De eleitor agressivo a dúvidas em quem votar: A rotina de mesárias nas periferias de São Paulo

De eleitor agressivo a dúvidas em quem votar: A rotina de mesárias nas periferias de São Paulo

A Periferia em Movimento entrevistou e acompanhou o trabalho de voluntárias das eleições nas zonas Sul e Leste da cidade. Elas compartilham as situações mais comuns nas seções eleitorais

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Reportagem de Thiago Borges com fotos de Pedro Salvador

Thamiris Almeida Bastos Moreira, de 35 anos, vai madrugar neste domingo (27/10). Já que a escolha para prefeito da cidade de São Paulo será decidida em segundo turno, entre os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), ela vai ter que trabalhar mais um dia nessas eleições.

“Como os portões abrem às 8h para os eleitores e a gente precisar estar às 7h no local, eu acordo umas 2h antes”, diz ela, que é presidente de mesa em uma seção de votação na Escola Estadual Loteamento das Gaivotas 2, no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo).

“Eu tenho uma filha pequena, então eu deixo tudo pronto no dia anterior, com minha bolsa, um lanche e uma garrafinha de água que vou levar”, completa.

Assistente de direção em uma creche municipal da região, Thamiris também é moradora do território e esta é a segunda eleição que participa como mesária. Em 2024, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) chamou mais de 420 mil pessoas para trabalhar nos dias de votação em todo o Estado de São Paulo.

As pessoas que atuam como mesárias garantem a lisura e organização da votação, com a função de controlar o fluxo na seção eleitoral, verificar identidade, orientar quem vota sobre o funcionamento da urna, preencher a ata de votação com todas as ocorrências relevantes e zelar pela segurança dos materiais eleitorais.

O trabalho não é remunerado e as pessoas voluntárias podem tanto se inscrever quanto receber uma convocação da Justiça Eleitoral. Thamiris se voluntariou para a função atenta aos dias de folga aos quais tem direito: são 2 dias para compensar o extenso treinamento on-line mais 2 dias por cada turno trabalhado. Em 2024, ela vai acumular 6 dias de folga.

Além disso, há outros benefícios como horas complementares em cursos universitários, vantagem em caso de empate em concurso público e auxílio-alimentação de R$ 60 por turno trabalhado.

Veterana

Do outro lado da cidade, em Ermelino Matarazzo (zona Leste de São Paulo), Rosane Ricardo da Silva já perdeu as contas de quantas eleições ajudou a organizar. A analista de RH de 44 anos de idade é mesária há 28 e chega no colégio às 6h45.

Rosane

“Montamos a sessão, emitimos a ‘zerésima’, que é o documento que comprova que não tem nenhum voto computado. E depois organizamos as filas de acordo com as prioridades, pois a seção tem acessibilidade”, explica Rosane.

Em geral, há 1 hora de almoço e pausas ao longo do dia, mas cada seção organiza sua própria dinâmica. Os locais de votação fecham as portas às 17h e o trabalho termina por volta das 18h, com a emissão dos boletins de urna.

Impactos da desinformação

A rotina acontece de forma tranquila, mas muitas situações são comuns e ilustram o cenário da política institucional.

“Os eleitores muitas vezes não sabem para quais cargos vão votar. É muito comum acharem que vão votar só para um cargo, irem só com um candidato em mente e na hora descobrirem: ‘moça, tem que votar em vereador?’. A gente precisa ser imparcial, não pode sugerir candidato e, infelizmente, essa pessoa acaba anulando o voto”, explica Thamiris.

A presidente de mesa diz que também é muito comum que as pessoas perguntem a opinião sobre alguma candidatura e deduzirem que as trabalhadoras voluntárias sejam de esquerda ou direita.

Rosane concorda, lembra ainda que muita gente deixa “santinhos” com número de candidaturas ao lado das urnas e nota uma mudança importante desde as eleições de 2022, que elegeram Presidente da República entre outros cargos.

“Depois das últimas eleições presidenciais, o que aumentou bastante foi a falta de respeito de alguns eleitores que acham que existe fraude, querem filmar, e em alguns casos são agressivos”, observa Rosane.

Apesar disso, a mesária veterana considera seu trabalho relevante para o pleito.

