Quando ficar é incerto: Prefeitura interdita casas em Parelheiros e famílias temem parar na rua

Quando ficar é incerto: Prefeitura interdita casas em Parelheiros e famílias temem parar na rua

Subprefeitura no Extremo Sul de São Paulo notificou mais de 100 moradias em “áreas de risco”. Apesar de a interdição ter sido feita em novembro do ano passado, processo rolava desde 2004. Dúvidas de comunidade ameaçada persistem

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Por Elisabeth Botelho. Fotos de Pedro Salvador. Edição de texto: Thiago Borges

“Imóvel interditado por risco geológico. Senhor proprietário, compareça com urgência à Subprefeitura de Parelheiros”. Ao se depararem com esse recado grudado na porta de suas casas, muitas famílias que vivem no Jardim Iporã se sentiram perdidas, sem saber o que estava acontecendo nem o que deveriam fazer.

Segundo a Subprefeitura de Parelheiros, 107 casas foram interditadas porque estão em áreas de risco médio ou alto. A assessoria de imprensa do órgão diz que isso segue determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), sob pena de multa diária de R$ 10 mil.

De acordo com a administração, fiscais municipais tentam localizar pessoas que não foram encontradas antes para explicar a situação dos imóveis, cadastrar para o recebimento de auxílio aluguel e que segue em diálodo com a comunidade – um novo encontro está marcado para esta segunda-feira (17/4).

Para quem mora, no entanto, sobram incertezas.

José Pereira, de 71 anos, vive há mais de 40 no bairro. Hoje, ele consegue proporcionar um lar para os seus 2 filhos, com uma trajetória de muita luta, após trabalhar mais de 34 anos. “Eu não vou querer ver meus filhos na rua porque eu trabalhei muito tempo pra ver eles alocados, no mínimo”, diz seu Zé.

A casa dele não foi notificada, mas o aposentado tem receio pois construções em frente à sua receberam o aviso. Segundo ele, faltam informações sobre o que será feito no local e qual será o impacto na comunidade.

“Se vai ter uma obra, eles já tinham que ter um projeto, uma planta da obra, já saberiam o caminho da obra. Aí, eu já estaria sabendo se a minha casa está no caminho da obra ou não tá, se a minha casa vai sair ou não vai”, conta.

Essa falta de informação não é de hoje. Apesar da notificação ter acontecido em novembro de 2022, quando chegaram na subprefeitura as pessoas descobriram que o processo estava rolando desde 2004. Entenda aqui. Em toda a zona Sul de São Paulo, mais de 10 mil famílias estão ameaçadas de despejo, segundo a União dos Movimentos de Moradia (UMM) .

Para Maria Aparecida, 56, a possibilidade de ter que começar tudo de novo desanima. “Quando você vai para um novo lugar, precisa recomeçar do zero. Então, você vai começar uma nova política de vizinhança”, diz ela.

A autônoma é mãe solo de 3 e mora há 13 anos no bairro. Quando chegou, fez um barraquinho de madeirite. Foram 9 anos, até subir as paredes de alvenaria, recém rebocadas.

Pra onde a gente vai?

Localizado em Parelheiros, no Extremo Sul de São Paulo, o Jardim Iporã foi ocupado nas últimas 4 décadas como muitos bairros periféricos da região, que é área de proteção a mananciais. Muitas casas ficam próximas de córregos, encostas e no traçado da linha de trem desativada que ia até a Serra do Mar.

A casa da trabalhadora desempregada Fabiana Bezerra, 36, fica na beira do córrego por onde corre esgoto a céu aberto. Mãe da Maya e da Esther, ela mora há 5 anos na área com as filhas e o marido, também sem trabalho.

Com ajuda da vizinhança e os benefícios do auxílio emergencial e Bolsa Família, ela conseguiu reformar uma parte da casa que estava mais precária. “Antes, molhava mais dentro do que fora”, diz Biana, como é conhecida.

Com as fortes chuvas do verão, a casa dela ficou ameaçada. O chão do quarto está cedendo. Por isso, quando chove, a família dorme na sala.

Mesmo diante do risco, Biana não entende o que vai acontecer após receber a notificação. Ela não sabe se vai precisar sair da casa ou se haverá a construção de um muro de arrimo para proteger os fundos da construção. “Se eu sair daqui hoje, pra onde vou? Eu não tenho pra onde ir”.

Para Simone Oliveira, 42, que também recebeu a notificação, a moradia vai além das paredes da casa. É a possibilidade de criar elos, ter um pronto-socorro de afetos para onde recorrer.

Recentemente, ela teve sua casa incendiada por conta de um curto circuito em um celular e contou com a ajuda de amizades para reconstruí-la. Agora, a ameaça chega com um papel.

“Cada pedrinha que foi feita nesta entrada, pode ter certeza que tem um dedo meu”, diz Simone, que vive há mais de 25 anos no local e viu a região ser ocupada por outras famílias.

O que diz a versão oficial?

Apesar das reclamações da população, a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras (SIURB) e a Secretaria Municipal de Habitação (SEHAB) informam que no dia 6 de abril realizaram vistoria técnica e conversas com a associação Comunidade Nossa Moradia (CNM), criada após as notificações.

As pastas comunicaram às famílias que o local vai receber um projeto de urbanização com saneamento básico, regularização de energia elétrica e áreas de lazer. Para isso, moradias em áreas de risco médio e alto precisariam ser removidas – e o número pode aumentar, inclusive.

Para Alenildo Almeida, morador do bairro e liderança da CNM, há pontos positivos para a comunidade. “Quando você tem a regularização da energia elétrica, você evita riscos de incêndio, tem muitas áreas em que a energia é precária”, ressalta.

O outro lado da história é o fato de cortar os laços com “o seu cantinho”, a história vivida naquele território, as vivências com a favela e a família que ali ficará.

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1 Comentário

  1. Marisa Lopes dos Santos morais disse:

    Boa Noite gostaria de saber se onde eu moro está em um local de risco??

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