Jovem guarani de aldeia no Jaraguá cria mídia para falar da luta dos povos indígenas

Jovem guarani de aldeia no Jaraguá cria mídia para falar da luta dos povos indígenas

Criador da Mídia Guarani Mbya faz parte de uma rede de digital influencers indígenas que derrubam estereótipos, denunciam a situação dos povos originários e apoiam candidaturas para a “aldear a política”  nas eleições de 2022

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Por Thiago Borges

Fotos: Pedro Bieva (em destaque e no final da matéria) e Mirrah da Silva

Richard Wera Mirim mora em uma comunidade com algumas centenas de habitantes, mas dali se conecta com mais de 44 mil pessoas pelo instagram. A aldeia Tekoa Pyau fica na Terra Indígena (TI) do Jaraguá, aos pés do pico mais alto da cidade de São Paulo. Nascido e criado no local, é de lá que o jovem de 19 anos administra a página Mídia Guarani Mbya, com posts sobre o dia a dia de sua aldeia, de outras comunidades no País e de reivindicações políticas de povos indígenas em todo Brasil.

“Se acontece alguma coisa [na aldeia], você pode denunciar o mais rápido possível. Nem sempre a imprensa chega se a informação não der dinheiro pra eles. Nós falamos por nós mesmos, não precisa a imprensa vir falar por nós”, diz.

Desde a adolescência, Richard já demonstrava interesse pelo audiovisual. Aos 13 anos, participava de projetos do Programa Aldeias da Prefeitura paulistana e do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), que deixava equipamentos com jovens da aldeia. Mas o que era feito por hobby logo ganhou uma importância maior com a urgência das lutas.

Em janeiro de 2020, a construtora Tenda avançou sobre a mata vizinha à terra indígena para construir prédios residenciais. A comunidade denunciou a obra, que prejudicaria seu modo de vida tradicional, e ocupou o terreno. Na época, o caso ganhou ampla repercussão na imprensa mas perdeu espaço com o passar do tempo.

Para não ficar dependente da mídia do centro, Richard e outras pessoas da cidade criaram a Mídia Guarani Mbya, que ganhou repercussão e hoje recebe contribuições de várias partes do País. Além de Richard, outras 2 pessoas guarani trabalham continuamente e de forma voluntária na página (1 no Vale do Ribeira e outra no Rio Grande do Sul) e mais 2 pessoas juruá (não-indígenas) auxiliam com o design.

Disputa de narrativas

A demarcação de terras é uma luta histórica de indígenas no Brasil.

E com o governo de Jair Bolsonaro, que desde 2019 não delimitou territórios para os povos originários e tem estimulado a invasão dessas áreas, denunciar a situação se tornou mais urgente. Temas como o garimpo ilegal têm demando muita atenção na atual gestão, que apoia projetos de lei como 191 de 2020, que pretende liberar a mineração em terras indígenas, aumentando ainda mais os conflitos que já existem.

Outra frente de luta é contra o PL 490 de 2007, que altera a legislação reconhecendo apenas as terras indígenas que estavam ocupadas pelos povos indígenas até a Constituição de 1988. É o chamado Marco Temporal, que exigiria a comprovação de ocupação da terra e negando o direito originário aos povos que estão retomando seus territórios que foram invadidos. Entenda mais aqui. O assunto também está travado no Supremo Tribunal Federal (STF), que deve votar sobre a constitucionalidade do tema. Entenda aqui.

Para ampliar as vozes inclusive nos centros de poder institucional e tentar barrar iniciativas como essas, os povos indígenas também lançaram uma estratégia para as eleições deste ano com objetivo de formar uma “Bancada do Cocar” e “aldear a política”. São 182 candidaturas ao Poder Legislativo neste ano. Guaranis do Estado de São Paulo escolheram apoiar as Sonia Guajajara para deputada federal e Chirley Pankará para deputada estadual.

Na maior cidade do País, a TI Jaraguá resiste à especulação imobiliária e ao avanço da mancha urbana. Único comunicador de sua comunidade, Richard lamenta não dar conta de tudo. Por outro lado, entende que seu trabalho e de uma legião de digital influencers indígenas é importante para desmistificar as vivências de mais de 300 etnias com o uso das redes sociais e pautar a política institucional.

“Em muitos lugares que eu chego, as pessoas perguntam: ‘vocês usam celular, televisão, internet?’. E ficam impressionados quando veem celular na nossa mão, porque acham que indígena não pode ter isso. Mas com essa comunicação que nós fazemos, elas vão vendo a realidade”.

Este conteúdo foi produzido no âmbito do projeto Planeta Território, uma iniciativa da Território da Notícia com apoio do Instituto Clima e Sociedade para fomentar e distribuir informação de qualidade sobre a emergência climática, o contexto eleitoral e o impacto na população periférica por meio de totens digitais em estabelecimentos comerciais das periferias de São Paulo

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