Foto Joseh Sillva
Usar a camisa que já foi do primo mais velho, trocar um bem que não utiliza mais, ajudar a encher uma laje. Práticas comuns do dia a dia de muitas quebradas, hoje isso é chamado de economia solidária.
“A economia solidária tá no nosso dia a dia: desde fazer vaquinha para formar uma pessoa na univesidade, até mutirão para construir casas ou levar alguém no hospital sem cobrar nada”, explica Rafael Mesquita (FOTO), militante da União Popular de Mulheres do Jardim Maria Sampaio (UPM), periferia da zona sul de São Paulo. “Nossa pauta não é o dinheiro, mas as pessoas”, continua.
A economia solidária foi tema dos dois primeiros debates do Percurso em Defesa da Diversidade Cultural, que tem como objetivo fazer uma análise de conjuntura para avaliar (a partir do resultado desta experiência), as políticas públicas que são “executadas” no município. O resultado da construção do percurso será o Observatório Popular de Direitos, em dezembro.
“A gente construiu uma economia própria, somente há pouco tempo reconhecida pelo estado”, observa Rafael, que reivindica mais fomento a essa práticas econômicas.
Apesar de existir desde que as pessoas começaram a viver em sociedade, a economia solidária é uma coisa nova enquanto política pública.
Criada em 2005, a Secretaria Nacional de Economia Solidária (Senaes) do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) tem por objetivo fomentar iniciativas como associações e cooperativas que gerem trabalho e renda de uma forma horizontal, igualitária.
“A economia solidária tem a proposta de um desenvolvimento pautado pela democracia, tanto na esfera da produção quanto no consumo”, explica Diogo Jamra Tsukumo, chefe de gabinete da Senaes.
A secretaria investe na capacitação de quem atua com a economia solidária.
Um exemplo é o Banco Comunitário União Sampaio, criado em 2009 pela União Popular de Mulheres para estimular a economia local através de empréstimos a comerciantes e créditos aos consumidores.
Para isso, foi criado o “sampaio”, uma moeda social com paridade relativa ao real que é aceita no comérico local.
Em todo Brasil, há pelo menos 103 moedas sociais – como árco-íris, maracanãs, sabiás –, que são geridas por bancos comunitários criados por moradores de periferias, quilombos, aldeias indígenas e assentamentos de reforma agrária.
O primeiro banco do tipo é o Palmas, criado em 1998 no Conjunto Palmeiras, um bairro pobre de Fortaleza, no Ceará. Na ocasião, foi constatado que os 25 moradores da comunidade consumiam R$ 1,2 milhão por mês, mas 80% desse montante era gasto fora do bairro.
Com a criação da moeda social, o cenário se inverteu: 15 anos depois, 80% dos gastos com consumo acontecem na própria comunidade.
Aline Rodrigues