Enquanto a Copa do Mundo da FIFA entra na reta final, a cidade de São Paulo recebe outro torneio internacional de futebol.
Com mais de 300 jovens de periferias de 20 países, o Mundial de Futebol de Rua pretende divulgar o esporte como elemento que pode ser utilizado para mudar a realidade em regiões pobres.
“Esse Mundial busca resgatar um futebol que a gente jogava antigamente na rua era, que era a forma como conhecíamos nossos vizinhos”, lembra Fernando Haddad, prefeito de São Paulo.
O fútbol callejero (futebol de rua em espanhol) foi desenvolvido em 2004 pelo ex-jogador Fabián Ferraro em uma favela de Moreno, na província de Buenos Aires (Argentina), com o objetivo de mediar conflitos entre gangues rivais a partir do resgate de valores como participação, cooperação e solidariedade.
Ao contrário do futebol convencional, no futebol de rua homens e mulheres jogam juntos, não há árbitro, as partidas são divididas em três etapas e o regulamento é feito pelos participantes.
No primeiro tempo, as equipes definem as regras do jogo. A partida em si acontece no segundo tempo. E, na terceira etapa, um mediador avalia com os jogadores se os acordos feitos foram cumpridos. Marcar gols é importante, mas o respeito às regras e a lealdade aos adversários podem alterar o placar.
Esse modelo de futebol colaborativo impulsionou uma série de mudanças onde foi aplicado. Apenas na província Buenos Aires já existem mais de 120 grupos de futebol de rua.
“Apesar de se organizaram por conta do futebol, os jovens também fundaram creches e centros culturais, criaram movimentos sociais e associações comunitárias”, diz Fernando Leguiza, diretor da Fundacion Fútbol para el Desarrollo (FUDE) e um dos idealizadores do futebol de rua.
“O futebol é uma ferramenta popular para convidar os jovens a se juntarem e a partir daí elaborar políticas públicas”, complementa Ferraro.
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O Movimiento Fútbol Callejero, que reúne 200 organizações em todo mundo, estima que 2 milhões de crianças, adolescentes e jovens pratiquem o futebol de rua em mais de 100 países.
Na Colômbia, projetos sociais abrem as portas a jovens que foram vítimas ou participaram de grupos paramilitares, como as FARC. E no Equador, o esporte foi utilizado para mediar conflitos entre quadrilhas rivais que “empregavam” mais de 60 mil jovens na região metropolitana de Guayaquil.
“Vimos membros de gangues rivais se integrarem e criarem novos times de futebol para poder competir”, explica Nelsa Curbelo, pioneira na aplicação do futebol de rua no país e duas vezes indicada ao Prêmio Nobel da Paz. “O futebol é um elemento aglutinador da diversidade”.
Desde 2007, o Programa Esporte Integral (PEI) da Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos) utiliza o futebol de rua em São Leopoldo (RS), na região metropolitana de Porto Alegre.
E, no ano passado, a ONG Ação Educativa criou sete polos de formação de mediadores na periferia da Grande São Paulo com a participação das organizações: Associação Capão Cidadão, Cedeca Sapopemba, Centro Esportivo Raul Tabajara, Projeto Meninos e Meninas de Rua de São Bernardo do Campo, Movimento Nacional da População Moradora de Rua, Sindicato dos Metalúrgicos de São Carlos e UNAS Heliópolis.
“Queremos buscar a essência do futebol, que é brincar, ocupar o espaço público e com valores vinculados à prática do esporte”, ressalta Rodrigo Medeiros, membro da Ação Educativa e coordenador de mobilização do Mundial de Futebol de Rua.
A intenção é construir uma rede de futebol colaborativo e uma federação de futebol de rua no Brasil depois que o campeonato acabar.
Quem joga?
Cerca de 20 países estão representados por 24 delegações: Argentina e Brasil (com três, cada), África do Sul, Alemanha, Bolívia, Catalunha, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, Estados Unidos, Filipinas, Gana, Guatemala, Israel, Panamá, Paraguai, Peru, Serra Leoa e Uruguai (um time, cada).
As seleções estão hospedadas em sete Centros Educacionais Unificados (CEUs) na periferia e participam de atividades culturais para se integrar à comunidade.
As partidas acontecem entre 07 e 12 de julho em duas arenas montadas no Largo da Batata e na avenida Ipiranga. Além disso, os times participam de jogos de exibição no SESC Pinheiros e o invervalo das disputas são palco de assembleias de movimentos sociais.
“O maior legado do torneio é podermos criar uma plataforma de direitos humanos a nível mundial”, conclui Ferraro.
Redação PEM