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Tempo de leitura: 3 minutos

por Carolina Piai, da Revista Vaidapé

“Hoje é um dia especial”.

Dizendo essas palavras, Renato Gama deu início ao show do Nhocuné Soul, na última sexta (29), no Centro Cultural São Paulo. A atividade fez parte do IV Encontro Estéticas das Periferias.

No decorrer da noite, o público, por vezes, se emocionou. Não é por menos: a banda ecoa o grito dos excluídos. Suas letras, porém, não falam apenas das mazelas sociais – são uma celebração da identidade negra. Nhocuné Soul impressionou a plateia com sua força e beleza: viam-se olhos admirados e samba nos pés. Nhocuné é uma mistura boa: tem samba, rap e jazz.

A importância daquele momento, para a banda, era inigualável. De acordo com Renato Gama, que fica na voz e no violão, tocar no Centro Cultural é crucial, pois é um espaço público, do povo. “Aqui é um lugar sagrado. Itamar Assumpção tocou aqui”, afirma, relembrando com apreço uma de suas grandes influências.

A noite, porém, também era de despedida. “O nosso baterista é um trabalhador como todos os outros da periferia e a música não banca todas as necessidades dele. Ele teve uma proposta para trabalhar em outro Estado e vai ter que ir. Esse é o último show dele enquanto Nhocuné Soul”, lamenta Renato. A falta de fomento à cultura das periferias é uma de suas grandes reivindicações. A marginalização desses artistas, porém, já se tornou rotina. “Isso é a vida, você vai sendo engolido todos os dias. É o capitalismo”.

A banda surgiu nas bordas da capital e busca o reconhecimento da identidade negra, historicamente excluída por esse sistema.

“Nhocuné é um bairro da periferia de São Paulo, na Zona Leste. Foi fundado em 1948 e era uma fazenda de escravos. Nesse lugar, os negros chamavam os donos de senhor coronel. E o negro fez uma corruptela disso: ‘nhonhocunê’. Depois, ficou ‘nhocunê’. E, então, ‘nhocuné’. As pessoas de lá tinham vergonha disso. E aí eu criei essa história de Nhocuné Soul, de identidade. Eu sou da Vila Nhocuné”.

Na sexta-feira todos esses temas vieram à tona com suas músicas. “Esses caras são bons demais”, “até me arrepiei”: balbuciava-se na plateia. A força negra ali se fez presente. Aquela noite foi, de fato, especial.

 

 

Cobertura Colaborativa Estéticas

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