“Gerar renda para sobreviver”: Por que crianças e adolescentes estão em situação de rua em SP?

“Gerar renda para sobreviver”: Por que crianças e adolescentes estão em situação de rua em SP?

Censo da Prefeitura paulistana revela maioria negra entre crianças e adolescentes nas ruas, com necessidade de ganhar dinheiro e algum vínculo com familiares

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Para 78,7% de crianças e adolescentes de 7 a 17 anos que estão em situação de rua na cidade de São Paulo, gerar renda para sobreviver é o principal motivador. A venda de algum produto (51,1%) ou da mendicância (43,2%) é o que as fazem ir para a rua. Desse total, 13,8% faz alguma atividade geradora de renda considerada gravíssima, como a venda de produtos ilícitos (6,3%), roubo ou furto (10%) e estão em vulneráveis à exploração sexual (2,1%).

É o que aponta o Censo amostral de Crianças e Adolescentes em Situação de Rua, realizado pela Secretaria de Assistência e Desenvolvimento Social (SMADS) da Prefeitura de São Paulo e disponibilizado nesta semana. Acesse aqui. O levantamento investiga a relação de sobrevivência da criança e adolescente com a rua, com aspectos relacionados a riscos sociais e utilização dos serviços públicos. A abordagem foi feita diretamente a crianças e adolescentes com idades entre 7 e 17 anos, ou responsáveis de crianças de 0 a 6 anos. Realizada entre agosto e setembro de 2022, a pesquisa fez 741 entrevistas.

Em julho do ano passado, o censo quantitativo já havia identificado 3.759 crianças e adolescentes em situação de rua na cidade de São Paulo, com crescimento nas periferias. Ao todo, 16,2% (609) estão em acolhimento em equipamentos da Prefeitura (Serviço de Acolhimento Institucional para Crianças e Adolescentes – SAICA, Centro de Acolhida Especial – CAE).

A geração de renda é motivador menor entre crianças e adolescentes dessa faixa etária que estão em algum serviço de acolhimento, em que conflitos familiares (11,3% do total) e vítimas de violência (12,5%) também aparecem como razões. Nesses espaços institucionais, as brigas com família (20%), violência dentro de casa (17,5%) e falta de local para morar (17,5%) são as principais razões para estar na rua.

Já as pessoas responsáveis por crianças de até 6 anos de idade dizem que o motivo delas estarem na rua é a venda de produtos lícitos (58,9%), seguido de mendicância (45,7%). Para dois terços (67,7%), levam as crianças para a rua por não ter onde deixá-las.

Quem são?

Segundo a pesquisa, a maioria de crianças e adolescentes entre 7 e 17 anos é do sexo masculino (63,7%). Já entre crianças até 6 anos, há presença maior o sexo feminino (53,2%). A amostra total revela que 44,4% se autodeclaram como pessoas pardas, 33,9% pessoas pretas, 20% pessoas brancas e o restante de outra raça/cor.

A maioria das crianças de 0 a 6 anos (40,8%) e das crianças e adolescentes de 7 a 17 anos (45,1%) mora na zona Leste de São Paulo, seguido do Centro da cidade no caso das crianças de 0 a 6 (34,7%) e da zona Norte quando a pesquisa se refere aos entrevistados de 7 a 17 anos (18,4%).

Entre as crianças de 0 a 6 anos, 43,2% tem familiar em situação de rua. Entre as que estão acolhidas em algum serviço da Prefeitura, o percentual foi menor (37,8%), enquanto é maior entre quem pernoita na rua (50%). Já entre quem tem de 7 a 17 anos, 69,9% tem outra pessoa da família em situação de rua.

Tempo na rua e vínculo familiar

A pesquisa também levantou o tempo em condição de rua de crianças e adolescentes. A responsáveis das crianças de 0 a 6 anos, perguntou-se há quanto tempo a criança estava na rua, e na maior parte dos casos (66%), a pessoa responsável respondeu que estava há um ano ou menos nesta condição. Na faixa etária seguinte, de 7 a 11 anos, tem-se 55% com 2 anos ou menos; e entre 12 e 17 anos, 49% com 3 anos ou menos.

Entretanto, entre quem pernoita nas ruas na faixa etária de 7 a 17 anos, a pesquisa revela que 50% começou a frequentar a rua com até 7 anos de idade. E esse início da situação de rua se deu, para 50,1%, com a companhia do pai ou da mãe. Para 21,9%, acompanhades de amigues.

Entre quem tem acima de 7 anos, 64% afirmam ficar sempre no mesmo lugar, sendo destaques o Museu de Artes de São Paulo (MASP), com 14,4%, e a Praça da Sé (12,8%).

Para 3 a cada 4 (73,8%) de crianças e adolescentes entre 7 a 17 anos que estão em acolhimento, ficar no SAICA é melhor do que na rua (73,8%). Já entre quem está em outras trajetórias de risco, dizem que a rua é melhor do que ficar casa (46,1%). Entre quem passa a noite nas ruas, 34% também dizem que é melhor do que o ambiente doméstico, enquanto 22,3% aponta que a casa era melhor.

Nos dois grupos levantados na pesquisa amostral, a manutenção do vínculo ocorre em mais de 80% dos casos. Apesar disso, quando o levantamento buscou aprofundar na compreensão da frequência com que o contato familiar ocorre, para quem pernoita na rua, 64,9% afirma que o contato é mais esporádico.

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