Reportagem por Aline Rodrigues e Thiago Borges. Foto em destaque: Olivio Jekupe na aldeia Krukutu (por Thiago Borges)
O portão que fica na entrada da aldeia Krukutu está trancado. Apenas carros com mantimentos ou socorrendo uma situação de emergência estão autorizados a passar. Pelo menos 3 pessoas morreram em decorrência da covid-19 na Terra Indígena (TI) Tenondé Porã, que tem uma população de 2 mil guarani mbya em 9 aldeias no Extremo Sul da cidade de São Paulo e nos municípios de São Bernardo do Campo, São Vicente e Mongaguá.
Em todo Brasil, mais de 2 mil indígenas foram contaminados por coronavírus e 82 morreram, segundo dados divulgados no dia 9 de junho, segundo a Secretaria Especial de Atenção Indígena do Ministério da Saúde. A maioria dos casos se concentra na região amazônica. A Fundação Nacional do Índio (Funai) já distribuiu mais de 82 mil cestas básicas e prevê a entrega de mais 300 mil nos próximos meses em 3 mil comunidades ao redor do País.
Distante a apenas 60 quilômetros do centro da capital paulista, as lideranças da TI Tenondé Porã tomam medidas para evitar a proliferação do coronavírus.
“Iniciamos aqui de cara. Foram fechados a escola do estado e o Centro de Educação e Cultura Indígena (CECI), que atende as crianças”, explica o escritor e filósofo Olivio Jekupe, que mora na Krukutu.
Contatos com parentes de outros locais? Só por telefone e internet. O plano de visitação turística e os encontros na Casa de Reza também estão suspensos.
“Até porque é aonde todos os dias tem bastante gente. E também pela preocupação de que os nossos xamões, que são pessoas mais velhas, e não queremos que algo aconteça com elas”, diz a professora Claudia Jaxuka Gonçalves, moradora da aldeia Tenondé Porã, que dá nome à TI.
Claudia explica que, apesar do fechamento das aldeias desde o início, muitas pessoas continuaram saindo para a cidade para buscar alimentos. Com a confirmação do primeiro caso e a mobilização para arrecadar alimentos para os moradores, mais pessoas têm ficado em casa.
AJUDE OS GUARANI! As doações podem ser feitas à Comissão Guarani Yvyrupa (CNPJ 21860239/0001-01; Banco do Brasil agência 3560-2 conta corrente 25106-2). Para alimentos, clique aqui.
“A gente não fica muito perto um do outro, sempre lavando as mãos e, quando vamos no centro da aldeia, as pessoas estão sempre com máscara para não ter problemas”, diz Olívio.
Tanto a Krukutu quanto a Tenondé têm postos de saúde e equipes médicas dedicadas à saúde indígena. Se um morador testa positivo para covid-19, fica em quarentena por 14 dias recebendo os cuidados nos CECIs, que funcionam como hospitais de campanha.
Enquanto vê pessoas presas em casas e apartamentos, Olívio vislumbra a Mata Atlântica e se previne com chás de ervas que coleta no quintal. “O mato tá cheio de coisas que a gente pode se cuidar”, observa.
“Se a sociedade colocar em prática o respeito e a solidariedade com outro ser humano, muitas coisas iriam melhorar porque tem muitas pessoas precisando desse tipo de amor”, finaliza Claudia.
Conteúdo produzido com apoio do Fundo de Apoio Emergencial COVID-19, do Fundo Brasil de Direitos Humanos
Redação PEM
5 Comentários
[…] originalmente publicada no site Periferia em Movimento em 11 de junho de 2020. Foto em destaque: Olivio Jekupe na aldeia Krukutu (por Thiago […]
[…] coronavírus avança sobre os povos indígenas e aldeia indígena guarani mbya Tekoa Kalipety precisa de ajuda. A comunidade, que fica em […]
[…] um lago construído pelas mãos do homem que também é morada dos indígenas remanescentes guarani-mbya, a gente segue nessa resistência e gera centralidade: observa, registra e dissemina informações […]
[…] indígenas da etnia guarani mbya que habitam territórios no Jaraguá (zona Noroeste de São Paulo) e Tenondé Porã (Extremo Sul) […]
[…] frase acima compõe o chamado compartilhado por lideranças da etnia guarani mbya nas redes sociais nos últimos dias em resposta as recorrentes ameaças que a aldeia Kuaray Oua e […]