Com presença de homenageadas, festival de teatro de rua conta histórias de matriarcas que construíram Grajaú

Com presença de homenageadas, festival de teatro de rua conta histórias de matriarcas que construíram Grajaú

Organizado pela Cia Teatral Enchendo Laje & Soltando Pipa, “Grajaú é a cidade” resgata trajetória de 5 mulheres lideranças de território no Extremo Sul de São Paulo. Confira a crítica de Rafael Cristiano na seção De Lupa na Arte

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Lembro quando voltava do trampo e da faculdade e havia uma pixação no início da avenida Belmira Marin: “Grajaú, onde começa a cidade”.

Conheço o trabalho da Cia Teatral Enchendo Laje & Soltando Pipa há um tempo. O grupo está localizado no Extremo Sul da cidade há 20 anos e vem ao longo do tempo pesquisando o território como propulsor de histórias a serem contadas, narrativas que alargam as dramaturgias do teatro brasileiro com o cotidiano e as elaborações estéticas e filosóficas das bordas da cidade – em específico essa, o Grajaú, o tal do distrito mais populoso da cidade de São Paulo.

O Grajaú, como a maioria (se não todos) os territórios periféricos, foi organizado e projetado por mulheres que chegaram quando não havia estruturas que garantissem os direitos das pessoas que habitavam ali. Quando não havia asfaltos, hospitais, prontos socorros, postos de saúde, creches e escolas. No período de ditadura militar no País e elas que compuseram os movimentos contra a carestia e a falta de condições de colocar a carne na mesa.

#Matriarcas: Mulheres que cavaram os alicerces para a luta nas quebradas

 

Bom, dessa vez o grupo de teatro nos convidou a adentrar nas histórias das  Matriarcas do território, as mulheres que organizaram o Grajaú envolvidas na construção da Associação de Mulheres , que em suas diversas atividades conseguiram articular melhorias significativas pro bairro. Foram cinco  mulheres escolhidas: Cidona, Adélia Prates, Ivanilda Mendes, Nalva Maria e Maria Villani.

A ideia do coletivo foi a de convidar 4 diferentes grupos teatrais que tivessem uma relação com o território e com a pesquisa de teatro de rua:  a Cia Madeirite Rosa, a Cia Os Desconhecidos, o Coletivo 011 e o Núcleo Pele, além da própria Cia Enchendo Laje.

A partir da escuta de uma dessas mulheres, foram criadas 5 cenas inspiradas na entrevista com a matriarca. As cenas criadas estão sendo apresentadas em um festival de teatro de rua chamado “Grajaú é a cidade”. A cada dia, 3 grupos apresentam, e cada edição é em homenagem a uma das matriarcas, que ao final é convidada a partilhar suas impressões das cenas e a dialogar com o público.

Aqui, acho importante dizer que faço parte de um dos coletivos convidados para a ação, o Núcleo Pele. Mas para além de não estar na cena criada, me atenho nesta apreciação a falar da ideia e da edição do festival como um todo, não focando nas cenas criadas, e sim na pluralidade delas e na organização do evento.

A rua começa a ser tomada como palco.  São anunciadas as cenas e os grupos que irão apresentar. O teatro se inicia…

É bonito pensar na escolha por um festival que acontece no espaço público e democrático que é a rua – as histórias de formação do mesmo lugar onde agora se senta esse público curioso, onde a criançada corre, onde os bares tocam seus forrós, onde as escolas repousam no domingo para continuar na semana que se iniciará, onde os casais andam de mãos dadas, onde o comércio se agita no sábado e fecha no domingo.

As mulheres são celebradas por sua contribuição na construção desse cotidiano que parece natural e vem contornando os finais de semana das quebradas pelo Grajaú.

O dia que prestigiei aconteceu na Praça do Estudante, que fica em frente à escola estadual Professor Jacob Thomaz Itapura de Miranda e ao pronto socorro Maria Antonieta, famoso no fundão do Grajaú. Ambos são conquistas da luta dessas mulheres, que assistem à interpretação de parte de sua história na rua.

A arte ganha um sentido muito potente nesse festival. A presença de uma matriarca ali nos faz assistir as peças e olhar pro seu rosto com lágrimas nos olhos ou em risadas.

O festival tem o nome de “Grajaú é a cidade”.

De alguma forma me lembrou muito a pixação que eu via sempre que voltava pra casa: “Onde a cidade começa”. Essa sentença ficou na minha mente depois.

O teatro que se relaciona com uma territorialidade periférica tem a capacidade de disputar as narrativas da formação de São Paulo, da construção da cidade e de sua história em constante movimento.

Viva as matriarcas vivas sendo homenageadas na praça pública que ajudaram a construir!

Asè pra Cia. Enchendo Laje .

Anotaí! As últimas apresentações acontecem às 15h deste sábado e domingo (29 e 30/6), homenageando respectivamente Maria Vilani, escritora, professora e fundadora do CAPSArtes; e Nalva Maria, jornalista, fotógrafa, participante do podcast E Agora, PEM?. Ambas acontecem na praça da rua Piraju, no BNH. Mais informações aqui.

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