Da terra à mesa: Um recorte da luta pela alimentação saudável na periferia de São Paulo

Da terra à mesa: Um recorte da luta pela alimentação saudável na periferia de São Paulo

Com a participação ativa da comunidade e o fortalecimento de famílias agricultoras, feira agroecológica no Grajaú se torna espaço de troca, afeto, resistência e conexão entre o campo e a quebrada. Confira a reportagem fotográfica!

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Tempo de leitura: 7 minutos

Reportagem fotográfica de Vitori Jumapili. Edição de texto: Thiago Borges

Uma vez por mês, Elaine Pires faz a feira na casa do Imargem, associação sociocultural do Grajaú. Alface crespa, ora pro nobis e brócolis são alguns dos alimentos que vão para a mesa da família. Vegetais passaram a ser prioridade na sua casa.

“Eu acho uma iniciativa importante e positiva, porque a gente escolhe o que a gente quer, a gente consome e a gente economiza. E as crianças comem saudável. Mesmo com a dificuldade de aceitação, eles vão conhecendo outros alimentos”, conta a cuidadora, moradora do Parque Residencial Cocaia, no Grajaú.

Desde a pandemia de covid-19, a associação tem promovido feiras agroecológicas gratuitas na quebrada, possibilitando que as pessoas que frequentam a casinha em diferentes projetos possam ter a oportunidade, ao menos uma vez por mês, de consumir alimentos orgânicos. 

Os itens são produzidos por famílias agricultoras do Extremo Sul de São Paulo, que também se relacionam com o espaço de acolhimento.

O ciclo da feira agroecológica começa com o contato direto com quem produz: Nossa Fazenda, Dona Massui, Seu Almir e Marlene são algumas dessas pessoas.

Vânia Ferreira, parceira do Imargem, e Estela Cunha, principal realizadora da ação e educadora da associação, identificam esses locais de agricultura e organizam as demandas. Assim, garantem que alimentos frescos e diversificados cheguem até o Grajaú a partir do excedente das plantações, tentando sempre trazer os que já estão comumente na nossa alimentação e outros para as famílias conhecerem.

Na semana da feira, os produtos são coletados diretamente das plantações. Um dia antes de ela ser realizada, a Estela os busca com seu carro pessoal, normalmente no Restaurante da Marlene, em Parelheiros. Após rodar 17 km, eles são descarregados e ordenados na Casinha.

No dia da feira, as mesas são organizadas com cuidado, exibindo uma paleta de cores diversa. Quem participa escolhe livremente o que levar para casa, fazendo sua feira de acordo com suas preferências e necessidades. 

Entre memórias ativadas pela troca com os alimentos, receitas testadas em casa e compartilhadas e laços construídos, alguns direitos são garantidos. 

“Alimentação ainda é um grande desafio dentro da quebrada” – Estela Cunha, da frente de alimentação do Imargem

Cerca de 50% da população paulistana vive algum grau de insegurança alimentar em suas casas; e 72% das pessoas com insegurança alimentar grave se concentram nas periferias de São Paulo, segundo estudo realizado pelo Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional da capital em parceria com o Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional da Cidade de São Paulo (OBSANPA) e da Unifesp e da UFABC divulgado em outubro deste ano. 

“A construção da política de São Paulo é muito violenta. Eles fazem com que a gente viva do pouco mesmo. Então, eu vou comprar um miojo que é mais fácil”, reflete a educadora e velejadora do Imargem, Lais Guimarães, sobre a realidade alimentar das pessoas impactadas pelas ações da casinha.

Estela complementa:

“A gente é massacrado pela nossa rotina, então é muito difícil fazer o alimento, ir comprar. As feiras são em horários que as pessoas estão trabalhando, existem milhões de complicações que fazem a gente optar por comidas mais fáceis e embalagens. Então, eu vejo que esse acesso à alimentação foi negado desde sempre para nós e, hoje, para desfazer esses hábitos é muito difícil”.

No passar dos anos e em meio a desafios, o Imargem tem tornado a alimentação um de seus pilares. Atualmente, para além da feira agroecológica, de terça a quinta-feira o espaço oferece almoço e janta com produtos orgânicos para integrantes das atividades ativas. 

Todavia, as ações têm data para serem encerradas. Propiciadas por editais públicos ou privados, elas não têm uma garantia de permanência por ter um recurso destinado e pensado para um determinado período. 

