O que é diversidade cultural? De agosto a dezembro, a periferia de São Paulo se une a povos de terreiro e indígenas para discutir o que está relacionado às práticas e modos de vida dessas populações na zona sul da capital paulista.
“O que queremos é pautar políticas públicas voltadas para atender povos periféricos e tradicionais, e ao mesmo tempo causar encontros, nos conhecermos mais”, explica Rafael Mesquita, militante da União Popular de Mulheres (UPM) do Jardim Maria Sampaio e Adjacências. “Temos que entender nosso País como pluricultural”.
O Percurso em Defesa da Diversidade Cultural tem como objetivo fazer uma análise de conjuntura para avaliar as políticas públicas que são “executadas” no município. Em agosto, o tema foi “Economia Solidária”. Em setembro, a pauta serão os “Direitos Humanos”. O resultado da construção do percurso será o Observatório Popular de Direitos, em dezembro.
Neide de Fátima Martins Abatti, fundadora e presidente da UPM, deixou claro que esse encontro é consequência de um caminho de lutas para uma sociedade mais justa. “Quantas mulheres ainda são vítimas de violência? Nossa casa que era para atender 150 está atendendo 200 mulheres e nós precisamos continuar lutando para isso mudar”, ressalta.
Para o Mestre Aderbal de Ashogun, da comunidade de terreiro Ilê Omiojuaro, essa é uma oportunidade de se fortalecer junto aos povos indígenas que, assim como os negros, participaram da construção do Brasil mas que até hoje não têm cidadania a ser exercida.
“Continuamos sendo taxados de feiticeiros, de ignorantes, de monstros sacrificadores de animais, porque há uma confusão drástica do que é religião e do que é cultura. Quando a gente escuta as pessoas falarem dos povos tradicionais de matrizes africanas só se referindo à religião, isso para nós é reduzido todo o complexo cultural que tem sua língua, sua gastronomia, sua medicina, sua cosmovisão”, aponta Mestre Aderbal.
“A gente vê a nossa cultura ser explorada por uma Ivete Sangalo, uma Cláudia Leite que fala ‘axé, axé’ toda hora. ‘Axé’ quer dizer força vital, aí vira ritmo que não expressa nossa cultura. E não é porque a pessoa é branca, azul ou cor de abóbora não. É porque não é um indivíduo cultural de matriz africana. Então, seria ético se boa parte desse direito que recolhe, que voltasse para ser investido nas comunidades tradicionais. Isso é economia das culturas”, questiona ele.
Espaço
Professora indígena da aldeia guarani Tenondé Porã, Poty Poran critica a pouca visibilidade que a violência contra os índios recebe da mídia.
“Entre 2012 e 2013, mais de 500 indígenas foram assassinados no Brasil. Sendo que a maioria é guarani kaiowá, que foi pela disputa de terra. E isso você não vê o Datena falando. Em um ano, dois indígenas morrendo por dia e isso não se fala, não se vê. No dia 9 de agosto nós fizemos um protesto na Avenida Paulista e eu não vi ninguém falar disso”, salienta ela, que acrescenta que muitas pessoas pensam que os indígenas existem apenas na Amazônia, em parques como o Xingu.
“ Esse povo não sabe que, aqui na capital, existem três aldeias demarcadas, mas ainda existem os chamados indígenas urbanos que não têm terra demarcada. No Real Parque tem cerca de 5 mil indígenas Pankararu”, aponta Poty Poran, que lembra que São Paulo é o segundo estado com maior número de índios no Brasil.
“São migrantes, pessoas estão sendo expulsas de suas terras, porque a ganância do ser humano, do não indígena, acaba expulsando os povos tradicionais”, completa Poty Poran.
Aline Rodrigues