“Eu acho super importante fazer parte desse processo tão democrático. Se todos que criticam tivessem interesse de participar, não seriam disseminadas tantas fake news”, completa Rosane.

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Reportagem de Thiago Borges com fotos de Pedro Salvador

Thamiris Almeida Bastos Moreira, de 35 anos, vai madrugar neste domingo (27/10). Já que a escolha para prefeito da cidade de São Paulo será decidida em segundo turno, entre os candidatos Guilherme Boulos (PSOL) e Ricardo Nunes (MDB), ela vai ter que trabalhar mais um dia nessas eleições.

“Como os portões abrem às 8h para os eleitores e a gente precisar estar às 7h no local, eu acordo umas 2h antes”, diz ela, que é presidente de mesa em uma seção de votação na Escola Estadual Loteamento das Gaivotas 2, no Grajaú (Extremo Sul de São Paulo).

“Eu tenho uma filha pequena, então eu deixo tudo pronto no dia anterior, com minha bolsa, um lanche e uma garrafinha de água que vou levar”, completa.

Assistente de direção em uma creche municipal da região, Thamiris também é moradora do território e esta é a segunda eleição que participa como mesária. Em 2024, o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) chamou mais de 420 mil pessoas para trabalhar nos dias de votação em todo o Estado de São Paulo.

As pessoas que atuam como mesárias garantem a lisura e organização da votação, com a função de controlar o fluxo na seção eleitoral, verificar identidade, orientar quem vota sobre o funcionamento da urna, preencher a ata de votação com todas as ocorrências relevantes e zelar pela segurança dos materiais eleitorais.

O trabalho não é remunerado e as pessoas voluntárias podem tanto se inscrever quanto receber uma convocação da Justiça Eleitoral. Thamiris se voluntariou para a função atenta aos dias de folga aos quais tem direito: são 2 dias para compensar o extenso treinamento on-line mais 2 dias por cada turno trabalhado. Em 2024, ela vai acumular 6 dias de folga.

Além disso, há outros benefícios como horas complementares em cursos universitários, vantagem em caso de empate em concurso público e auxílio-alimentação de R$ 60 por turno trabalhado.

Veterana

Do outro lado da cidade, em Ermelino Matarazzo (zona Leste de São Paulo), Rosane Ricardo da Silva já perdeu as contas de quantas eleições ajudou a organizar. A analista de RH de 44 anos de idade é mesária há 28 e chega no colégio às 6h45.

Rosane

“Montamos a sessão, emitimos a ‘zerésima’, que é o documento que comprova que não tem nenhum voto computado. E depois organizamos as filas de acordo com as prioridades, pois a seção tem acessibilidade”, explica Rosane.

Em geral, há 1 hora de almoço e pausas ao longo do dia, mas cada seção organiza sua própria dinâmica. Os locais de votação fecham as portas às 17h e o trabalho termina por volta das 18h, com a emissão dos boletins de urna.

Impactos da desinformação

A rotina acontece de forma tranquila, mas muitas situações são comuns e ilustram o cenário da política institucional.

“Os eleitores muitas vezes não sabem para quais cargos vão votar. É muito comum acharem que vão votar só para um cargo, irem só com um candidato em mente e na hora descobrirem: ‘moça, tem que votar em vereador?’. A gente precisa ser imparcial, não pode sugerir candidato e, infelizmente, essa pessoa acaba anulando o voto”, explica Thamiris.

A presidente de mesa diz que também é muito comum que as pessoas perguntem a opinião sobre alguma candidatura e deduzirem que as trabalhadoras voluntárias sejam de esquerda ou direita.

Rosane concorda, lembra ainda que muita gente deixa “santinhos” com número de candidaturas ao lado das urnas e nota uma mudança importante desde as eleições de 2022, que elegeram Presidente da República entre outros cargos.

“Depois das últimas eleições presidenciais, o que aumentou bastante foi a falta de respeito de alguns eleitores que acham que existe fraude, querem filmar, e em alguns casos são agressivos”, observa Rosane.

Apesar disso, a mesária veterana considera seu trabalho relevante para o pleito.

“Eu acho super importante fazer parte desse processo tão democrático. Se todos que criticam tivessem interesse de participar, não seriam disseminadas tantas fake news”, completa Rosane.

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