Visibilidade Trans: Pra refletir hoje e agir o ano inteiro

Separamos histórias e depoimentos de 7 pessoas trans periféricas para aprofundar a discussão e se engajar na luta contra transfobia

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Por Thiago Borges e Pedro Ariel Salvador

Nesta sexta-feira (29 de janeiro), celebra-se o Dia Nacional da Visibilidade Trans – data escolhida por conta do que aconteceu em 2004, quando 27 travestis, mulheres e homens trans ocuparam o Congresso Nacional para lançar a campanha “Travesti é Respeito”, do Departamento de DST, Aids e Hepatites do Ministério da Saúde.

Desde então, anualmente essa data marca uma luta que é cotidiana – vale lembrar que o Brasil é o País que mais mata pessoas LGBT no mundo e que a expectativa de vida de uma travesti não ultrapassa os 40 anos de idade.

Segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), em 2020 175 mulheres trans foram assassinadas no Brasil. O número representa um aumento de 41% em relação ao ano anterior, quando 124 pessoas trans foram mortas. O Brasil segue em primeiro lugar no ranking de transfobia no mundo.

Além disso, mais de 90% das mulheres trans trabalham na prostituição, o que demonstra a marginalização dessa população.

Ao longo dos últimos anos, a Periferia em Movimento tem pautado o assunto sempre em busca de ampliar as vozes de pessoas trans periféricas. Abaixo, reunimos algumas reflexões trazidas em nossas reportagens e, no final, uma lista de influenciadores pra acompanhar e aprender pelas redes sociais. 

“Nós nascemos com a identidade de gênero masculino ou feminino, mas essa identidade está do pescoço para cima, porque ninguém pensa com o braço, com o pênis ou com a vagina”

Brunna Valin

Em 2014, a Periferia em Movimento lançou seus primeiros questionamentos em relação à população trans em uma reportagem: Você já foi recebida em uma loja por uma vendedora travesti? Já teve um colega trans na universidade? Foi atendido por uma médica, advogada, teve uma professora ou amiga transgênero? Por que a maioria deve ter respondido “não” para todas as perguntas?

Clique aqui para ler.

Na época, foi fundamental conhecer, conviver e aprender com Brunna Valin. Mulher trans e ativista da luta dessa população, Brunna era orientadora socioeducativa do Centro de Referência e Defesa da Diversidade, localizado na região central de São Paulo, no bairro da República.

“Saí de casa muito cedo, como a maior parte da minha população que foi excluída por uma questão familiar de não aceitação. E na maioria das vezes acabamos caindo na marginalização, à margem da sociedade. Eu estive nessa situação por muitos anos. Hoje sou exemplo para muitos que ainda não conseguiram sair da margem”, disse Brunna na época. Releia aqui.

Com boa parte da vida guiada por aprovação ou rejeição da sociedade de sua identidade de gênero, perdemos Brunna em 2020: ela morreu em junho do ano passado. A Aline Rodrigues, da Periferia em Movimento, publicou um artigo no UOL. Clique para ler. 

Paula Beatriz. Foto: Daniel Guimarães/A2IMG / Governo de São Paulo

“A escola tem clara a necessidade de ensinar a ler, escrever e calcular, mas não leva em consideração que cada ser para aprender precisa conhecer o seu corpo”

Paula Beatriz Souza Cruz

Em 2015, falamos do papel da educação na desconstrução da transfobia. E trouxemos a reflexão de Paula Beatriz, mulher trans e então diretora da Escola Estadual Santa Rosa de Lima, no Capão Redondo. Para ela, se o aluno não está bem resolvido com o seu corpo e não é respeitado por sua identidade de gênero e orientação sexual, isso impacta diretamente no seu dia a dia na escola. Relembre aqui.

Tábata Alves: trabalho de base no Extremo Sul de São Paulo (Foto: Thiago Borges / Periferia em Movimento)
Tabata Alves: trabalho de base no Extremo Sul de São Paulo (Foto: Thiago Borges / Periferia em Movimento)

“Quando eu me identifiquei como travesti, não era muito falado da minha população [na mídia]”

Tabata Alves

Moradora de Cidade Ipava, no Jardim Ângela, Tabata já foi entrevistada diversas vezes pela Periferia em Movimento. Convivendo com o HIV há 14 anos, ela é agente de prevenção no Sistema Único de Saúde e atua como vice-presidente da ONG Conviver é Viver, que há mais de 20 anos atua com prevenção e aconselhamento de famílias no Jardim Ângela, Extremo Sul de São Paulo. A gente já falou da história e importância da organização aqui.

