Foto em destaque: Líderes guarani em colheita de milho na terra indígena/Comissão Guarani Yvyrupá
Atualizado em 20/12/2021, às 9h20
Por Aline Rodrigues
“Venham fortalecer essa nova aldeia e mostrar que ela é protegida não só pelo povo Guarani, mas por uma grande aliança de pessoas que acreditam na importância dos territórios tradicionais pra autonomia dos povos e a continuidade da vida!”
O frase acima compõe o chamado compartilhado por lideranças da etnia guarani mbya nas redes sociais nos últimos dias em resposta as recorrentes ameaças que a aldeia Kuaray Oua e seus moradores tem sofrido nas últimas semanas. Neste domingo, 19 de dezembro, o chamado é para que as pessoas que apoiam a luta indígena tragam uma muda de árvore nativa ou frutífera para plantarem juntes e ajudarem na prática a fortalecer o Cinturão Verde Guarani. Saiba mais sobre a proposta do Cinturão Verde aqui e aqui .
O ponto de encontro será na aldeia Kalipety, às 10h, quando as lideranças apresentarão as ações de recuperação de áreas degradadas que todo o povo tem feito por meio da agrofloresta há anos. Na ocasião, terão também exposição de artesanatos da comunidade e degustação da culinária guarani.
Como última ação, será feito o deslocamento coletivo até a aldeia Kuaray Oua para o plantio das mudas levadas e o evento terminará às 15h. Localização da Kalipety: https://maps.app.goo.gl/u635e2ULdnC8dM78A
Ameaças a terra demarcada
A Terra indígena Tenondé Porã, ou TI Tenondé Porã, é composta por 14 aldeias, onde vivem aproximadamente 2 mil pessoas. Sua área de 15.969 hectares é demarcada na Portaria Declaratória do Ministério da Justiça Nº 548/2016. Em 2012, no levantamento fundiário realizado no processo de demarcação da terra indígena, a pessoa identificada como dono foi José Jorge Peralta, e está listado na tabela de ocupantes não indígenas (No. 129), no Relatório de Identificação da Terra Indígena Tenondé Porã. Apesar das documentações e demarcação realizada, um homem não indígena, Cícero Ferreira, tem se apresentado como novo dono do “Sítio Colinas Verdes”, cuja sede está incidente dentro da Terra Indígena.
A partir dessa alegação, desde o dia 23 de novembro, o território da Tekoa Kuaray Oua e as famílias que nele habitam tem sofrido ameaças por não indígenas sendo coagidos a deixar a área. Foram mais de cinco ações à mão armada, uma delas com a destruição de uma casa. Apesar da ação violenta, a família que perdeu sua residência ficou bem e está na aldeia Tenondé Porã.
Na tarde de 13 de dezembro, outra ação contra o povo guarani envolveu inclusive disparos para o alto, retirada de madeira com veículos e destruição de telhas. Apesar das ameaças de retorno com novas casas a serem afetadas, ainda não houve novos registros de ações violentas. Por isso, o povo guarani pede ajuda para prevenção de novos ataques, mostrando que não estão sós nessa resistência.
Cerca de 40 pessoas moram na aldeia Kuaray Oua, mas um mutirão de outras dezenas está presente no território. A situação vivida pelos guarani mbya já está no Ministério Público Federal que abriu inquérito na Polícia Federal.
Aline Rodrigues