Eleições em São Paulo: O que esperar a partir de 2021?

Eleições em São Paulo: O que esperar a partir de 2021?

A candidatura de Guilherme Boulos colocou a luta por direitos no centro do debate e, apesar dos resultados, foi derrotada pelo atual prefeito Bruno Covas. Quais são as promessas para próxima gestão? E como um mandato de origem periférica pretende atuar na Câmara Municipal?

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Tempo de leitura: 9 minutos

Por Thiago Borges

Foto em destaque: Douglas Fontes

Muita gente que atua na linha de frente pela garantia de direitos se frustrou com o resultado das eleições municipais na cidade de São Paulo. Coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), Guilherme Boulos (PSOL) foi derrotado pelo atual prefeito Bruno Covas (PSDB). O tucano teve 59,38% dos votos válidos (cerca de 3,1 milhões) contra 40,62% (2,1 milhões) do candidato psolista. O total de votos brancos e nulos foi de 14%, enquanto 30,8% dos eleitores não foram votar.

Apesar da derrota nas urnas, é válido reforçar que a candidatura de Boulos foi marcada pelo protagonismo dos movimentos sociais e da luta por direitos na maior cidade do País.

E enquanto Covas ficou em 1º lugar em 50 das 58 zonas eleitorais da cidade, Boulos conseguiu vencer em 8 áreas periféricas: Cidade Tiradentes (56,42%), Valo Velho (56,41%), Piraporinha (54,62%), Grajaú (54,23%), Capão Redondo (51,9%), São Mateus (50,8%), Campo Limpo (50,6%) e Parelheiros (50,35%).

Quilombo Periférico, candidatura com Elaine Mineiro na cabeça de chapa

Para o articulador cultural Alex Barcellos, morador do Campo Limpo (zona Sul de São Paulo), com a reeleição de Covas “a gente vai ter que ser mais incisivo e briguento pra colocar nossas pautas”.

Alex é um dos 6 co-vereadores eleitos pelo Quilombo Periférico, candidatura coletiva do movimento negro e das periferias que tem Elaine Mineiro como cabeça de chapa e também agrega Débora Dias, Erick Ovelha, Julio Cezar de Andrade e Samara Sosthenes.

“Os desafios são gigantes porque esses espaços são construídos pra nós não estarmos, mas é importante ocupar para continuar lutando pelas demandas históricas desses movimentos e se posicionar em perspectivas possíveis do nosso povo”, aponta Alex.

O Quilombo Periférico obteve 22.742 votos, sendo a maioria nas periferias das zonas Leste e Sul, de onde o grupo se origina. Para Alex isso demonstra a importância do trabalho contínuo com a população.

“O eleitorado com certeza votou na perspectiva de entender o que é esse Quilombo, mas também entendendo a conjuntura de País, política e econômica, e acreditando numa perspectiva coletiva”, pontua Alex.

O Quilombo Periférico tem pautas prioritárias para defender a partir do próximo ano, como uma lei de fomento a cursinhos populares para o pré-vestibular e a aprovação da Lei Paul Singer de Economia Solidária para apoiar pequenos empreendimentos, entre outras. Outro ponto é acompanhar e apresentar propostas de interesses das periferias na revisão do Plano Diretor Estratégico, que define prioridades de desenvolvimento na cidade a médio e longo prazo.

Diante da pandemia de coronavírus, o grupo segue fiscalizando as políticas públicas para saúde, alimentação, trabalho e renda. E trabalha desde já acompanhando a votação da lei orçamentária (que define quanto cada área deve ter de recursos para gastar no ano que vem) e pela prorrogação da lei Aldir Blanc com auxílio emergencial para trabalhadores da cultura.

“Tem o aprendizado que a gente carrega e que dá um respaldo, mas é fundamental a população acompanhar os processos e fortalecer na construção coletiva de uma São Paulo antirracista”, reforça Alex.

As promessas de Bruno Covas

Concluída a votação, é hora de observar quem segue na administração municipal. Além das medidas esperadas para combater o novo avanço do coronavírus e dos cuidados com sua própria saúde, há a expectativa de que Covas cumpra os 4 anos de mandato (ele disse que não vai abandonar a Prefeitura para concorrer ao Governo do Estado em 2022, por exemplo) e como vai compor seu novo governo, que tem 10 partidos aliados e o atualmente vereador Ricardo Nunes (MDB). O novo vice-prefeito é investigado por esquemas com organizações conveniadas na educação e acusado de violência doméstica.

