“Parem de nos matar”: Coletivos fazem ato contra racismo e violência policial na Cidade Tiradentes

“Parem de nos matar”: Coletivos fazem ato contra racismo e violência policial na Cidade Tiradentes

Manifestação lembra jovens assassinados pela Polícia Militar e cobra políticas públicas para região periférica no Extremo Leste de SP

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Tempo de leitura: 6 minutos

Texto e fotos por André Santos. Edição: Thiago Borges

No início de outubro, Alexandre da Silva Marques, 19 anos, foi assassinado com 17 tiros pela Polícia Militar na divisa de Ferraz de Vasconcelos (município da região metropolitana de São Paulo) com Cidade Tiradentes. E neste domingo (27/11), seu nome foi lembrado em um ato em memória às vítimas da violência policial e contra o racismo nesse distrito do Extremo Leste paulistano.

“A violência policial assombra os jovens pretos e periféricos”, diz Lívia Pardinho, 20, militante do Coletivo Cultura Lá em Casa.

Lívia foi uma das organizadoras da manifestação, que contou com diversas coletividades e ocupou a avenida dos Metalúrgicos, uma das principais vias da Cidade Tiradentes. Os grupos protestaram contra o genocídio negro, além de reivindicar por políticas públicas de acesso a cultura, lazer, cursos profissionalizantes, emprego e renda na região.

Além de Alexandre, manifestantes também honraram outros jovens que moravam na região e também morreram pela mão de policiais: Brayam Ferreira dos Santos, Carlos Henrique, Felipe Santos Miranda, Gabriel Soldo, Igor Bernardo dos Santos, Luiz Henrique Oliveira Reis e Waldik Gabriel Chagas. Com idade entre 11 e 24 anos, eles foram mortos entre 2016 e 2022.

“A juventude não se sente segura com a presença da polícia. Eles nos causam medo, além dos impactos psicológicos de saber que a sua pele, o seu CEP, o seu saldo no banco te tornam alvo da bala que sai das armas deles. E são perdas que carregamos ao longo da vida, porque muitos que estiveram com a gente na infância não envelhecem conosco”, diz Lívia.

Quando o Estado mata

Apesar de ter experimentado reduções seguidas nos números de letalidade policial nos últimos meses devido à utilização de câmeras de seguranças acopladas ao uniforme dos PMs, entre outras ações, o Estado de São Paulo ainda possui marcas negativas e expressivas. Segundo a Rede de Observatórios de Segurança, no ano passado 76% das 209 pessoas assassinadas pela polícia na cidade de São Paulo eram negras.

“Chega disso, chega de mortes, porque é uma coisa que não vem deste século. Vem de muito tempo atrás. Querendo ou não, a pessoa preta e periférica é a que mais morre. E o governo não quer saber, a mídia não quer saber”, diz o manifestante Guilherme Desu, 27.

Com cartazes, faixas e um carro de som – embalado, sobretudo, por músicas dos rappers Don L e Djonga –, manifestantes trilharam, sob forte sol, um percurso de cerca de 3 quilômetros durante quase 2 horas. O ato foi marcado por pedidos pelo fim da Polícia Militar em frente ao Batalhão que opera na região. Agentes de segurança filmaram as movimentações.

Conscientização

No trajeto, manifestantes fizeram relatos emocionantes e chamaram a atenção de quem passava pelo local – embora nem sempre a recepção fosse positiva.

“Muitas das pessoas que são vítimas aqui não identificam quem é o autor dessa violência, e muitas vezes reproduzem o discurso do opressor. A gente tem que entender que é um processo de médio a longo prazo a conscientização de classe e raça dessas pessoas”, comenta Edson Pardinho, 47, pai de Lívia, militante do Coletivo Conspiração Socialista e articulador político da Mandata Coletiva Quilombo Periférico, que ocupa uma vaga na Câmara Municipal de São Paulo.

Guilherme segue a mesma linha de raciocínio. Para ele, os protestos são uma das possibilidades para que suas vozes sejam escutadas, tanto por parte da população que resiste em aceitar ideais em defesa aos direitos humanos, quanto pelos agentes do Estado.

“Nós, que somos a classe mais pobre, temos que nos levantar para que o Estado possa nos escutar. E estamos aqui para mostrarmos que somos mais que um número, temos voz também”, conta o manifestante.

Para Lívia, um dos caminhos para fortalecer a relação entre movimentos sociais e a população é demonstrar que ambos estão do mesmo lado, possuem os mesmos direitos e necessidade de amparo.

“A partir da união de um grupo de pessoas com um mesmo interesse, a gente consegue refletir, articular e causar um impacto maior nos projetos e protestos desenvolvidos. E por geralmente fazer parte do território, esses coletivos compreendem com propriedade as necessidades dos moradores dali”, conta.

Estiveram presentes no protesto ou endossaram a assinatura do manifesto os seguintes coletivos e organizações: Coletiva Autonomia e Trans/Transversalidade; Conspiração Socialista; Coletivo Cultura lá em Casa; Coletivo de esquerda Força Ativa; Comitê Mestre Moa Cidade Tiradentes; Frente Estadual Pelo Desencarceramento de São Paulo; Mandata Coletiva Quilombo Periférico; Movimento independente Mães de Maio da Leste; PCB núcleo zona leste; PSTU; Quilombo Invisível; Luta Popular e Ser Humana Zona Leste.

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