Por Victor Santos, da Revista Vaidapé
A abertura do Estéticas das Periferias de 2014 aconteceu no Auditório do Ibirapuera com o espetáculo gratuito “Favela”. O evento tem o objetivo de enaltecer a arte produzida nas bordas da metrópole. No palco, histórias trágicas e cômicas trazidas da quebrada eram intercaladas por sons da banda Aláfia, com diferentes elementos da música de raízes africanas.
A apresentação homenageou duas grandes referências da militância negra. Uma delas, a escritora Carolina Maria de Jesus (1914-1977), que descreveu a realidade da favela Canindé, em São Paulo, abordando questões políticas e sociais, sem deixar de lado temas como a violência doméstica e a realidade enfrentada pelas mulheres.
Suas histórias foram trazidas ao palco por atrizes e atores de quatro companhias de Teatro Negro da capital paulista: Os Crespos, Coletivo Negro, Capulanas Cia de Arte Negra e Grupo Clariô de Teatro. A direção foi realizada por Lucelia Sergio, da companhia Os Crespos.
Também foi homenageado o dramaturgo e ativista Abdias do Nascimento (1914-2011), primeiro deputado federal afro-brasileiro e fundador do Teatro Experimental do Negro (TEN).
Apesar dos textos datarem de algumas décadas atrás, a peça traz diversas situações que ainda estão presentes no cotidiano da favela, como a violência policial, o racismo e o descaso da sociedade com a situação vivida pelas classes marginalizadas – temas reivindicados por movimentos sociais e frequentemente denunciados em letras de rap.
O espetáculo dialoga com a pesquisa do IPEA, de 2011, que mostra que a maioria dos mortos por homicídio no Brasil – 71,5% – eram negros. O levantamento também aponta que 65% dos policiais entrevistados admitiram que pretos e pardos são priorizados na abordagem e, não menos trágico, que para 55,8% da população brasileira, a morte de um jovem negro choca menos que a de um jovem branco. Confira no site do Coletivo Desentorpecendo a Razão.
Redação PEM