“Contra o Racismo, Eu Planto”: Reflorestamento em Parelheiros une memória ancestral, juventude e justiça ambiental

“Contra o Racismo, Eu Planto”: Reflorestamento em Parelheiros une memória ancestral, juventude e justiça ambiental

Em Parelheiros, no Dia Mundial do Meio Ambiente (5/6), aconteceu a primeira ação de plantio da campanha “Contra o Racismo, Eu Planto”. A meta é reflorestar 3 hectares de área verde no distrito, com o plantio de 10.639 mudas de árvores nativas da Mata Atlântica

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Tempo de leitura: 6 minutos

No pulmão da cidade de São Paulo, em Parelheiros (Extremo Sul), um cinturão verde se formou debaixo de um céu nublado. Ao som dos atabaques do coletivo Raízes do Tambor, o sol, a chuva e gente de todas as idades contribuíram no plantio de 1.000 mudas de árvores da Mata Atlântica, como araçá, pitanga, ipê e cambuci — semeando um presente coletivo, um futuro de sonhos e um passado sendo lembrado pela terra.

A ação faz parte da campanha “Contra o Racismo, Eu Planto”, organizada pelo Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio Comunitário (IBEAC) em parceria com a Cooperativa Agroecológica dos Produtores Rurais e de Água Limpa da Região Sul (Cooperapas).

A campanha tem como objetivo o plantio de 10.639 árvores nativas da Mata Atlântica em um terreno que antes era dominado por uma monocultura de pinus – espécie exótica invasora (EEI) trazida pela exploração madeireira.

O espaço foi doado ao IBEAC e à Cooperapas por meio de um termo de compensação ambiental durante a pandemia. Desde então, se tornou um bálsamo de imaginários possíveis, passando a ser preparado com estudo, cuidado e manejo para a regeneração do ecossistema local.

“Todos os nossos sonhos vão ser construídos nesse terreno. E o principal deles é devolver pra Mata Atlântica o que é da Mata Atlântica”, diz Laniela Feitosa, coordenadora do projeto Parelheiros Saudável, Territórios Abraçados, que esteve presente na ação de plantio.

10.639 não é por acaso. Esse é o número da Lei da História e Cultura Afro-Brasileira de 2003, que torna obrigatório o ensino da história africana e afro-brasileira nos currículos escolares e que, em 2008, foi alterada pela Lei nº 11.645 que também tornou obrigatório o ensino de história e cultura indígena.

“Devolver floresta para uma região onde estão os corpos pretos, os corpos indígenas, é uma ação antirracista”, diz Bel Santos Mayer, coordenadora do IBEAC.

O instituto atua desde 2008 no território com ações educativas, de incentivo à leitura e à preservação da memória. Por isso, a escolha de unir a luta por justiça social a ambiental é mais que necessária para garantir o bem-viver desta geração – que atualmente 60% é racializada, terceira maior do município, segundo o Mapa da Desigualdade 2023 –  e para as futuras.

“Para nós, o que interessa é que a comunidade possa viver essa floresta. Uma floresta que a própria periferia plantou com os seus parceiros”, diz Bel.

Plantando sonhos coletivos

O evento aconteceu das 08h30 às 16h e contou com a participação das crianças do CCA e de escolas do território, de agentes de saúde, representantes de agentes de proteção ambiental (APAs), mães mobilizadoras, organizações parceiras e voluntáries de várias partes da capital.

“É muito emocionante estar aqui nesse lugar enquanto comunidade e olhando para a preservação, para a coletividade, unindo forças, fazendo com que a gente possa transformar o nosso território ainda mais”, partilha Maria Amorim, moradora do Jardim São Norberto, em Parelheiros.

“Quem tá fazendo isso é a comunidade. A gente não faz para a comunidade, a gente faz com a comunidade”, reforça Laniela.

A agricultora Valéria Maria Macoratti, presidente da Cooperapas, se assustou ao ter o terreno.

“A gente olha aqui, parece que teve uma explosão. No primeiro instante me senti mal. Mas quando eu olhei que a gente ia fazer um desmatamento do bem, mudou essa visão”, diz ela. “Um terreno que para o agro é uma coisa minúscula, para gente é uma riqueza muito grande”, continua Valéria.

O pinus é uma planta não nativa que é a segunda mais consumida na cadeia produtiva da madeira. Seu cultivo, ao competir com espécies próprias do bioma, pode se propagar e gerar um desequilíbrio ambiental, causando a extinção de espécies da fauna e flora local, a improdutividade do solo e até afetar a disponibilidade de recursos como a água.

Valéria se tranquiliza a pensar no futuro a partir de agora, pois um ponto de esperança se acendeu

“Daqui a alguns anos, a fauna vai estar muito mais ativa aqui, vai ter alimento para gente, vai ter alimento para floresta, vai ter muita coisa linda”, diz Valéria.

Ela compartilha alguns sonhos coletivos para a área:

“Dentro desse espaço, nós vamos ter o espaço do IBEAC, que vai ter a biblioteca. Vai ter a nossa cooperativa, com a nossa sede, quem sabe a primeira agroindústria na região, transformando os alimentos. Também vamos ter um pátio de compostagem com a Cooperpac. Por que não?”

A campanha chega ao fim em 31 de agosto e ainda prevê duas ações de plantio até lá. Conheça o projeto e saiba como colaborar. 

Fotos: Vitori Jumapili / Arquivo IBEAC. Revisão: Thiago Borges

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