Com a família fixada há mais de 70 anos na região da Ilha do Bororé, no Extremo Sul de São Paulo, Jaison Pongiluppi cresceu vendo o avô plantar e colher o alimento que era servido a cada refeição. Não tinha papo de “orgânico” ou de “permacultura”. Era comida da roça. Hoje, sabe-se que no fim das contas é tudo a mesma coisa. O que o avô de Jaison fazia é o que busca-se resgatar hoje em dia: a produção de alimentos sem agrotóxicos e outros produtos químicos em um processo que respeita os ciclos da natureza e as relações humanas.
Como no sistema capitalista tudo tem um preço, consumir alimentos orgânicos nem sempre é tão simples. Enquanto cursos sobre o sistema de permacultura custam mais de R$ 1.000 em instituições da Vila Madalena, a maior parte dos produtos sem veneno ainda é procurada e vendida à classe média alta que costuma morar ou frequentar essas regiões da cidade.
Curioso é que muito do que abastece as prateleiras dos supermercados mais requintados vem justamente do Extremo Sul, onde pelo menos 25 produtores familiares integram desde 2001 a Cooperapas – Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul de São Paulo. Do Instituto Chão ao restaurante Arturito (de Paola Carosella, jurada do programa de TV Marterchef), dos funcionários do Google ao Facebook.
Enquanto isso, quem mora na região dificilmente tem acesso a isso, seja por falta de locais onde encontrar esses produtos seja pelo preço alto cobrado em lojas especializadas do centro. Mas isso está mudando.
“Desde o segundo semestre do ano passado, a Ecoativa [espaço sociocultural na Ilha do Bororé] iniciou uma articulação com agricultores para fornecer orgânicos diretamente aos moradores, sem atravessamento”, explica Jaison. Deu certo. A cada semana, a Ecoativa publica em sua rede social uma lista com os produtos disponíveis e recebe pedidos de pessoas interessadas até a véspera da colheita. Os sete itens são coletados no dia da retirada da cesta.
Com a demanda, consolidou-se um grupo de consumo responsável na região. E no último sábado (28 de janeiro), Jaison reuniu a clientela já fiel e possíveis novos compradores no sítio Paiquerê, uma propriedade de mais de 150 mil metros quadrados que é um dos principais produtores locais. Além do café feito com produtos plantados e colhidos ali mesmo, a ideia era apresentar o conceito do CSA – sigla para “comunidade que sustenta a agricultura”.
A proposta é que as famílias que já compram ou se interessam em adquirir os orgânicos paguem um valor mensal de até R$ 120 por mês, que dá direito a retirar cestas semanais com sete itens – entre frutas, raízes, hortaliças e plantas alimentícias não convencionais (as PANCs). Mais do que isso, a ideia é que os agricultores possam prever a demanda de pedidos com maior antecedência, que os compradores se aproximem uns dos outros e também dos produtores do alimento que vai consumir e que o dinheiro circule no território, promovendo desenvolvimento local.
Abaixo, temos mais informações de como fazer parte desse grupo.
“A gente quebra essa lenda do orgânico caro. Orgânico não é caro. A logística que foi pensada pra isso [encarece], e o capital, o capitalismo vai pintando e cooptando isso também”, observa Jaison.
Redação PEM
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