Na semana passada, a Periferia em Movimento publicou uma análise dos programas de governo de Bruno Covas e Guilherme Boulos partindo dos anseios ouvidos em entrevistas com a população periférica. Leia aqui na íntegra. Abaixo, destacamos medidas apresentadas por Covas em diferentes áreas:

Combate às desigualdades: Covas fala em reverter o “acirramento de desigualdades sociais” com ações de inclusão social, defesa dos direitos humanos e das minorias. Isso inclui pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, imigrantes, os idosos e a população de rua. O plano não detalha cada proposta. O atual prefeito fala ainda no combate ao racismo (palavra citada apenas 1 vez no plano); no respeito à diversidade e à igualdade de gênero, sem citar termos como “população LGBT” ou “lgbtfobia”; e nos direitos e as pautas das mulheres, com ações de enfrentamento à violência doméstica, que devem ter ampliada a Guarda Patrulha Maria da Penha. Em relação à fome, o termo “segurança alimentar” não é citado.

Saúde: Covas diz que contratou 10 mil profissionais e inaugurou 51 unidades de saúde, entre elas 8 hospitais. Nos próximos 4 anos, pretende ampliar a oferta de serviço públicos de saúde e preparar a rede municipal para os desafios futuros da pandemia vai gerar, como a ampliação das áreas de nefrologia, saúde mental, o combate a comorbidades (como a obesidade) e a atenção especial às mulheres, à primeira infância, à prevenção e ao tratamento de usuários de drogas. Além disso, cerca de 60 mil profissionais serão treinados para atendimento virtual – inclusive para saúde mental.

Trabalho e renda: O prefeito diz que nos últimos 4 anos as obras e serviços de zeladoria geraram 104 mil empregos na cidade. Agora, com a proposta de criar o programa habitacional São Paulo Nosso Lar, ele prevê gerar 49 mil empregos diretos nos próximos 4 anos. Também pretende ampliar o programa Renda Mínima Municipal e a concessão de bolsas para 1ª infância, além de iniciativas de capacitação e recolocação profissional, em especial pessoas com deficiência e mobilidade reduzida. Covas fala ainda em “sustentabilidade ambiental” como estratégia de retomada econômica.

Educação: Para Covas, o foco de sua gestão está na 1ª infância. O atual prefeito diz que zerou a fila por vagas em pré-escola e reduziu a espera nas creches ao “menor patamar de que se tem registro”. Ele quer um “robusto” programa de educação e proteção de crianças e jovens, com foco na 1ª infância, e garantir a recuperação do calendário escolar inclusive com atividades de reforço para estudantes. Fala em fornecer 465 mil tablets com internet aos estudantes da rede municipal e abrir 12 novos CEUs na cidade.

Infraestrutura: Covas cita o programa Nosso Lar como “maior iniciativa” de novas habitações, urbanização de favelas e requalificação de moradias precárias. Além de entregar 70 mil moradias (entre 50 mil já viabilizadas e outras 20 mil que serão contratadas), ele fala em regularizar a situação de 14 mil imóveis na cidade. Também promete investir em drenagem e combate a enchentes como forma de dinamizar a economia. E cita que, nos últimos anos, entregou 181 obras na cidade – incluindo a controversa reforma do Vale do Anhangabaú, orçada em R$ 100 milhões. Nos transportes, Covas aposta na integração de diferentes meios por meio do Bilhete Único. Além disso, pretende criar o “Aquático”, um sistema de transporte público por barcos nas represas Billings e Guarapiranga.

2 Comentários

  1. […] tem trajetória em movimentos sociais, como a Educafro, e recebeu mais de 11 mil votos na última eleição para vereadora na capital paulista. Candidata pelo PSOL, ela não foi […]

  2. […] resultado repete um padrão observado na eleição de 2020, em meio à pandemia de covid-19, quando Boulos perdeu a disputa para Bruno Covas (PSDB) praticamente com o mesmo percentual de […]

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