No território, Tabata observa que a desinformação ainda impera. Por um lado, a juventude se preocupa com gravidez precoce, mas por outro não se previne das ISTs por considerar que o acesso aos medicamentos de forma gratuita pode garantir a qualidade de vida. Conversamos novamente com ela em 2019, no âmbito do Dia Mundial de Prevenção de HIV/Aids. Assista aqui.  

A última entrevista com ela rolou no ano passado, durante a gravação do documentário “Interrompemos a Programação (?)”, sobre mídias, periferias e pandemia. Confira aqui.

“A gente ainda tá brigando pra sermos vistas, vistos e vistes como pessoas humanas”

Erika Hilton

No início de 2020, entrevistamos Erika Hilton, então co-deputada estadual em São Paulo pela Mandata Ativista. O tema da conversa era pessoas trans nos espaços de poder. Assista aqui.

Meses depois, Erika foi a sexta mais votada entre 2 mil candidatos na disputa para a Câmara de Vereadores da capital paulista, sendo escolhida por mais de 50 mil eleitores. Agora, inicia um mandato como vereadora que já é histórico.

“A gente não tá construindo uma sociedade só para pessoas trans e de pessoas trans. É preciso que pessoas cisgêneras se conscientizem da importância da ocupação dessas pessoas nos cargos públicos e privados”, diz ela.

Cássia Azevedo: no caminho entre casa e trabalho (foto: Arquivo pessoal)

“A demanda maior ainda é psicossocial”

Cássia Azevedo

A pandemia aprofundou desigualdades. E no caso de pessoas trans, aumentou a busca por serviços como o Centro de Cidadania LGBTI Edson Neris – Sul, 1 dos 4 administrados pela Prefeitura de São Paulo. 

“Também cresce o número de pessoas que não conseguem ter acesso à internet e nos procuram para apoio para acessar o cadastro do auxílio emergencial”, disse à época da entrevista a Cássia Azevedo, moradora de Parelheiros e assistente social no equipamento. 

A gente falou da falta de políticas públicas específicas e da mobilização da sociedade civil para lidar com os impactos da pandemia. Confira.

Tiely – Foto: Arquivo pessoal

“Autocuidado entre pessoas trans é passar por cima de várias coisas”

Tiely

Considerado o primeiro homem trans do rap nacional, Tiely é um multi-artista da Zona Leste de São Paulo atua desde 1989 em várias frentes: é cineasta e rapper, escritor e historiador, ator e fotógrafo. Coordena o Ponto de Cultura Hip Hop Mulher e pauta gênero, cultura, direitos e as violências contra LGBTs e mulheres. 

A gente conversou com ele durante a pandemia de coronavírus e como isso estava pesando especialmente para pessoas trans. Enquanto os direitos fundamentais seguem sendo violados, é importante verificar a possibilidade de praticar o autocuidado individualmente. 

“Um dos maiores pontos do autocuidado, principalmente para pessoas trans, é a questão do filtro. Ter que filtrar várias situações, inclusive com a família, e passando por cima de várias coisas que parecem não estar ao seu alcance”, observa Tiely.

Relembre no nosso podcast aqui.

Onika Bibiana (Foto: Camila Lima)

“Cada pessoa trans ou não-binária é um universo e vale entendê-las como indivíduos”

Onika Bibiana

Em novembro de 2020, publicamos uma reportagem sobre a autoestima de pessoas negras. Uma das entrevistadas foi Onika Bibiana Gonçalves Soares, mulher trans de 30 anos que encontrou na maquiagem uma ferramenta para sobreviver diante da sociedade. Clique aqui pra ler.

Em busca de uma “passabilidade”, Onika se via dependente da maquiagem e passava em média 1 hora por dia cobrindo esses aspectos com os tantos artifícios possíveis. Isso mudou.

“Quero lavar o rosto e sair de casa, ainda que eu saiba que a sociedade cisgênero sempre vai usar marcadores do que é feminilidade e tentar me ler e me tratar no gênero masculino”, ressalta.

Pra seguir e aprender

O Dia da Visibilidade Trans é um marco importante na história, porém ainda tem muito a se fazer e o papel de cada um enquanto sociedade é contribuir para que haja uma melhora efetiva. Apesar de toda marginalização que ocorre com esses corpos, existe uma enorme luta e resistência.

Com o avanço das redes sociais, tem muita gente abordando temas pertinentes com diversas linguagens, de forma didática, engraçada e muito informativa. A comunidade transvestigênere tem que ser vista, escutada, cuidada e amada, não só numa data específica.

Então, nós separamos uma lista de pessoas que falam sobre seus corpos, suas urgências e colaboram para que cada dia mais, exista de fato, visibilidade e respeito de forma integral para essa população.

Acompanhe:

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1 Comentário

  1. […] é uma mulher trans no País onde mais ocorre assassinatos contra transexuais, segundo a ONG Transgender Europe. E 90% da população trans já recorreu à prostituição em […]

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