Por Paula Sant’Ana. Edição: Thiago Borges. Arte: Rafael Cristiano (com fotos de arquivo pessoal)
Agosto de 2022. Depois de algumas semanas de recesso, as aulas presenciais voltaram – e no segundo semestre do ano, as temáticas das provas de ingresso na faculdade dominam a cena. Como estão estudantes da etapa final da escola? Quais são as perspectivas de estudo e, quem sabe, de conseguir um trampo?
Depois de quase 2 anos de distanciamento social, adolescentes retornaram à escola com o novo ensino médio, mudanças na grade curricular e muita ansiedade. Segundo o Ministério da Educação (MEC), a mudança nessa etapa é estrutural e amplia o tempo mínimo do estudante de 800 horas para 1.000 horas anuais, com uma nova organização curricular que torna algumas disciplinas opcionais.
Na prática, essas alterações impactam a vida de quem sonha com um bom futuro.
Para Camille Renno, de 16 anos, o novo cenário resultou em dificuldades para conciliar os estudos. De segunda a sexta, ela fica em tempo integral na escola e, aos sábados, estuda no Emancipa, um cursinho popular pré-vestibular. Em 2022, a adolescente vai fazer pela segunda vez a prova do Enem, que é a principal porta de entrada em universidades públicas ou para conseguir bolsas em instituições particulares.
“Não vou mentir, não consigo pegar tudo de vez porque já estudo o dia inteiro, mas o que eu consigo absorver me ajuda bastante”, desabafa a estudante do 2° ano do ensino médio na EE Adelaide Rosa, no Parque Grajaú (Extremo Sul de São Paulo).
Já Pedro Nascimento, 17, se sente seguro mesmo após o período de ensino à distância. “O ensino remoto ainda pode ser bem aproveitado por mim devido à área na qual estudo, onde o principal ambiente é por meios remotos”, diz ele, que mora no Campo Limpo e estuda na ETEC de Taboão da Serra, na região metropolitana. Atualmente no 3° ano, ele sonha em cursar Análise e Desenvolvimento de Sistemas, mas isso depende do desempenho nos estudos.
“Meus planos serão adaptados de acordo com o atendimento de expectativas em relação aos estudos e aos vestibulares. Caso não sejam atendidas este ano, no próximo pretendo reforçar os estudos por mim mesmo”, continua Pedro.
Já Flávia Agostinho, 18, não se sente segura para prestar o Enem. “Não me inscrevi esse ano porque não me senti preparada. Com a mudança do Ensino Médio dentro das ETECs, tirou muita matéria”, conta a estudante do 3° ano na ETEC Tiquatira, localizada na Penha (zona Leste).
Moradora de Guarulhos, Flávia está investindo em cursos técnicos do Centro Paula Souza. Ela já é formada em Processos Fotográficos e agora cursa Marketing de olho em possíveis trampos. “Querendo ou não, os 2 cursos se interligam muito. Vai me ajudar muito na carreira”, explica.
Enquanto algumas pessoas estão de olho na faculdade e/ou no corre para entrar efetivamente no mercado de trabalho, Mariana Silva, 17, decidiu “dar uma pausa”. Atualmente, ela faz um curso de assistente de administração no SENAC.
“Como são 3 meses de curso, no ano que vem procuro um serviço. Não vou tá estudando mais, né? Fé em Deus”, comenta a aluna do 3° ano na EE Professor Messias Freire, no Jardim Leônidas Moreira, região do Campo Limpo (zona Sul).
Assim como Flávia, Mariana também não vai fazer o Enem. Sobre a prova, ela prefere realizar outros cursos antes de entrar no ensino superior. “Não tenho vontade de fazer o Enem por enquanto. Quero fazer um curso técnico primeiro, pra depois investir na faculdade”, explica.
Bryan Almeida também decidiu não prestar a prova. Para ele, conseguir um trabalho antes é o caminho ideal no momento.
“Meu caso é diferente por ser uma cara trans [com o nome de registro] não retificado ainda. Então, em questão social não sei ao certo o que pode ocorrer, mas primeiro quero trabalhar pra pensar melhor em qual faculdade fazer”, conta o jovem de 17 anos, aluno do 3° ano na EE Presidente Kennedy, na Vila Pirajussara (zona Sul da capital).
Depois da queda no ano passado, segundo o MEC as inscrições para o Enem aumentaram cerca de 10% em relação a 2021. Dados apontam que mais de 3,3 milhões de pessoas vão prestar a prova, que acontece nos dias 13 e 20 de novembro, tanto na versão presencial quanto on-line. Ainda assim, o número de inscrições é menor que em 2020, quando 5,7 milhões de pessoas buscaram a prova.
A visão de quem ensina
Enquanto estudantes têm perspectivas e histórias distintas, profissionais da educação acompanham essa ansiedade e as preocupações. Neste período de transição para a vida adulta, além dos estudos, existe um certo cuidado em lidar com adolescentes.
“Eles já chegam com bastante insegurança e preocupação. E agora dentro dessa realidade do ensino médio, onde eles não estão tendo aulas de várias disciplinas que antes eles tinham e que eles sabem que é importante pro vestibular, eles ficam mais ansiosos, ainda mais inseguros”, comenta Rafael Cícero, professor da Rede Übuntu, que organiza cursinhos populares nas periferias de São Paulo.
Além da percepção dessa ansiedade por conta de mudanças na grade e demais problemáticas que fazem parte da vida de adolescentes, para a professora Regina Santos é necessário estar sempre motivando a todes.
“O que a gente percebe é que tem que alimentar o tempo todo, é fazer divulgação mesmo: ‘olha, cursinho comunitário! A feira de profissões que acontecerá aí na USP’, entre outros. Então, é colocar o tempo todo pílulas de motivação para eles”, relata a professora de Sociologia e Filosofia na EE Carlos Ayres, no Grajaú (Extremo Sul).
Paula Sant'Ana, Thiago Borges, Rafael Cristiano