No Extremo Sul de SP, problemas no transporte público levam população a usar carros de aplicativo para completar viagens

Comodidade e rapidez de serviços oferecidos por empresas como Uber ou 99 esbarram no alto impacto na renda, que exclui parte das pessoas

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Reportagem de Carolaine Nunes Silva, Lígia Souza e Isabely Rodrigues dos Santos

Tainá Borges (foto: arquivo pessoal)

Tainá Borges (foto: arquivo pessoal)

Tainá Borges, de 26 anos, utiliza ônibus, trens e metrô em seus deslocamentos diários. Moradora do Grajaú (Extremo Sul paulistano), todos os dias ela sai de casa às 6 horas da manhã até a região do centro histórico, onde trabalha. De lá, segue para a Etec Parque da Juventude no bairro do Carandiru (zona Norte), e em alguns dias da semana se desloca até a zona Oeste em direção a USP, onde também estuda.

Com essa dupla formação, ela acaba passando pela estação da Luz 4 vezes para interligar os locais de estudo, trabalho e a volta para casa – onde Tainá chega 00h40.

Por isso, na correria, muitas vezes ela pede um Uber ou 99 como um “complemento para chegar de forma mais rápida em estações”, diz. Para ela, existem vantagens na utilização de um carro de aplicativo em deslocamentos mais curtos, como “tempo de espera, comodidade, descanso e agilidade na chegada, especialmente em casa quando já passou o último ônibus”.

Os dados da Pesquisa Origem e Destino, realizada em 2023 pelo Metrô de São Paulo, revelam uma diminuição significativa das viagens realizadas por transporte coletivo – especialmente ônibus. Foram feitas cerca de 3 milhões de viagens a menos, em comparação com a última pesquisa, realizada em 2017.

O levantamento revela também um aumento de 183% das viagens por carros de aplicativo em comparação com a última pesquisa.

Os dois dados estão interligados.

O transporte coletivo na região metropolitana de São Paulo, devido aos problemas relatados anteriormente e pela diminuição da frota, está sendo “substituído” em trechos de viagens diárias por pessoas que buscam outras alternativas que atendam minimamente às suas necessidades.

Motorista de aplicativo no Extremo Sul de São Paulo (foto pedro Salvador)

“Dependendo do trajeto, compensa muito mais você ir no conforto de um carro de aplicativo do que estar em ônibus super lotado”, aponta Erick Nascimento, 25, que há 5 meses é motorista de aplicativo.

Morador da região do Grajaú, ele realiza corridas na região e comenta que os principais destinos de quem utiliza o serviço são próximos às estações de trem e metrô, além de supermercados.

Menos ônibus

A passageira Tainá notou uma diminuição na frota de ônibus em sua região, algo que compromete a qualidade do transporte público no Extremo Sul. Por isso, ela destaca que a oferta de transporte público não atende às suas necessidades.

“O intervalo entre os ônibus é muito grande e muito cheio em vários horários, o que implica em mais tempo de aguardo. Além disso, há poucas opções em que o trajeto feito pelos ônibus oferece maior mobilidade para região onde moro” – Tainá Borges.

Segundo Patrick Carvalho, 23, que é fiscal de ônibus no Grajaú, “depois da pandemia muitas pessoas vieram morar para cá, principalmente ali pro lado do Parelheiros, então o fluxo de pessoas aumentou. Alguns horários de linhas são baseados em certo número de pessoas que vivem na região e ainda não foram adaptados para o atual. Por isso, acaba tendo muito transtorno.”

Motorista prepara viagem em ponto final da linha Cantinho do Céu - Shopping Interlagos

Motorista prepara viagem em ponto final da linha Cantinho do Céu – Shopping Interlagos (foto Pedro Salvador)

Isso causa um impacto no bolso de quem precisa aderir aos carros de aplicativo. “No fim do mês, o montante acaba sendo maior do que o previsto”, destaca Tainá.

Há também a realidade de quem não se arrisca em usar o recurso das viagens privadas pela insegurança financeira, como é o caso da Neide da Silva, 53.

“Por mais que esteja trânsito ou que aconteça alguma coisa no ônibus, eu não uso [aplicativo de corrida], porque é uma conta que geralmente não posso somar no meu bolso, então tenho que enfrentar [o transporte público]”, diz Neide, que mora no bairro BNH, na região do Grajaú, e trabalha como empregada doméstica na região da avenida Faria Lima, zona Oeste de São Paulo.

Alternativas

Existem algumas medidas pensadas para diminuir esses problemas do transporte público, como por exemplo a implementação de telas nos terminais de ônibus com informações sobre as partidas dos ônibus.

Também há a possibilidade de usar aplicativos, como o Moovit e o Google Maps, que mostram os horários de saída dos ônibus ao longo do dia, como destaca o fiscal de ônibus Patrick. As próprias pessoas usuárias usufruem deste recurso fazendo filas de espera a fim de pegar os próximos ônibus menos lotados.

Entretanto, como ele mesmo chama a atenção, os ônibus que vão sentido Grajaú, Varginha e Parelheiros estão sempre lotados, então mesmo sabendo o horário de saída do ônibus, a lotação se mantém devido à diminuição da frota e ao aumento da demanda.

*Esta reportagem produzida por participantes do projeto “Repórter da Quebrada – Gerações Periféricas Conectadas”, realizado pela Periferia em Movimento com apoio da 8ª edição do Programa de Fomento à Cultura da Periferia da Secretaria Municipal de Cultura da Prefeitura de São Paulo

Edição de texto: Thiago Borges. Arte de capa: Rafael Cristiano. Equipe Educação Midiática: Aline Rodrigues, Ana Rodrigues e Pedro Salvador

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