A música sempre foi instrumento de engajamento político e uma forma de abordar questões sociais e políticas. No Brasil, Caetano Veloso, Geraldo Vandré, Chico Buarque, Elis Regina, Cazuza e Legião Urbana são alguns dos ícones da música de protesto que marcaram a época da ditadura militar no país.
Mas como o protesto se insere na música hoje, em um cenário democrático e dois anos após as chamadas manifestações de junho, que levaram milhares de pessoas às ruas? Qual estética tem sido desenvolvida a partir dos protestos? Que estilos musicais e formas de apresentação têm surgido, quando música e poesia se aproximam do protesto? Quais paralelos podem ser estabelecidos em um diálogo Sul-Sul? Que símbolos e palavras sensibilizam?
Tendo a música de protesto e a cultura de resistência como tema central, o Goethe-Institut realiza o “Massa revoltante – Um movimento de vozes do Sul”, série de workshops, aulas-performance e ensaios entre os dias 7 e 12 de junho, em vários locais de São Paulo, com a participação de músicos, compositores e pesquisadores nacionais e internacionais.
A série faz parte do projeto Episódios do Sul, criado pelo Goethe-Institut, que busca visões e contribuições do Sul na arte, na ciência e na cultura, em um contexto de crescente globalização.
O Periferia em Movimento foi convidado a cobrir algumas das atividades. Ao longo da semana, acompanhe por aqui nosso registro.
Massa revoltante tem a curadoria do músico e compositor sul-africano Neo Muyanga, que realizou neste ano uma pesquisa sobre a música de protesto nas cidades de São Paulo e Montevidéu, traçando paralelos entre os artistas e o ativismo musical, além de Johanesburgo, sua cidade-natal. Neste período, encontrou com artistas brasileiros como Karina Buhr, Criolo e Roberta Estrela D’Alva, trocando ideias e concebendo conjuntamente as atividades do projeto.
“Tanto o Uruguai quanto o Brasil possuem formas de fazer música que permanecem profundamente enraizadas na estética africana, afinal ambos os países foram recebedores de africanos capturados e deslocados à força durante o tráfico transatlântico de escravos.” O artista atua como regente em diversas produções na África do Sul e no mundo, como as da Companhia Royal Shakespeare. É compositor residente no Wits Institute for Social and Economic Research (WISER) da Universidade Witwatersrand na África do Sul e do Humanities Research Institut (HRI) da Universidade da Califórnia.
Massa Revoltante terá uma programação intensa e diversificada, com a participação de Karina Buhr, Roberta Estrela D‘Alva, Emeka Ogboh (Nigéria), Barão di Sarno, Giovani di Ganzá, bloco Ilú Obá de Min, A Batata Precisa de Você, grupo Madeira de Lei, Coral Tradição, entre outros.
No dia 7 de junho, domingo, às 13h, na Casa do Povo (Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro), Muyanga fará, junto com Gaspar Z’Africa Brasil, uma apresentação no Doris Criolla, do artista Amilcar Packer. O Doris Criolla consiste em almoços ou jantares com pratos baseados em receitas da cozinha crioula e que servem de gatilho para mediar conversas sobre alimentação, história e arte. Em seguida, às 16h acontece uma saída com o bloco afro Ilú Obá de Min até a Estação da Luz.
Nos dias 8 e 9 de junho, 2ª e 3ª feira, no Goethe-Institut (Rua Lisboa, 974 – Pinheiros), haverá uma série de aulas-performance e ensaios com Neo Muyanga e convidados, como a professora e cantora Inaycira Falcão dos Santos, o compositor Giovani de Ganzá e os grupos Clarianas e Makumbando.
No dia 10 de junho, das 9h às 17h, o Massa Revoltante se desloca até o extremo sul da cidade, passando pelo Grajaú, chegando na Ilha do Bororé, reunindo movimentos da região para uma oficina de percussão feminina ministrada por Karina Buhr. Todos são convidados a se reunir e fazer juntos esse percurso saindo da Estação Pinheiros.
No dia 11 de junho, às 11h, o músico nigeriano residente em Berlim Emeka Ogboh ministra uma oficina sobre conexões da diaspora no Goethe-Institut. Às 16h, na Casa do Povo, acontecerá um ensaio aberto com canções de protesto em iídiche pelo Coral Tradição.
No dia 12 de junho, sexta-feira, às 11h abrindo o último dia da programação, o grupo Madeira de Lei abre a roda de samba contando suas histórias a partir na Vila Itororó. As ideias, discussões, improvisos e experimentações ao longo da semana culminarão em uma jam no Largo da Batata, às 18h com os artistas participantes do projeto e a Rinha dos MCs.
Anotaí!
Massa Revoltante
Quando? De 7 a 12 de junho, em diferentes locais
Quanto? Eventos gratuitos e abertos ao público
Mais informações no telefone: 11 3296 7000, pelo e-mail: [email protected] ou no site do evento
Programação completa
DOMINGO, 7 DE JUNHO
13h | Casa do Povo (Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro)
Doris Criolla com Neo Muyanga, Gaspar Z’Africa Brasil e Roberta Estrela D’Alva, projeto do artista Amilcar Packer
Retirada de ingressos no local (200 lugares)
16h | Casa do Povo (Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro)
Saída com o bloco afro Ilú Obá de Min
SEGUNDA-FEIRA, 8 DE JUNHO
18h | Goethe-Institut (Rua Lisboa, 974 – Pinheiros)
Aula-performance “Revolting Music: uma jornada de música e protesto na África do Sul” com Neo Muyanga (Johanesburgo)
19h30 | Goethe-Institut (Rua Lisboa, 974 – Pinheiros)
Conversa “Canção de protesto no Brasil: gênero ou intenção?” com Naira Marcatto
TERÇA-FEIRA, 9 DE JUNHO
11h | Goethe-Institut. Rua Lisboa, 974 – Pinheiros
Canto lírico de orixás com Giovani di Ganzá, Inaicyra Falcão dos Santos, Clarianas, Stereotupi, entre outros
15h | Goethe-Institut. Rua Lisboa, 974 – Pinheiros
Conversa “Carnaval: entre marchinhas e murgas” com Laura Efron e Guido Piotrkwski, Barão di Sarno, entre outros
QUARTA-FEIRA | 10 DE JUNHO
9h | Saída da Estação Pinheiros (CPTM)
A partir das 11h | Casa Ecoativa – Estr. de Itaquaquecetuba, 7225
Vozes e ritmos do Extremo Sul: um dia na ilha do Bororé
Oficina de percussão com Karina Buhr e encontros com Mulheres na Luta, Semente do Jogo de Angola, Imargem, CAPS, Os Retirantes, entre outros.
QUINTA-FEIRA, 11 DE JUNHO
11h | Goethe-Institut. Rua Lisboa, 974 – Pinheiros
Workshop “Diáspora: sons e conversas” com o músico nigeriano residente em Berlim Emeka Ogboh e Neo Muyanga
15h | Casa do Povo (Rua Três Rios, 252 – Bom Retiro)
Workshop “Música iídiche de protesto” com o Coral Tradição
SEXTA-FEIRA, 12 DE JUNHO
11h | Vila Itororó. Rua Pedroso, 238 – Bela Vista
Roda de conversa, roda de samba “O samba resiste” com o grupo Madeira de Lei
18h | Largo da Batata – Pinheiros
Jam session com os artistas participantes do projeto e o bloco Nóis Trupica Mais Não Cai