8 de março no caminho para o trabalho: Ato em terminal de ônibus denuncia violência contra mulheres

8 de março no caminho para o trabalho: Ato em terminal de ônibus denuncia violência contra mulheres

Na manhã desta terça-feira (8/3), a ida ao trabalho foi um pouco diferente do habitual para quem passou pelo Terminal Grajaú (Extremo Sul de São Paulo). Confira fotos e relatos

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Tempo de leitura: 7 minutos

Por Camila Lima. Fotos: Pedro Ariel Salvador

Na manhã desta terça-feira (8/3), a ida ao trabalho foi um pouco diferente do habitual para quem passou pelo Terminal Grajaú (Extremo Sul de São Paulo). Para marcar este Dia Internacional de Luta das Mulheres, a coletiva Carolinas apresentou manifesto contra violência à mulher, distribuiu cartilhas com uma linha evolutiva da violência de gênero e apresentou uma proposta de acolhimento para mulheres que sofreram ou sofrem abusos.

O ato em si é uma denúncia da situação de mulheres nas periferias. A manifestação aconteceu das 6h às 8h da manhã, quando muitas trabalhadoras já iniciaram o dia. Muitas das transeuntes que foram abordadas para o recebimento dos folhetos estavam submersas em uma correria para o transporte público, sem conseguir sequer parar para conversar. Algumas poucas pessoas que ali pararam pediram mais de um panfleto para entregar em seus ambientes de trabalho – essas, em sua maioria trabalham, em ambiente educacional e relataram a importância deste ato.

Nós, mulheres, muitas vezes estamos inseridas em cenários exaustivos, com a correria para chegar no transporte bem cedo e cumprir cargas de trabalho que nos consomem de 8 a 9 horas por dia, voltar para casa e enfrentar mais uma jornada intensa que é cuidar da casa, crianças e muitas vezes dos nossos companheiros e agressores. 

É uma situação vivenciada por Laís Guimarães, uma das mulheres que compôs a ação de hoje e que relata o enfrentamento vivido em sua própria casa.

“Meu pai é um homem machista que trata  minha mãe bem durante 2 dias e, no restante do mê,  a trata muito mal. Minha mãe há anos vive esse relacionamento de dependência. O dinheiro dela vai todo na casa e para cuidar do meu pai. Já falei diversas vezes para ela o deixar e viver uma vida mais feliz”

Laís Guimarães, mulher negra de 26 anos e moradora do Grajaú

A própria entrevistada diz que passou por um relacionamento abusivo muito nova, aos 21 anos. Ela relata que seu ex-companheiro a agrediu verbalmente e que, quando passou a morar na mesma casa que ele, as agressões se intensificaram.

“Eu trabalhava com crianças e ele tinha ciúmes até delas. Quando estava em casa, era estressante. Ele do nada falava que eu estava pensando no meu ex. Em um desses seus momentos de ciúmes ele chegou a nos trancar em casa e falava que não iríamos mais sair dali. Tive que pedir socorro para as minhas amigas”, conta ela, que depois do episódio terminou o relacionamento e buscou apoio psicológico. 

“Encontrei no consultório  acolhimento e segurança. Através dessa minha psicóloga, conheci o trabalho das Carolinas e hoje faço parte de algumas ações junto ao coletivo,  com o trabalho acolhendo outras manas”.

Acolhimento

A coletiva Carolinas surgiu em 2015 por iniciativa da psicóloga Thais Fernanda Gonçalves de Lima, de 30 anos. O nome é uma homenagem a Carolina Maria de Jesus, mulher negra que criou crianças sozinha trabalhando como catadora de papel. Com seu livro “Quarto de Despejo”, Carolina ganhou notoriedade como escritora e se tornou referência na literatura. Hoje, a coletiva é formada por mulheres psicólogas, educadoras, sociólogas, navegadoras e diversas outras potências.  

Na época em que iniciou o grupo, Thais era educadora social em uma escola pública com adolescentes. Ao explorar o conceito de identidade familiar, ouviu relatos de violência doméstica apresentados por crianças e suas mães, o que levou ao enfrentamento dessa situação com mulheres e meninas por meio da coletiva.

O grupo aponta dados que mostram que a cada 2 minutos 5 mulheres apanham. Os casos de estupro voltaram a crescer em 2021 e 4 mulheres são vitimas de feminicídio por dia no Brasil. E nesses 2 anos de pandemia, 536 mulheres foram agredidas por hora.

“Os casos de feminicídio aumentaram muito. Aqui no território tivemos recentemente 2 casos muito violentos, e com isso a coletiva concluiu que existem muitas mulheres aqui que não entendem o que é uma agressão psicológica e como ela evolui para agressões físicas e até à morte”, explica Thais Fernanda.

As ações do 8 de março receberam o nome de  “Vozes de Carolinas Vivas”, com mais intervenções previstas para o dia. Às 17h, no Terminal Varginha, as mulheres seguem com entregas de cartilhas e apresentação do manifesto.E às 19h, no ‘Espaço Psi Cultural’, ocorre  uma roda de debates e autocuidado com conhecimentos da Avó. O espaço fica localizado na Rua Olímpio Soares de Carvalho, 21, no Parque Grajaú. 

Para saber mais sobre as atividades do dia acesse o instagram. O ato também foi realizado pela Roda de Afeto, Instituto Yabás, Consolidando Saberes, Receitas da Vó, Rede de Cuidado.

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