Em tempos de escova progressiva, ela quer fazer sua cabeça.
Mais conhecida como Peteca Dreads, Michelle de Paulo Souza defende o uso de dreadlocks para cultivar a ancestralidade africana e manter a naturalidade dos cabelos crespos.
“Eu uso meus dreads porque meu cabelo é crespo, e essa é uma forma de preservar minhas raízes”, observa.
É sobre o trabalho dessa dreadmaker que vamos falar em mais uma reportagem do “Cultura ao Extremo”, projeto realizado com apoio do programa Agente Comunitário de Cultura da Secretaria Municipal de Cultura de São Paulo que tem o objetivo de mapear e visibilizar as manifestações culturais no Extremo Sul.
Para saber mais e participar também, clique na imagem abaixo ou responda ao questionário no final da matéria.
Peteca passou os 30 anos de sua vida no Jardim Progresso, bairro do distrito do Grajaú (Extremo Sul de São Paulo) localizado às margens da represa Billings. Mas, durante a adolescência, costumava cruzar a ponte para participar de festas de música eletrônica.
Adepta do movimento clubber, aprendeu a fazer malabarismo com um amigo chileno, e ia para raves e semáforos para ganhar uns trocados.
Na convivência com artistas desse meio, majoritariamente homens e brancos, ela firmou sua identidade como mulher negra e periférica. E os dreadlocks, que já usava, foram ferramenta para isso.
Peteca abandonou os dreads de linha e começou a procurar por alternativas à cera e outros resíduos. Quando a internet ainda engatinhava no Brasil, ela já pesquisava links e vídeos gringos sobre essa prática etíope que se popularizou na cabeça dos rastafáris, entre eles Bob Marley, e começou a experimentar em seu próprio cabelo.
A artista criou um blog, utilizou o Orkut, My Space e outras redes sociais para disseminar suas técnicas. Em pouco tempo, muita gente começou a procurá-la para tirar dúvidas e receber dicas.
Os malabares e o cabelo estilizado já rendiam o apelido com o qual ela se apresenta até hoje, mas os dreadlocks ganharam mais importância há nove anos, quando ela ficou grávida e viu na técnica uma atividade profissional.
Desde então, ela mostrou seu trabalho em feiras e festivais, trampou em salões de cabeleireiros e cuidou de cabelos de gente conhecida, como o do músico Cotarelli, do grupo Funk Como Le Gusta.
Neste ano, Peteca abriu sua loja própria na garagem de casa. Na SOS Dreadlocks, ela faz em média dois “cabelos” por dia, vende produtos especializados e dissemina a cultura entre os clientes.
“O dread nada mais é do que uma forma de cultivar seu cabelo de forma natural, sem tratamento químico”, observa ela, que enfrentou a discriminação por conta das tranças com as quais ostenta sua origem negra.
Curiosamente, 70% dos clientes de Peteca são brancos e de fora das periferias.
“É foda, né? Por outro lado, eu vejo os irmãos e irmãs na quebrada usando mais o cabelo solto, mais black power, e isso também é uma vitória contra a chapinha”.
Futuramente, Peteca pretende realizar cursos sobre as técnicas e criar uma linha de produtos naturais para conservar os dreads. Porém, sem apoio do poder público e muito menos patrocínio privado, ela esbarra na falta de tempo e recursos financeiros para tocar os projetos.
Além disso, apesar da maior aceitação dos dreadlocks, ela ainda enfrenta o preconceito. “Tem gente que prefere ficar em pé no ônibus do que sentar ao meu lado”, diz.
Por isso, mais do que a questão estética, para Peteca manter os dreadlocks é um ato político.
Tudo sobre…
Peteca Dreads
Região de atuação: Jardim Progresso, Grajaú, Extremo Sul de São Paulo
Linguagens: Artes circenses, Dreadmaker
Temas abordados: Arte e cultura, Esportes e lazer, Saúde e bem estar, Culturas populares
Público principal: Todas as idades
Com quem se articula: Artistas locais e de outras localidades
Como se mantém: Recursos próprios
Maiores dificuldades enfrentadas no dia a dia: Recursos financeiros, Conhecimento sobre gestão
Contatos: pelo e-mail ([email protected]) ou site (www.sosdreadlocks.com.br)
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Thiago Borges
1 Comentário
Guerreira vitoriosa e em ascensão! Parabéns!