O dinheiro tá pouco. No ano passado, a renda diminuiu para 31% das pessoas que vivem na cidade de São Paulo. Para 51%, os ganhos ficaram estáveis, enquanto para 12% eles aumentaram. Entre pessoas das classes D e E, mais pobres, a queda na renda foi de 45% em 2022.
Esses dados foram revelados nesta terça-feira (30/5) pela pesquisa Viver em São Paulo: Pobreza e Renda, realizada anualmente pela Rede Nossa São Paulo e Ipec com apoio do Sesc. Ao todo, 800 pessoas com 16 anos ou mais foram entrevistadas em dezembro de 2022, de forma presencial e online. A pesquisa tem intervalo de confiança de 95% e a margem de erro é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos.
O levantamento mede a percepção da população paulistana sobre pobreza e renda na cidade. Os resultados apontam que 4 em cada 10 pessoas que vivem em São Paulo tiveram que fazer alguma atividade extra para complementar a renda no último ano – o equivalente a 4,3 milhões de pessoas. Entre os “bicos” mais comuns, estão serviços gerais, como faxina, manutenção, reformas e jardinagem, entre outros.
Em 86% dos lares paulistanos, a alimentação é o item que mais impacta o orçamento familiar. Depois, aparecem os gastos com saúde (remédios, exames, convênio médico, etc.), seguidos das despesas com moradia e aluguel.
Enquanto o consumo de carnes e laticínios diminuiu em 54% das casas nos últimos 12 meses, o de ovos aumentou 62%. E 20% das pessoas cancelaram a TV por assinatura ou streaming, como Netflix, além de metade cortar gastos com vestuário. Por outro lado, 7 em cada 10 pessoas disseram não se endividar para consumir itens básicos – entre as classes D e E, esse índice diminui para 55%.
Fome e pobreza
A pesquisa mede ainda a percepção da população sobre fome, pessoas em situação de rua e dependência química.
Para 80% das pessoas entrevistadas, a população em situação de rua aumentou no último ano. E 79% também notam um aumento no número de pessoas em situação de fome e pobreza.
O aumento do desemprego é apontado pela maioria das pessoas (84% do total de menções) como o principal motivo para o crescimento da população em situação de rua, seguido pelo alto custo de vida na cidade (66%) e pela elevação do preço dos aluguéis (56%).
Além disso, 65% das pessoas ouvidas percebem que aumentou o número de pedintes na cidade. E, para 58%, há mais famílias vivendo nas ruas.
“Este cenário perpetua a desigualdade social paulistana, contribuindo para que situações de preconceito ou discriminação, como olhares preconceituosos e agressões verbais, principalmente no transporte público, nos shoppings/comércios, nos espaços públicos e em restaurantes/bares ocorram com maior frequência”, aponta a pesquisa.
Entre as medidas apontadas para melhorar a situação de quem está na rua, 48% apontam a adoção de políticas de moradia como o aluguel social, 42% citam a oferta de capacitação profissional e 40% de ampliação da rede de atendimento da assistência social.
Para melhorar a vida das pessoas em situação de fome e pobreza, as políticas de geração de emprego são as mais mencionadas (64% das respostas), seguidas pela garantia de renda mínima (54%) e pela redução do valor de contas básicas (53%), como água e energia.
Em relação à dependência química, 9 em cada 10 pessoas entrevistadas avaliam que as ações do poder público para dependentes na chamada “Cracolândia” são pouco ou nada eficazes. E 37% acham que o combate ao tráfico de drogas deveria ser a prioridade do poder público na região; 18% acham que deveria ser a construção de unidades de saúde especializada e para 18% deveria ser a adoção de políticas para a atuação conjunta de diversas áreas (como saúde, segurança, assistência social, educação, trabalho e renda).
Foto em destaque: Douglas Fontes
Thiago Borges