismo que precisa ser cada vez mais ensinado na academia, é esse jornalismo que precisa ganhar o País e o mundo. É um jornalismo feito de dentro, por quem sofre o racismo cotidiano e a ausência de direitos”, define Gizele Martins, da Frente de Mobilização da Maré e que há 20 anos faz comunicação comunitária no Rio de Janeiro.

Tranversal

O grupo surge com o objetivo de transversalizar pautas e ações de forma multimídia, multiplataforma, online e offline, com abordagens que valorizem e registrem as memórias, narrativas e identidades desses territórios, mas que também apresentem as complexidades e particularidades atravessadas pelo machismo, racismo, LGBTQIAPN+fobia, capacitismo, etarismo.

A Coalizão lembra que já atua em coletividade há alguns anos e agora de forma oficial em 3 dimensões de trabalho: incidência política de articulação local e nacional; trocas de saberes de tecnologias ancestrais de comunicação e jornalismo; e um consórcio de produções de conteúdos jornalísticos.

Toda essa proposta de atuação deve ser viabilizada por meio da democratização de recursos financeiros e infraestrutura destinadas a veículos de imprensa comprometidos com o aprimoramento da democracia e a efetivação da garantia de direitos.

“Nos reunimos para participar das conversas que existem, mas também para propor as nossas. Queremos trocar sobre as questões editoriais, mas também a respeito de financiamento. Se os nossos pontos de partida são diferentes e a desigualdade estrutura os nossos acessos, a gente precisa falar sobre isso. E para que esses sujeitos historicamente à margem dos espaços de poder possam estar nesse debate precisamos garantir o acesso, mas também as condições de permanência e de influência dos espaços”, diz Tony Marlon, educador e comunicador popular do Campo Limpo, periferia da cidade de São Paulo.

Encontro da Coalizão realizado entre março e abril de 2023, na periferia de São Paulo

União de esforços

As iniciativas que compõem a coalizão atuaram combatendo fake news nos locais empobrecidos do país, nos últimos 3 anos, com linguagem e práticas de comunicação e educação locais, mas com contextualização da estrutura sociocultural e econômica brasileira.

São também frutos da atuação de mídias negras que há décadas atuam por meio de um jornalismo antirracista e que tem o povo como protagonista da sua própria história e memória, pautando as históricas ausências de direitos.

“Se o nosso jornalismo acabar amanhã, a gente morre, muita gente morre e de várias formas. Planos, sonhos e morte mesmo. A gente faz um jornalismo necessário, essencial como forma de proteção de território, proteção de vida”, alerta Raimundo Quilombo, idealizador da TV e Rádio Quilombo, que atua a partir do Quilombo Rampa, no Maranhão.

“Vemos que não estamos sozinhos, que a luta por comunicar nossas demandas está cada vez mais fortalecida, poder mostrar e falar das narrativas do nosso território, sem distorções, principalmente colocar o que nos afeta, enquanto território indígena, denunciar os abusos para com nosso povo, em um contexto indígena, quilombola, favelado e periférico”, reconhece Elize Mayara Oliveira, indígena comunicadora popular do Coletivo Jovem Tapajônico, no Pará.

As ações da Coalizão de Mídias Periféricas, Faveladas, Quilombolas e Indígenas serão anunciadas ao longo de 2023, assim como mais informações sobre suas diretrizes, cronograma de atuação e etapas de expansão de integrantes da Coalizão.

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