“Não é fácil, não! Quando o projeto acabar, acabou… A gente não conseguiu nada para o ano que vem (…) Então assim, a gente fica muito feliz de que a gente consegue trazer em 30 minutos pra cá, com dinheiro público, para oferecer alimentos para as pessoas, mas a gente não vai ter isso sempre, né?” 

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Reportagem fotográfica de Vitori Jumapili. Edição de texto: Thiago Borges

Uma vez por mês, Elaine Pires faz a feira na casa do Imargem, associação sociocultural do Grajaú. Alface crespa, ora pro nobis e brócolis são alguns dos alimentos que vão para a mesa da família. Vegetais passaram a ser prioridade na sua casa.

“Eu acho uma iniciativa importante e positiva, porque a gente escolhe o que a gente quer, a gente consome e a gente economiza. E as crianças comem saudável. Mesmo com a dificuldade de aceitação, eles vão conhecendo outros alimentos”, conta a cuidadora, moradora do Parque Residencial Cocaia, no Grajaú.

Desde a pandemia de covid-19, a associação tem promovido feiras agroecológicas gratuitas na quebrada, possibilitando que as pessoas que frequentam a casinha em diferentes projetos possam ter a oportunidade, ao menos uma vez por mês, de consumir alimentos orgânicos. 

Os itens são produzidos por famílias agricultoras do Extremo Sul de São Paulo, que também se relacionam com o espaço de acolhimento.

O ciclo da feira agroecológica começa com o contato direto com quem produz: Nossa Fazenda, Dona Massui, Seu Almir e Marlene são algumas dessas pessoas.

Vânia Ferreira, parceira do Imargem, e Estela Cunha, principal realizadora da ação e educadora da associação, identificam esses locais de agricultura e organizam as demandas. Assim, garantem que alimentos frescos e diversificados cheguem até o Grajaú a partir do excedente das plantações, tentando sempre trazer os que já estão comumente na nossa alimentação e outros para as famílias conhecerem.

Na semana da feira, os produtos são coletados diretamente das plantações. Um dia antes de ela ser realizada, a Estela os busca com seu carro pessoal, normalmente no Restaurante da Marlene, em Parelheiros. Após rodar 17 km, eles são descarregados e ordenados na Casinha.

No dia da feira, as mesas são organizadas com cuidado, exibindo uma paleta de cores diversa. Quem participa escolhe livremente o que levar para casa, fazendo sua feira de acordo com suas preferências e necessidades. 

Entre memórias ativadas pela troca com os alimentos, receitas testadas em casa e compartilhadas e laços construídos, alguns direitos são garantidos. 

“Alimentação ainda é um grande desafio dentro da quebrada” – Estela Cunha, da frente de alimentação do Imargem

Cerca de 50% da população paulistana vive algum grau de insegurança alimentar em suas casas; e 72% das pessoas com insegurança alimentar grave se concentram nas periferias de São Paulo, segundo estudo realizado pelo Conselho Municipal de Segurança Alimentar e Nutricional da capital em parceria com o Observatório de Segurança Alimentar e Nutricional da Cidade de São Paulo (OBSANPA) e da Unifesp e da UFABC divulgado em outubro deste ano. 

“A construção da política de São Paulo é muito violenta. Eles fazem com que a gente viva do pouco mesmo. Então, eu vou comprar um miojo que é mais fácil”, reflete a educadora e velejadora do Imargem, Lais Guimarães, sobre a realidade alimentar das pessoas impactadas pelas ações da casinha.

Estela complementa:

“A gente é massacrado pela nossa rotina, então é muito difícil fazer o alimento, ir comprar. As feiras são em horários que as pessoas estão trabalhando, existem milhões de complicações que fazem a gente optar por comidas mais fáceis e embalagens. Então, eu vejo que esse acesso à alimentação foi negado desde sempre para nós e, hoje, para desfazer esses hábitos é muito difícil”.

No passar dos anos e em meio a desafios, o Imargem tem tornado a alimentação um de seus pilares. Atualmente, para além da feira agroecológica, de terça a quinta-feira o espaço oferece almoço e janta com produtos orgânicos para integrantes das atividades ativas. 

Todavia, as ações têm data para serem encerradas. Propiciadas por editais públicos ou privados, elas não têm uma garantia de permanência por ter um recurso destinado e pensado para um determinado período. 

“Não é fácil, não! Quando o projeto acabar, acabou… A gente não conseguiu nada para o ano que vem (…) Então assim, a gente fica muito feliz de que a gente consegue trazer em 30 minutos pra cá, com dinheiro público, para oferecer alimentos para as pessoas, mas a gente não vai ter isso sempre, né?” 

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