Sob o luar que iluminou a zona sul de São Paulo no último sábado (20 de julho), crianças, mães com bebês no colo, jovens com cerveja na mão, casais da terceira idade e até animais de estimação se encontraram em um escadão deteriorado para uma sessão de cinema.
Os 54 degraus que no dia a dia servem de passagem entre as ruas José Alves da Silva e Vermelino de Almeida – e, à noite, simbolizam perigo para quem opta por esse caminho – , se tornaram local de entretenimento para os moradores do Parque Nova Santo Amaro, no Jardim Ângela.
Com o intuito de se apropriar desse espaço público para exibir produções audiovisuais com temáticas pertinentes para a comunidade local, o Cine Degrau estreou com boa parte da escadaria ocupada.
O projeto foi financiado por meio de uma arrecadação feita na internet e é capitaneado pelos jovens fundadores da OCA – Agência de Criatividade, localizada na região.
Com a pipoca em mãos, algumas mães correram em casa para pegar cobertas e se precaver do frio que se aproximava. Sentadas sobre colchonetes providenciados para amenizar o duro do concreto, as pessoas se mantiveram atentas a um telão pendurado num suporte preso aos muros das casas vizinhas. Os olhos brilhavam.
Em exibição, dois filmes: o curta-metragem de ficção “Aquém das Nuvens”, da diretora Renata Martins, que conta a história de um casal de idosos; e o documentário “A Batalha do Passinho”, de Emílio Domingos, que narra o surgimento e ascensão do passinho, uma febre entre os jovens cariocas nos bailes funk. Nesse momento, alguns meninos não hesitaram em arriscar uns passos ali mesmo, no escadão.
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Opção
Moradora do bairro há 30 anos, a assistente técnica Leila Baeta diz que faltam opções de cultura e lazer para a população local. “O projeto é interessante porque é uma forma de trazer as pessoas para a rua e unir o povo”, diz ela, que levou o filho João Vitor, de 10 anos, para a sessão.
Nenhuma das 332 salas de cinema existentes em São Paulo fica no Jardim Ângela, segundo levamento do Observatório Cidadão. O cinema mais próximo está no Shopping Campo Limpo, a 10 quilômetros de distância, e o ingresso custa em média R$ 15.
Paulo Rogério Camargos Barbosa, 32 anos, saiu do Grajaú para prestigiar a estreia do projeto. “Já que é para enriquecer culturalmente a comunidade, acho importante comparecer”, observa.
Para os organizadores, o mais importante foi a apropriação do escadão pela comunidade. Um dos moradores mudou inclusive o traçado de um cano, que escoava água da chuva para o escadão.
“A gente não esperava tanto público e repercussão. Durante a semana, quando a gente veio testar os equipamentos, os vizinhos se envolveram, teve gente que doou a estrutura pra gente”, contaDeborah Pavani, uma das integrantes da OCA – Agência de Criatividade.
A ideia é realizar sessões mensais pelo menos até dezembro, sempre no terceiro sábado de cada mês. A próxima edição do Cine Degrau deve ocorrer no dia 17 de agosto, às 19hs, se não chover. O filme a ser exibido ainda não foi escolhido.
Thiago Borges