A partir das 14h desta segunda-feira (6/11), vários movimentos sociais se concentram em frente ao vão do MASP (na avenida Paulista, região central de São Paulo) contra o descaso da Enel diante do apagão na cidade, que quase 72 horas depois da interrupção do serviço ainda deixa milhares de pessoas sem luz. O problema ainda persiste em bairros do Campo Limpo, Capão Redondo e Parelheiros (na zona Sul), além de localidades nas zonas Leste, Norte e Oeste da capital paulista.
O ato é convocado pelo Movimento Atingidos por Barragens (MAB), Movimento pela Regularização Fundiária Urbana (MRFU), Central de Movimentos Populares (CMP), Movimento pelo Direito à Moradia (MDM), Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL), União Brasileira de Mulheres (UMB), entre outros.
Na noite de domingo (5/11), a população da Vila Califórnia (zona Leste) já havia protestado contra a concessionária de energia interditando a avenida Engenheiro Thomaz Magalhães. Já quem mora no Jardim São Judas, no município de Taboão da Serra, colocou fogo em objetos interditando ruas do bairro.
Desde sexta-feira (3/11), quando um temporal atingiu a região metropolitana com rajadas de vento de 100 km por hora e derrubou postes e árvores, 2,1 milhões de pessoas ficaram sem o fornecimento de energia elétrica em 23 municípios. A interrupção no serviço causou transtornos como queda no sinal de internet e telefonia móvel, perda de eletrodomésticos e alimentos e medicamentos que estragaram, além do cancelamento de aulas, atividades e fechamento de comércios.
Sem respostas na central de atendimento, a Enel informa que vai reestabelecer totalmente os serviços até amanhã (7/11). Até a manhã de hoje, pelo menos meio milhão de pessoas continuavam sem o fornecimento de energia elétrica. Segundo a empresa, 70% de clientes na região metropolitana tiveram a normalização do serviço.
Privatização
A Eletropaulo, então companhia de energia elétrica do Estado de São Paulo, foi privatizada em 1999 e comprada por um consórcio formado por empresas norte-americanas, como a AES. O grupo elevou as tarifas do serviço, mas manteve parte da estrutura estatal.
Em 2018, a operação na região metropolitana foi vendida para a italiana Enel. Desde então, as falhas no fornecimento têm se tornado mais recorrentes. Desde 2019 até o terceiro trimestre de 2023, a empresa havia cortado 36% das pessoas contratadas – caiu de 23 mil para 15 mil em quatro anos, considerando equipe própria e de terceirizadas. No mesmo período, a base de clientes aumentou 7%. Responsável pelo fornecimento de luz na capital paulista, a Enel argumenta que triplicou o efetivo, mas não dispunha de pessoal especializado para fazer todas as religações.
Após ser criticado por sumir diante do apagão e aparecer no camarote da Fórmula 1 no Autódromo de Interlagos, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) deu as caras para criticar a Enel nesta segunda-feira, cobrou mais agilidade na resolução do problema e disse que a privatização foi mal feita.
Nunes lembra que a Prefeitura depende do desligamento da energia elétrica para liberar as vias com mais de 125 árvores que caíram e que a administração municipal não tem gerência sobre a Enel – a empresa responde à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). O prefeito ainda disse que a privatização do serviço foi mal feita, que “precisa haver uma readequação desse contrato para essa questão das mudanças climáticas” e que, apesar de haver uma lei da gestão de Fernando Haddad (PT) que obriga o enterramento de fios elétricos na cidade, a concessionária recorreu ao STF alegando que só respondem à legislação federal.
Outro sumido, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) atribuiu situação a evento climático extremo e “sugeriu” que Enel indenizasse clientes que sofreram prejuízo. Na tarde de hoje, Tarcísio, Nunes e um representante da Aneel se reúnem no Palácio dos Bandeirantes com executivos das empresas privadas de energia elétrica.
O bolsonarista é um árduo defensor da privatização de empresas públicas e quer vender Sabesp, Metrô e CPTM. Em outubro, uma greve geral paralisou os serviços no Estado contra a entrega das estatais ao setor privado.
Já o governo federal, por meio do Ministério da Justiça, vai notificar a empresa. “O Ministério da Justiça, por meio da Secretaria Nacional do Consumidor, vai notificar a concessionária de energia elétrica em São Paulo para explicar a interrupção nos serviços essenciais. Outras iniciativas serão anunciadas pelo secretário (Wadih Damous)”, escreveu o ministro Flavio Dino nas redes sociais.
Diante da ineficiência da empresa privada, ganha força na Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Enel. Desde maio, existe uma comissão que investiga a venda da Eletropaulo para a companhia. E segundo a CNN, na Câmara Municipal de São Paulo, mandatos também articulam uma investigação.
Redação PEM