Reportagem de André Santos. Captação e edição de imagens: Pedro Salvador. Edição de texto e revisão de roteiro: Thiago Borges. Artes: Rafael Cristiano
Muito se fala na cadeirada de Datena (PSDB) em Pablo Marçal (PRTB), mas será que é isso mesmo que vai ficar dessas eleições? E será que as pessoas se lembram em quem votaram nas eleições passadas? Conhecem bem o que faz uma pessoa que assume uma cadeira na Câmara Municipal? Estão interessadas na campanha eleitoral? O que acham que é prioridade na gestão pública?
O primeiro turno das eleições municipais acontece no próximo dia 6 de outubro. E para saber se o público está ligado na disputa e questionar o povo sobre isso, a equipe da Periferia em Movimento esteve nas proximidades do Terminal Grajaú (Extremo Sul de São Paulo). Confira no vídeo:
“Quero distância”
Campanha eleitoral em 2022 (foto Pedro Salvador)
Apesar de demonstrar preocupação com a melhoria de setores essenciais da sociedade, como a educação, saúde, habitação e segurança pública, é notório que de forma geral a população mantém certa distância do assunto, e por vezes age como se a política fosse parte de outra realidade.
Nossa equipe sentiu grande resistência ao tema por parte da maioria das pessoas abordadas, o que se refletiu em um grande número de negativas de entrevistas, justificadas sob o desconhecimento de assuntos relacionados à política institucional.
“Cara, de verdade, eu nem me ligo muito em política. Nem me preocupo muito com as coisas desses caras porque ninguém tá fazendo nada pela gente. Fica bem difícil você falar de um prefeito, de um governador, de um presidente sendo que na sua visão tá tudo falho, tudo caro”, afirma Cláudio Torre, uma das pessoas que aceitaram conceder a entrevista.
Thiago Siqueira, de 17 anos, segue uma linha de raciocínio similar. Essas são as primeiras eleições em que o jovem está apto a participar de todo processo eleitoral, mas ele declara não saber especificar as funções de um vereador ou do prefeito da cidade por ‘não acompanhar as eleições’.
“Não gosto muito de política porque pra mim a política é totalmente errada. Todos os políticos, seja presidente, vereador, prefeito, governador, entre outros… A questão é que eles desviam dinheiro do nosso País, tiram de onde não tem pra colocar no bolso deles. Tiram da saúde, da educação, da segurança…”, desabafa Thiago Siqueira.
Pautas prioritárias
Agente de saúde falando sobre o bairro para as médicas. Saúde é uma pauta prioritária (foto Pedro Salvador)
Apesar do baixo engajamento com o período eleitoral, que ditará o rumo da cidade pelos próximos 4 anos, as pessoas entrevistadas apresentaram ideias similares em relação ao que deve ser priorizado na próxima gestão. Os tópicos mais citados foram saúde e educação, seguido da segurança pública e habitação.
O entrevistado Davi reclamou dos constantes processos de restauração do asfalto. Ele afirma que muitas vezes essas obras são feitas sem necessidade com o único intuito de “tapar a boca do povo”.
A reportagem da Periferia em Movimento observou, durante caminhadas pelo Grajaú, a presença de placas que parabenizaram o atual prefeito da cidade pela reestruturação das ruas do bairro BNH, fato que corrobora as falas de Davi. Além disso, o entrevistado apontou que é preciso focar no que realmente importa para que a população seja efetivamente beneficiada.
“Tem que ir no ponto chave da parada. Igual eu falei, é educação e saúde, que sem isso ninguém vai pra lugar nenhum. Isso, infelizmente, não está tão bem assim”, diz Davi.
Karina, que também foi ouvida durante as gravações, segue pela mesma linha. Para ela, que tem uma filha que frequenta uma escola municipal, é importante ter um olhar mais atento também à saúde e educação, mas sem se esquecer de outros temas relevantes.
“A saúde está péssima, e a educação é precária. Fica a ‘deus-dará’, esperando o governo mandar verba porque faltam coisas dentro da escola, faltam professores. Tem muita coisa pra colocar no eixo”, conta Karina.
Já de acordo com Silvana, a prioridade máxima durante a próxima gestão municipal deve ser a segurança pública.
“Olha, eu olho muito pra segurança, que a gente precisa, e a segurança está zero. A saúde está uma calamidade, e junto da segurança são os principais problemas da cidade”, aponta.
A política no caminho
Apesar dessa distância da população em relação a um tema se apresenta complexo e cansativo, é a partir daí que os rumos da cidade serão definidos. Poucos dias após a gravação desse ‘Fala, Povo’, as ruas ao redor do Terminal Grajaú estavam tomadas por propagandas eleitorais. Além disso, houve uma passeata de um dos candidatos à Prefeitura – o mesmo que domina a paisagem do local.
No fim das contas, a política institucional sempre vai bater à porta para pedir votos. O que deve ser feito é verificar se aquela pessoa está ali pela própria conveniência ou se está de fato comprometida em promover melhorias em setores essenciais na vida de quem reside na cidade.
