“Economia solidária é a ‘metadinha’ que a gente sempre dividiu na quebrada”

“Economia solidária é a ‘metadinha’ que a gente sempre dividiu na quebrada”

Ferréz, Sergio Vaz, Agência Solano Trindade e uma rapa das quebradas trocou experiência do outro lado do rio. Nos dias 7 e 8 de novembro, coletivos e grupos trocaram experiências no Festival Social A Ponte.

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Quando o cara traz aquele pão com mortadela que cheira na sala de aula, é de lei, vai ter que dar a metadinha pra geral. Dessa maneira, o escritor Ferréz mostrou na abertura do Festival Social A Ponte o que é que move a economia solidária, de fato. “Economia solidária é a ‘metadinha’ que a gente sempre dividiu na quebrada”, diz ele.

Durante o Festival Social, realizado pelo grupo Jovens Sem Fronteiras no dia 07 de novembro, no Clube Hebraica, em São Paulo, diversos grupos e coletivos da cidade compartilharam experiências sobre economia, negócios, terceiro setor e tecnologia, do ponto de vista social da questão.

Mas a ponte entre a periferia e o centro ainda está longe de ter o mesmo caminho nos trajetos contrários. Sergio Vaz, escritor e um dos fundadores do sarau da Cooperifa, lembra que nós do lado de cá queremos diminuir essas pontes, mas o sentimento não é necessariamente recíproco na outra ponta. “A chacina de Osasco deixa 19 mortos e ninguém se indigna; o Alckmin fecha 134 escolas e ninguém fala nada. Por isso, nós criamos pontes entre nós mesmos, os coletivos, os bairros”, aponta.

Do lado de lá, Ana Carolina Martins criou o ColaboraMundo, plataforma virtual que conecta pessoas interessadas em se engajar no trabalho de organizações. “A gente não colabora porque é bonzinho, a conexão com as pessoas é uma necessidade humana, e o primeiro passo é ver ao outro como parceiro, não inimigo”, explica Ana Carolina.

Ela conta que a ideia só saiu do papel depois que percebeu que toda sua vida tinha sido influenciada por atitudes solidárias. “Já saindo da maternidade, uma desconhecida acolheu a mim e minha mãe. Depois, fui criada num lar de crianças por pessoas que me deram uma formação maravilhosa”, conta Ana, que hoje trabalha dando oportunidades de futuro a quem procura o ColaboraMundo.

Muita gente sonha em construir uma nova realidade, mas as oportunidades parecem distantes e a necessidade econômica é o que dita a vida de qualquer um, já que nada funciona se não traz comida pra mesa. “A sofrência da vida nos dá certeza do que a gente quer”, ressalta Ferréz. “Se a gente fracassar, não vai ter empresa do pai pra cuidar. A gente vai tomar conta da biqueira”, continua.

Por isso, no Campo Limpo, o Banco Sampaio surge para criar perspectivas de autonomia financeira para quem é da periferia e virou ‘escravo’ das altas taxas de juros. “A nossa economia é pautada nas pessoas, não no dinheiro. Ponte se faz com energia e movimento”, conta Thiago Vinícius, sobre o Banco Comunitário União Sampaio.

Desde 2009, no Campo Limpo, o banco criou uma moeda própria, fruto de um trabalho de base que a União Popular de Mulheres faz desde as primeiras ocupações da região, em meados de 1985. A economia solidária, explica Thiago, começava já quando o pessoal chegava na terra batida e batia laje junto, dividindo roupa e água, ou levando alguém no hospital sem cobrar nada.

Hoje, a Agência Solano Trindade, propulsora do Banco, é um guarda-chuva de movimentos sociais que auxilia os moradores da região. “As pessoas da quebrada construíram duas cidades, a do lado daqui e a de lá”, diz Thiago.

O papel do banco é avançar essa estrutura antiga de compartilhamento para uma moeda que vai te financiar se você precisa comer e não tem dinheiro num mês, mas no outro vai pagar. “Não somos pobres, somos empobrecidos” pelo sistema bancário que cobra juros altíssimos e nos escraviza, diz Thiago. A moeda é lastreada no real, ou seja, vale como o real, mas faz girar uma economia dentro da periferia.

“Nosso juros são de até 2%, e ele politiza as pessoas, ao invés do outro, que apenas se aproveita ao duvidar da capacidade do outro de pagar”, conta. Dessa maneira, o banco financia ideias que os editais públicos não suprem: “Se o edital já é de tal, nós temos que nos apoiar”, diz.

A programação do encontro também contou com vivências e rodas de conversa, além das mini-palestras sobre economia, negócios, terceiro setor, tecnologia, ativismo e política. Participaram também o Nós, Mulheres da Periferia, Ação Jovem, ISES, Arredondar, Baobá, You Green, A Banca, Cinemateus, Artemísia, Atados, Mundano, Aoka, ECOSOL, entre muitos outros.

No embalo das atividades, o Coletivo Imargem grafitava painéis baseados nos temas tratados, que foram expostos no encerramento. Também acompanhamos a exibição do documentário Cartograffiti, que relata o projeto do Imargem que mapeou pontos estratégicos da cidade através do graffiti, em parceria com a Secretaria de Cultura de São Paulo.

Confira um dos teasers do Cartograffiti:

2 Comentários

  1. […] a proposta de promover a economia solidária na quebrada, a Agência Solano Trindade abre a chamada criativa Alimentando Pontes, com o programa “Zona Sul Território da Alimentação […]

  2. […] lei de fomento a cursinhos populares para o pré-vestibular e a aprovação da Lei Paul Singer de Economia Solidária para apoiar pequenos empreendimentos, entre outras. Outro ponto é acompanhar e apresentar […]

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