Clubes de troca: escambo na prática nas periferias de São Paulo

Esses clubes também influenciaram a criação de bancos comunitários e moedas sociais, que têm o objetivo de fortalecer a economia local de comunidades pobres.

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Cachecóis, camisetas, livros, CDs, produtos eco-sustentáveis, artesanato indígena e até comida. A quantidade de itens para serem trocados é grande no clube de trocas do CEU Casablanca, na Vila das Belezas, zona sul de São Paulo.

A feira foi realizada durante o encontro sobre economia solidária que abriu o Percurso em Defesa da Diversidade Cultural, que tem como objetivo fazer uma análise de conjuntura para avaliar (a partir do resultado desta experiência), as políticas públicas que são “executadas” no município. O resultado da construção do percurso será o Observatório Popular de Direitos, em dezembro.

O modelo dessa feira vem da Argentina, onde a crise econômica na década de 90 propiciou o surgimento desses clubes que substituiam o peso (moeda oficial) pelo escambo. Desdeentão, mais de 10 milhões de argentinos já participaram desses clubes.

A primeira experiência no Brasil ocorreu em 1998, no bairro de Santa Terezinha (Pedreira, zona sul de São Paulo). Além desses, há clubes de trocas em Santo Amaro (próximo ao terminal de ônibus), no CEU Casablanca (Vila das Belezas) e embaixo do Viaduto do Glicério (centro), que chega a reunir mais de mil pessoas por mês.

Esses clubes também influenciaram a criação de bancos comunitários e moedas sociais, que têm o objetivo de fortalecer a economia local de comunidades pobres.

O objetivo dos clubes de trocas é estimular as trocas entre as pessoas como forma de facilitar o acesso a diferentes bens e serviços, que muitas vezes não estão disponíveis por conta da necessidade do lucro imposta pelo mercado, segundo o organizador Carlos Henrique de Castro.

Realizada todo segundo sábado do mês, o clube de trocas do CEU Casablanca reúne entre 40 e 50 pessoas interessadas em trocar itens novos ou em bom estado: de artesanatos até sessões de massagem.

“Nossa intenção é pegar coisas que não estão utilizadas em casa que podem servir para outras pessoas”, explica Fabiano Oliveira, um dos organizadores. “Todo mundo quer consumir, mas o cenário é que a única forma de se fazer isso é trabalhar e acumular dinheiro. O que queremos mostrar é que é possível consumir sem passar pelo lucro”.

Um dos grupos participantes é do Núcleo de Convivência do Idoso (NCI) Vida Ativa, do Jardim Lídia, periferia sul de São Paulo.

“O que produzimos podemos levar, mas algumas mulheres doam os artesanatos para a venda, o dinheiro é para ajudar no aluguel do NCI”, diz Maria Valdeci, 67 anos, que é oficineira no núcelo.

Para a coordenadora do NCI, Ana Gabriela Pudenzi, o clube é uma oportunidade para mostrar para os outros grupos e movimentos populares da região que os idosos existem e estão na ativa – além de angariar fundos para manter o núcleo.

“Elas já estão acostumadas a fazer bingos, festas, a todas essas possibilidades que a comunidade, a periferia está acostumada a fazer para arrecadar dinheiro. E isso nos une, porque a gente tem que se manter como grupo, senão a gente não vai ter o espaço”, completa Ana Gabriela.

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