Aos 87 anos, dona Maria de Lourdes Ferreira continua com samba no pé. Moradora do Alto da Lapa, ela ainda desfila nos carnavais paulistanos pela velha guarda da Camisa Verde e Branco, sua escola do coração, e não dispensa um batuque.
“Onde tem alguém batendo palma, eu pulo no meio pra sambar. O samba corre na veia”, diz dona Maria de Lourdes que, nesta quarta-feira (28 de agosto), literalmente pulou no meio da roda dos sambistas.
Ela foi atração do show da Comunidade Samba Vela, que aconteceu no auditório do Centro Cultural São Paulo (CCSP), na Liberdade, e faz parte da programação do Encontro Estéticas das Periferias.
Como nas tradicionais rodas de samba que toda segunda-feira reúnem pelo menos 150 pessoas na Casa de Cultura de Santo Amaro, o Samba da Vela desta quarta começou quando a vela foi acesa. Ao seu redor, músicos e público dançaram e cantaram composições inéditas.
Celeiro do samba
Fundado em 2000 por quatro sambistas da região de Santo Amaro, zona Sul de São Paulo, o Samba da Vela surgiu com objetivo de resgatar e dar visibilidade aos compositores de samba tradicional, como o de terreiro e partido alto, entre outras vertentes.
“Além disso, é uma forma do compositor mostrar sua obra diretamente para o público”, conta Chapinha, que há 32 anos ingressou no samba por meio da Vai Vai e é um dos criadores do Samba da Vela.
A cada semana, pelo menos 25 compositores comparecem à roda de samba. Em 14 anos de existência, mais de 300 compositores foram revelados e 1,5 mil canções lançadas, o que tem ajudado a renovar o samba paulistano. Algumas dessas músicas foram gravadas por artistas renomados, como Jair Rodrigues e Beth Carvalho.
Ao contrário de outras comunidades, no Samba da Vela não há venda de comes e bebes. No máximo, uma sopa é servida no final. A música é protagonista. “Assim, o sujeito fica mais lúcido até para dar atenção ao samba que está sendo executado”, explica Chapinha.
Às 21h30, uma hora e meia após o início da apresentação do Centro Cultural, a chama se apagou. A vela que dá nome ao projeto funciona como cronômetro. Então, quando ela se apaga, o samba também termina. Mesmo sem saideira, dona Maria de Lourdes voltou mais feliz para casa. Afinal, segunda-feira tem mais.
Redação PEM